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Risco de entupimento: distribuidoras podem ter problemas


BiodieselBR.com - 10 nov 2007 - 15:51 - Última atualização em: 14 mar 2012 - 12:10
Nova especificação garante o uso do biodiesel de sebo, mas distribuidoras podem ter problemas durante o inverno

Por Fábio Rodrigues, de São Paulo

De modo geral, os produtores brasileiros de biodiesel têm o que celebrar com a resolução 07/08. Publicada em 19 de março pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a portaria estabelece novas regras para o produto que não apenas preparam o mercado interno para o B3 mas também nos deixam mais perto de entrar nos ricos mercados europeu e norteamericano. Mas, apesar da euforia, ao menos um segmento importante só pôde abrir um sorriso amarelo com a notícia: os distribuidores de combustíveis.

A razão do desconforto está no parâmetro que regula a temperatura mínima antes de um combustível começar a cristalizar, o chamado ponto de entupimento. Não devem ter sido poucos os distribuidores que sentiram um arrepio na espinha ao constatarem que a ANP havia autorizado os produtores a vender um produto que se solidifica a menos de 19ºC. “Quem já visitou os estados do sul sabe que essa é uma temperatura comum no decorrer do ano, e que obviamente tende a ficar ainda mais baixa durante o inverno”, adverte o químico Walber Tuler, da Distribuidora Potencial Petróleo Ltda.

Não significa que todo o biodiesel brasileiro congele tão logo os termômetros batam em 18,9ºC. Isso seria o caos. Na verdade, a performance do biodiesel a baixas temperaturas depende da(s) matéria(s)-prima(s). “Quanto mais pesado o éster do biodiesel, mais ele é sensível ao frio”, explica Fábio Di Legge, coordenador de negócios da Basf, uma das principais fabricantes de anticongelantes do planeta. “O B100 de soja congela a -1ºC, o de dendê a 10ºC. O sebo é o que mais dá problema. Dependendo do tipo de gordura, a temperatura de congelamento varia entre 10ºC e 18ºC”, completa, destacando que a performance final pode ser manipulada através do blend (mistura) de matérias-primas.

Colocar o biodiesel de sebo dentro da especificação parece ter sido uma das principais razões para a ANP ter adotado uma postura mais permissiva. A matéria-prima de origem animal vem ganhando o coração dos produtores num momento em que a cotação dos óleos vegetais ameaça atingir a estratosfera.

O receio dos distribuidores é que uma queda repentina nos termômetros faça o blend cristalizar dentro dos tanques e paralise as empresas. “A base primária onde o B100 da Potencial é armazenado tem uma capacidade estática de 700 mil litros. Se ocorrer algum problema com o produto estocado o prejuízo será considerável,” enfatiza Tuler, acrescentando que as soluções para remediar esse tipo de situação nem sempre estão ao alcance do bolso de distribuidoras pequenas ou médias. “Nossa preocupação é essencialmente com o biodiesel de sebo, que apesar da excelente estabilidade natural apresenta alta temperatura de ponto de entupimento, o que provavelmente dificultará seu manuseio no inverno, pois tende a iniciar a cristalização aos 15ºC. No caso de um eventual problema com o produto, estaríamos sem amparo legal para sermos ressarcidos,” conclui.

O problema, de natureza técnica, gerou uma nuvem de incerteza e deve ser resolvido antes do início da entrada em vigor da nova especificação, prevista para julho. De acordo com Di Legge, a Basf já completou os testes nacionais do Keroflux 9212, anticongelante desenvolvido para o mercado europeu que a empresa pretende começar a vender no Brasil. “Nosso produto consegue manter um blend com 40% de sebo e 60% de soja estável a até 7ºC. O que precisamos é que o mercado defina se é mais viável produzir com sebo e acrescentar nosso produto ou trabalhar com mais soja”, pontua.

Também em busca de respostas, Tuler resolveu conversar com vários representantes do segmento de biodiesel. “Não obtive nenhuma resposta conclusiva sobre o tema até o momento,” finaliza.
Tags: Entupimento