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Crambe

Tudo sobre o Crambe


BiodieselBR.com - 29 jul 2009 - 13:27 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:09

I. Histórico:

Acredita-se que o crambe (Crambe abyssinica Hochst.) seja nativo da região do Mediterrâneo. Seus grãos oleaginosos contêm um óleo não-comestível usado em produtos industriais. A planta é encontrada em áreas tropicais e subtropicais da África, no Oriente Médio, na Ásia Central e Ocidental, na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Foi cultivada pela primeira vez em 1933, na Estação Botânica de Boronez, na União Soviética, e desde 1949 faz parte de um programa de melhoramento na Suécia.

Nos Estados Unidos, foi introduzida pela Estação Agrícola Experimental de Connecticut, na década de 40. Em 1958, no Texas, deu-se início à avaliação de suas variedades. Desde então, a planta tem sido cultivada com sucesso em várias áreas dos Estados Unidos.

II. Usos:

O óleo extraído da semente de crambe é usado como lubrificante industrial, anticorrosivo e como ingrediente na produção de borracha sintética. O óleo contém 50 a 60% de ácido erúcico, um ácido graxo de cadeia longa usado na fabricação de películas plásticas, plastificantes, nylon, colas adesivas e material para isolamento elétrico.

O crambe está sendo promovido como nova fonte interna de ácido erúcico, que vem sendo obtido principalmente do óleo de colza importado. O suprimento de óleo de colza industrial tem sido deficiente desde que novas variedades (Canola) que não contêm ácido erúcico foram criadas. Os Estados Unidos consomem até 18 mil toneladas de óleo de colza com alto teor de ácido erúcico por ano, a maior parte importada da Polônia e do Canadá. Apesar de a colza ser cultivada no país, o óleo de crambe contém de 8 a 9% a mais de ácido úrico que o óleo de colza industrial, e a planta é mais bem adaptada às regiões de alta pluviosidade dos Estados Unidos.

A torta da semente de crambe desengordurada pode ser usada como suplemento protéico na alimentação animal. Feita com a casca, a torta contém 25 a 35% de proteína, e 46 a 58% quando a casca é removida. Possui um teor balanceado de aminoácidos, sendo aprovada pelo FDA (agência regulatória de alimentos e medicamentos dos EUA) para uso em rações de rebanho de corte, desde que corresponda a até 5% da ingestão diária.

A torta não foi aprovada para uso em rações de não-ruminantes, por conter glucosinolatos. Eles são quebrados no aparelho digestivo, formando compostos nocivos que podem causar depressão alimentar e lesões no fígado ou nos rins. Antes de ser tratada, a torta desengordurada pode conter até 10% de tioglucosídeos, substâncias tóxicas em animais não-ruminantes, como porcos e frangos. Entretanto, a enzima pode ser desativada submetendo-se o grão integral ao vapor quente antes do processamento, deixando os glucosinolatos intactos durante o processo de extração do óleo.  

III. Crescimento da planta:

O crambe é uma erva anual ereta de grande ramificação, da mesma família da colza e da mostarda, cuja altura varia entre 60 e 100 cm. Sob condições desfavoráveis, as plantas podem desenvolver raízes primárias longas, que mais tarde se tornam cônicas. As folhas são ovais, mas assimétricas. A lâmina da folha tem aproximadamente 10 cm de comprimento e 7,5 cm de largura, com superfície lisa; o pecíolo é canaliculado e pubescente (com pêlos), com cerca de 20 cm de comprimento. Inicialmente o crambe produz várias flores brancas pequenas e agrupadas, que depois se distribuem melhor pelas hastes de 30 a 60 cm.  Seus frutos esféricos carregam uma semente cada. A semente permanece na casca durante a colheita. Os frutos maduros são secos, não-decíduos (não caem) e indeiscentes (não abrem para liberar a semente). Sua cor vai do verde-claro ao marrom-claro. As sementes do crambe pesam aproximadamente 7 gramas por milhar, sendo 25 a 30% do peso relativo à casca.

IV. Requisitos ambientais:

A. Clima:
O crambe está amplamente adaptado e pode ser plantado como cultura de primavera no Meio-Oeste, Noroeste e Sudoeste dos Estados Unidos. É uma oleaginosa de clima frio, podendo tolerar temperaturas de até -5oC. Do plantio ao amadurecimento são necessários entre 90 e 100 dias. Apesar de relativamente tolerante à seca, as melhores colheitas foram obtidas em áreas úmidas. Embora requeira umidade adequada do solo durante a formação das sementes, períodos subseqüentes de seca levam a uma maior produtividade.

