Cinética: notas sobre biodiesel
Por Miguel Angelo Vedana
Você confiaria?
O Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA) é o órgão responsável por fiscalizar o
selo Combustível Social e é quem fornece os
dados oficiais de renda e produção dos agricultores
familiares envolvidos com o biodiesel.
Nos números divulgados pela instituição é
possível encontrar dados bem estranhos.
Por exemplo, sabe quantas famílias produziram
matéria-prima para biodiesel em Santa
Catarina? Duzentas e quatorze vírgula oito
(214,8). Como o governo conseguiu contabilizar
apenas um pedaço de família não se sabe,
mas pedaços de famílias aparecem no CE, PE,
PI, RN e RS. E sabe quanto ganharam sete famílias
que plantaram amendoim para biodiesel
em 2007? Quase R$ 1,525 milhão – cerca de
218 mil reais para cada família por ano. Uma
renda que deixaria qualquer agricultor familiar
de queixo caído. De outro lado, temos uma
renda anual média de irrisórios R$ 21,31 por
família para os 11.938 produtores de amendoim,
mamona e girassol da Bahia em 2008.
A última pergunta: você confiaria nesses
números?
Grandes players
Em certas rodas do biodiesel especula-se muito a entrada
de outras grandes empresas do setor de grãos.
Os nomes Bunge e Cargill são igualmente temidos e
aguardados – e, de certa forma, incompreendidos.
Quase ninguém entende a razão dessas empresas que
possuem forte atuação na produção de óleo de soja
estarem fora do promissor mercado de biodiesel.
Uma coisa é certa: não é a falta de lucratividade. Uma
outra empresa processadora de grãos, do mesmo
porte de ambas, está conseguindo boa rentabilidade.
Ela investiu cerca de 60 milhões de reais em sua usina
esperando que o investimento retornasse em pouco
mais de cinco anos. Contudo, o prazo foi revisto e o
retorno deve acontecer em menos de dois anos de
funcionamento.
Mesmo sabendo disso, Bunge e Cargill continuam de
fora do mercado brasileiro de biodiesel. A razão dada
por uma das companhias é a “instabilidade” desse
mercado.
O Estado do biodiesel
O Rio Grande do Sul, que vem se firmando como o
maior produtor de biodiesel do Brasil, terá mais uma
grande usina até o final deste ano. Tradicional no
comércio de óleos vegetais, a Olfar está construindo
uma usina com capacidade para produzir 198 milhões
de litros de biodiesel na cidade de Erechim. A construção
da usina ficou a cargo da Somar, que construiu as
usinas da Oleoplan e da Binatural.
Com mais essa usina, o Estado deverá ser o maior
exportador interno do produto, já que seu consumo
de biodiesel deve ser de apenas 140 milhões de litros
em 2010 e sua capacidade de produção será de 1,06
bilhão de litros. Aliás, com essa capacidade toda é
possível suprir 40% da demanda do B5.
Compra-se usina
Atenção vendedores de pequenas usinas e de fábricas
de rações. A Companhia Paranaense de Energia (Copel)
está preparando um edital para licitar a compra
de uma usina de biodiesel e uma fábrica de rações.
A primeira terá capacidade de produção de cinco mil
litros de biodiesel por dia e a outra deverá produzir
200 toneladas por dia.
No projeto, essa usina será a primeira de dezenas
que a Copel quer construir pelo Paraná e deverá ser
uma unidade laboratório. Nela serão feitas pesquisas
e testes para ver a viabilidade e o melhor método de
trabalho com os pequenos agricultores.