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Torta e farelo: Resíduo lucrativo


BiodieselBR.com - 05 out 2009 - 14:38 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:45
Produtores brasileiros aprendem a ganhar dinheiro com as tortas e farelos que sobram da extração dos óleos vegetais. Há quem use o material como biomassa, adubo ou ração animal

Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

O que a produção de cerâmica do Tocantins tem a ver com o programa nacional de biodiesel? Pode não parecer, mas a resposta está dentro dos fornos das empresas de cerâmica. Claro que os fornos não são movidos a diesel. Eles são alimentados, isso sim, com os resíduos dos grãos de pinhão-manso moídos pela Biotins, uma importante produtora de biodiesel do Estado.

O resíduo usado na alimentação dos fornos é conhecido como torta. Trata-se, na verdade, da parte sólida que resta do produto depois da moagem industrial – o processo que permite a extração do óleo levado às usinas para a produção do biocombustível. A torta tem alto valor energético e, queimada, ajuda os ceramistas a ter uma produção mais eficiente e limpa. “Existe uma restrição legal para essas indústrias em relação ao uso de carvão nos fornos”, explica Eduardo Bundyra, diretorpresidente da Biotins. Assim, a torta de pinhão-manso vem perfeitamente a calhar para a indústria local. E a venda do material é uma renda extra que ajuda a reduzir os custos de produção do óleo e do biodiesel.

O recente segmento de biodiesel no Brasil criou uma série de oportunidades de negócio. Algumas já estão sendo exploradas a pleno vapor. Outras têm sido descobertas ou aprimoradas com o tempo. Neste segundo grupo está o uso dos subprodutos do biodiesel, e o caso mais debatido talvez seja o da glicerina, que cada vez encontra mais mercado e mais usos. Mas ela não está sozinha.

As tortas e farelos também estão na lista de materiais que sobram nas mãos dos produtores. E, como ninguém gosta de perder dinheiro, produtores, técnicos e pesquisadores pensam atualmente em como transformar esses resíduos em matéria-prima cada vez mais útil – e mais rentável. Atualmente já se sabe que a maior parte das tortas pode servir para a indústria da alimentação animal, para a queima e produção de energia e para a fertilização de terras.

Nem é necessário falar que o caso da soja é um capítulo à parte. O farelo de soja já é uma commodity conhecida internacionalmente, com preço regulado pela Bolsa de Mercadorias de Chicago. É um dos mais importantes componentes da ração animal no mundo e movimenta bilhões de dólares a cada ano. Para os outros grãos, porém, o mercado ainda é mais tímido – mas nem por isso pouco promissor.

O caso do pinhão-manso é emblemático. A torta resultante da extração do óleo tem uma séria limitação no seu uso: o material tem substâncias tóxicas, como a curcina, e algumas de difícil digestão por ruminantes, como a lignina. Portanto, sem algum tratamento especial, não pode ser usado como ração animal, por exemplo.

Mesmo assim, a torta de pinhão- manso encontrou seu lugar no mercado. Além de ser usada em fornos, ela é vendida também como adubo. A Biotins utiliza parte de seu resíduo assim – sem nem mesmo eliminar o caráter tóxico do material. “O ideal é tirar a toxicidade, mas não é necessário. A torta não chega a contaminar o solo”, afirma Bundyra. A empresa vende o produto por um preço que varia de R$ 170 a R$ 200 por tonelada. Mas, em parceria com uma universidade local, busca alternativas para aumentar esse valor. Uma das idéias é conseguir que a torta libere seus componentes nutritivos na terra mais rápido do que ocorre atualmente. “O processo hoje é um pouco lento, ainda é possível melhorar”, diz Bundyra. Até o momento, a combinação usada para melhorar o resultado envolve a glicerina – coincidentemente, outro subproduto do biodiesel. Mas ainda é preciso encontrar novos componentes.

Seja como for, já há precedentes promissores para a utilização em diversas áreas. Uma pesquisa realizada na Malásia permitiu a venda do material para uso energético, com uma possível vantagem extra: está sendo estudada a possibilidade de se conceder créditos de carbono a quem trabalhar com o material. Isso seria um incentivo a mais para que os produtores adotassem práticas ambientalmente corretas. E representaria uma fonte de receita extra também – o que, certamente, não faz mal a ninguém.

A torta de pinhão-manso também está no cardápio de negócios da Fusermann, de Barbacena (MG). A empresa vende o material como adubo a R$ 300 por tonelada. Já os outros dois produtos – torta de caroço de algodão (R$ 250/t) e farelo de amendoim (R$ 550/t) – são comercializados pela empresa não como adubo, e sim como ração para animais. A própria empresa se encarrega de transformar o resíduo da moagem em ração, já ensacada e dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura.

“Temos como fornecer, na porta da fábrica, lotes de um a mil sacos”, diz Luciano Piovesan Leme, diretor-geral da empresa, que tem mais experiência vendendo óleo. Ele acredita que a venda das tortas pode ajudar na redução de custos e na competitividade do produto.