B. Solo:
Os solos mais apropriados para a cultura são férteis, bem drenados, de textura medianamente grossa a fina, com pH entre 6,0 e 7,0 (ou ligeiramente maior). Não tolera solos argilosos, úmidos ou encharcados.

C. Preparação e Germinação das Sementes:
Para maior produtividade, devem ser usadas sementes certificadas e livres de vírus. Elas podem ser tratadas com fungicidas ou mergulhadas em água, a 60oC por 20 minutos ou a 55oC por 30 minutos, para reduzir problemas com Alternaria brassicicola.

V. Práticas culturais:

O maquinário usado para aragem, plantio, pulverização e colheita do crambe é similar ao usado para outros grãos finos. Fazendeiros que já produzem grãos finos não necessitam comprar maquinário adicional para produzir crambe.

A. Preparação do solo para a semeadura:
O solo deve ser arado e depois trabalhado com uma grade e um compactador. O nivelamento e a compactação são em geral essenciais para a obtenção de um leito firme e nivelado e para assegurar uma profundidade uniforme para a semeadura. Solos contendo palha de soja foram gradeados e nivelados para o plantio, com resultados satisfatórios. Para plantio de crambe subseqüente ao de trigo ou cevada, a palha deve ser removida ou um picador deve ser acoplado à colheitadeira. O terreno pode então ser preparado passando-se a grade de discos sobre a palha do trigo. Esse método ajuda a conservar a umidade do solo.

B. Época de Semeadura:
O crambe pode ser plantado tão logo não haja risco de as temperaturas caírem abaixo de -5ºC, ou seja, da metade até o fim de abril no Wisconsin e no sul do Minnesota, e do fim de abril até o começo de maio no norte desses Estados.

C. Métodos e densidade de semeadura:
O crambe pode ser plantado a lanço ou em linhas, dependendo do equipamento disponível. Na semeadura a lanço, uma semeadora de grãos finos ou com compactador pode ser usada. Como o crambe semeado a lanço não pode ser manejado, ele deve ser plantado em campos onde não haja problemas com ervas-daninhas.

Quando o crambe é plantado em linhas com espaçamento entre 50 e 75 cm, pode-se usar uma semeadora de milho com discos dosadores de milho ou soja. O plantio em linhas resultará em uma emergência mais uniforme, menos perdas devido a escrostamento do solo e menor gasto com sementes. Além disso, linhas estreitas promovem uma ramificação reduzida e um amadurecimento mais uniforme. Produtividades aceitáveis foram registradas para espaçamento entre 15 e 90 cm. Entretanto, em lugares onde as ervas-daninhas não sejam um grande problema, linhas com espaçamento entre 15 e 30 cm produzem colheitas maiores. O crambe plantado com espaçamento superior a 75 cm tende a se acamar, tornando a colheita mais difícil.

A profundidade de plantio é um fator essencial para a obtenção de boas safras de crambe. As sementes devem ser plantadas à profundidade de 0,6 cm em regiões úmidas e até 2,5 cm em áreas mais secas. Semeadoras com compactador são uma ótima opção para enterrar as sementes em uma profundidade adequada. A quantidade recomendada de sementes é de 11 a 22 kg/ha (10-20 libras/acre).

D. Exigência de calagem e nutrientes:
Em geral, as recomendações de fósforo e potássio para grãos finos são adequadas também para o crambe. Para fósforo e potássio, cerca de 50 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de K2O são recomendados. O crambe também responde à fertilização com nitrogênio, com cerca de 90 a 112 kg/ha de N efetivo recomendados. O nitrogênio de leguminosas e estrume deve ser levado em conta quando for o caso. Como a canola, o crambe pode responder ao enxofre (22,5 a 28 kg/ha) em solos com baixo teor de enxofre.

E. Seleção de variedades:
O número de variedades de crambe disponíveis para produção comercial é limitado. A Meyer é a única disponível em quantidade suficiente para produção comercial. Outras variedades registradas, como Belann, Belenzian, Indy e Prophet, não são fornecidas comercialmente. Três variedades de crambe foram testadas em quatro locais na Dakota do Norte em 1990 (Tabela 1). A produção de grãos e outras características agronômicas do crambe foram avaliadas em Minnesota entre 1960 e 1974 (Tabela 2).

Tabela 1. Produtividade relativa de variedades de crambe em Carrington, Dakota do Norte, 1988-90.

Variedade

2.236-2.239 kg/ha

2.239 kg/ha

Belann

2.447

1.673

Belenzian

2.559

1.608

Meyer

1.942

1.522

Fonte: Crop Production Guide 1991. North Dakota State University Extension Service, Fargo, ND 58105.

Tabela 2. Sumário de dados do desempenho do crambe em Rosemount, Minnesota, 1960-19741.

Variedade

Ano(s)

Data de amadure-cimento

Altura (cm)

Acama-mento2

Peso da semente (g/milhar)

Peso do bushel (kg/bu)

Teor de óleo (%)

Produção (kg/ha)

desconhecida

1960-62

08/08

115

5,1

5,9

10,8

35,3

1.686

MN24427

1963

02/08

110

4,7

5,8

10,6

28,7

1.068

Indy

1967

27/07

97

2,0

6,4

11,5

27,8

1.501

MN24427

1967

07/08

102

5,7

7,9

10,5

32,0

1.366

Crookston 65

1973

28/07

92

3,0

6,7

9,45

31,5

1.836

Prophet

1973

25/07

95

2,4

7,0

10,1

32,0

2.205

Indy

1973

20/07

82

1,7

5,7

10,8

29,7

1.053

Meyer

1973

20/07

85

3,0

7,0

10,2

30,8

2.053

Meyer

1974

25/07

102

1,3

---

10,7

30,8

1.627

1 Fonte: R. G. Robinson and D. H. Putnam, Dept. of Agronomy and Plant Genetics, University of Minnesota, St. Paul, MN.
21 = ereta, 9 = horizontal.

F. Controle de ervas-daninhas:

A competição com ervas-daninhas pode reduzir a produção de crambe significativamente. Eis algumas que podem causar problemas: Portulaca, Alopecurus, Polygonum, Chenopodium, Ambrosia, e Kochia.

O plantio uniforme e adensado do crambe é uma forma eficaz de controle de ervas-daninhas. O plantio iniciado mais cedo também aumenta a capacidade de competição do crambe, já que elas precisam de uma maior temperatura do solo para germinação. Entretanto, à medida que a plantação se desenvolve, as ervas-daninhas podem ultrapassá-la em altura, dificultando a colheita e aumentando a umidade das sementes de crambe colhidas. O controle de ervas-daninhas pode ser feito no crambe com espaçamento de 50 a 75 cm.

Não foi registrado nenhum herbicida para uso no crambe nos Estados Unidos. O crambe é bastante suscetível a lesões por aplicação de 2,4-D e aos efeitos residuais da atrazina.

G. Controle de Doenças:

A doença mais séria do crambe é causada pelo Alternaria brassicicola. Este fungo causa o escurecimento da semente e dos caules e reduz a germinação de sementes. O crambe também é suscetível ao vírus do mosaico do nabo (TuMV). O uso de sementes de alta qualidade é a melhor defesa contra doenças. As sementes também podem ser tratadas com fungicida ou água quente (conforme descrito na seção de preparação de sementes) antes do plantio.

H. Controle de Insetos e Outros Predadores:

As sementeiras de crambe podem ser atacadas por besouros-saltadores (família Chrysomelidae) e pulgões (afídeos). Não há inseticidas registrados para o controle de insetos no momento. De qualquer forma, sua aplicação deve ser evitada durante a floração, devido ao valor benéfico dos polinizadores.

I. Colheita:
À medida que o crambe se aproxima do amadurecimento, as folhas se tornam amareladas e caem. Alguns dias depois, os ramos e as cascas das sementes adquirem a cor de palha. Quando os ramos com sementes mais inferiores mudam de cor – geralmente entre 90 e 100 dias após o plantio – eles estão prontos para a colheita. Se a colheita for protelada até que todas as sementes mudem de cor, há um maior risco de infecção da planta por Alternaria brassicicola, e suas sementes ficam mais suscetíveis à quebra. 

O crambe pode ser colhido com uma colheitadeira padrão com peneiras reguláveis. Se as plantas estiverem eretas, devem ser cortadas 30 a 45 cm acima da superfície do solo. A casca das sementes deve ficar intacta. A velocidade do cilindro recomendada é entre 400 a 500 rpm, com vão livre côncavo de 1 cm. A ventoinha deve ser ajustada para menos de 500 rpm, com o mais baixo fluxo de ar possível; jamais desconecte a ventoinha de modo a interromper a corrente de ar. Ajuste o cilindro de corte para se mover ligeiramente mais rápido que a velocidade da colheitadeira para minimizar a fragmentação. A semente de crambe é pequena, redonda e bastante leve. Para evitar perdas, deve-se transportá-la em compartimentos sem rachaduras ou buracos, e o carregamento deve ser completamente coberto com uma lona.

J. Secagem e Armazenamento:

A umidade do crambe não deve ser inferior a 10% antes do armazenamento. Antes de serem estocadas, as sementes devem ser passadas por sobre um separador (pré-limpeza) para que os resíduos sejam removidos. Estoque as sementes em silos limpos e sem insetos, com pisos perfurados e um ventilador. Silos de milho são bastante adequados para o crambe.

Mesmo que as sementes estejam secas na colheita, podem conter pedaços verdes de ervas-daninhas e gramíneas, assim como partes de insetos. A umidade desses resíduos pode fazer com que as sementes se aqueçam em pouco tempo. Para evitar isso, comece a arejar as sementes assim que o piso do silo esteja coberto com 60 a 90 cm de grãos. Ajuste o fluxo de ar para um mínimo de 0,1 cfm por bushel. Continue a ventilação até que a umidade e temperatura de todas as sementes cheguem a um equilíbrio.

O ventilador também pode ser usado para continuar a secagem das sementes no silo. A secagem dentro do silo com ar não-aquecido requer uma corrente de ar de no mínimo 1 cfm por bushel, e deve ser descartada se o nível de umidade das sementes exceder 20%. A altura da coluna de sementes no silo deve ser de no máximo 4,8 metros. Equipamentos de detecção de calor podem ajudar a detectar zonas de calor na massa de grãos.

VI. Potencial de Rendimento e Resultados de Produção:

Rendimentos de até 2.800 kg/ha foram obtidos em canteiros experimentais e pequenas áreas. Em plantações comerciais com bom manejo, safras de 1.350 a 2.000 kg/ha são mais comuns. 

VII. Aspectos Econômicos de Produção e Mercados:

Os custos de produção para o crambe no Meio-Oeste americano são similares aos do trigo, exceto pelo maior custo das sementes de crambe, já que são usados os mesmos procedimentos e equipamentos. Em 1990, uma safra com 1.680 kg/ha no Meio-Oeste teve um custo de quase US$ 0,22/kg (US$ 0,10/lb). A produção de crambe não costuma competir diretamente com os óleos vegetais produzidos no país, já que pode ser usado como substituto para o ácido erúcico extraído da colza importada. As sementes de crambe não têm grande saída comercial. Aconselha-se aos agricultores que identifiquem um mercado antes de iniciar o plantio. A torta de crambe tem pequeno valor de mercado, mas pode ser usada na alimentação animal. Se novos fins forem encontrados para a torta, o valor das sementes vai aumentar.

VIII. Fontes de Informação

•    Crambe—A Potential New Crop for Indiana. Christmas, E.P., K.J. Lessman, C.B. Southard, and M.W. Phillips. Cooperative Extension Service, Purdue University, Lafayette, IN. Bulletin AY-168.
•    Crambe Production. 1988. Iowa State University Extension, Ames, IA 50011. Bulletin Pm-1333.
•    Crambe Production. Endres, G. and B. Schatz. 1991. North Dakota State University Extension Service, Fargo, ND. Extension Folder A-1010.
•    Crop Production Guide 1991. North Dakota State University Extension Service, Fargo, ND 58105.
•    Crambe. Papathanasiou, G.A., and K.J. Lessman. 1966. Purdue University Agricultural Experiment Station, Lafayette, IN. Research Bulletin 819.
•    Industrial Feedstocks and Products from High Erucic Acid Oil: Crambe and Industrial Rapeseed. Van Dyne, D.L., M.G. Blase, and K.D. Carlson. 1990. University of Missouri-Columbia.
•    An Introduction to Crambe. Woolley, D.G. 1988. Iowa State University, Ames, IA 50011.
•    Alternative Crop and Alternative Crop Production Research - A Progress Report, February 1991. J. C. Gardner (ed.), North Dakota State University.

A informação disponibilizada neste texto tem apenas fins educacionais. Referências a produtos comerciais ou marcas registradas foram feitas sem a implicação de que um produto seja melhor que seus similares da parte dos serviços de extensão de Minnesota e Wiscosin.

Autores

E.S. Oplinger1, E.A. Oelke2, A.R. Kaminski1, D.H. Putnam2, T.M. Teynor3,  J.D. Doll1, K.A. Kelling1, B.R. Durgan2, D.M. Noetzel2

1 Department of Agronomy and Soil Science, College of Agricultural and Life Sciences and Cooperative Extension Service, University of Wisconsin-Madison, WI 53706.
2 Departments of Agronomy and Plant Genetics, and Entomology, University of Minnesota, St. Paul, MN 55108.
3 Center for Alternative Plant and Animal Products, University of Minnesota, St. Paul, MN 55108. July, 1991.

Observação:
Este artigo foi publicado originalmente em 1991 na publicação americana Alternative Field Crops Manual. Este manual foi um projeto conjunto entre a University of Wisconsin Cooperative Extension Service, the University of Minnesota Extension Service and the Center for Alternative Plant and Animal Products

Tradução e adaptação: BiodieselBR.com
Tags: Crambe