BiodieselBR.com 07 nov 2022 - 08:47

A multinacional dinamarquesa Novozymes é uma das líderes globais do nascente mercado de biotecnologia. Desde sua fundação no ano 2000 – a partir da divisão do grupo farmacêutico Novo Nordisk – a empresa está presente em 140 países nos quais comercializa um portfólio de mais 700 diferentes enzimas e microrganismos para clientes de mais de 30 indústrias distintas – entre os quais o de processamento de óleos e gorduras e o de produção de biocombustíveis.

Para entender melhor o envolvimento da empresa com o setor brasileiro de biodiesel, BiodieselBR.com conversou com o head de Negócios de Óleos e Gorduras para América Latina, Alexandre Braz.

BiodieselBR.com – A Novozymes vem trabalhando para desenvolver a catálise enzimática para a produção de biodiesel. Quais são as maiores vantagens dessa tecnologia?

Alexandre Braz – A principal vantagem da rota enzimática é a possibilidade de processar matérias-primas com diferentes perfis de acidez como oleínas, ácidos graxos, óleo de milho, ácidos graxos recuperadas durante o tratamento de efluentes e gorduras em geral. Mas essa não é a única vantagem. O processo enzimático reduz – ou até elimina – o consumo de metilato de sódio e de ácido sulfúrico, reduz a presença de compostos indesejáveis no biodiesel final e diminui os gastos com energia e com manutenção das usinas. Além disso, como as enzimas são catalisadores orgânicos, não corrosivas e biodegradáveis elas tornam o processo produtivo mais seguro.

BiodieselBR.com – Há quanto tempo essa tecnologia está disponível no mundo? E no Brasil?

Alexandre Braz – Globalmente, a tecnologia de transesterificação enzimática foi lançada pela Novozymes em 2014. Na Ásia e Europa ela já está bastante difundida. No Brasil, começamos a trabalhar com a tecnologia em 2015 e já temos uma série de boas experiências.

BiodieselBR.com – O que são enzimas, afinal de contas? Como é o processo de criação de uma nova enzima?

Alexandre Braz – As enzimas são proteínas que atuam como catalisadores – acelerando reações químicas. Quando uma substância precisa ser transformada em outra, a natureza usa enzimas para acelerar o processo. A expertise da Novozymes é identificar microrganismos na natureza que produzam enzimas com as características exatas para resolver problemas industriais e transformar essas proteínas em novos produtos. O processo de desenvolvimento de uma nova enzima é muito tecnológico, e tem diversas etapas, que vão desde encontrar uma enzima que participa de determinada reação até a viabilização da solução em escala industrial.

BiodieselBR.com – Já temos usinas brasileiras fabricando biodiesel por rota enzimática?

Alexandre Braz – Sim, hoje no Brasil já temos 5 plantas realizando processamento enzimático. Além disso, temos diversos projetos em andamento. Temos plantas que já estão produzindo biodiesel diretamente através de transesterificação enzimática e, também, unidades que usam a esterificação enzimática como pré-tratamento das matérias-primas residuais que serão usadas na produção do biodiesel.

BiodieselBR.com – A ideia é que essa catálise enzimática substitua completamente uma usina de biodiesel convencional ou que os dois processos coexistam de forma complementar?

Alexandre Braz – Entendemos que os processos coexistam. A rota química tradicional é um processo bastante consolidado, mas que apresenta limitações relacionadas, principalmente, ao uso de matérias-primas de alta acidez. Essa é uma limitação que a rota enzimática não possui. Acreditamos que a rota enzimática tem seu espaço e representa mais uma alternativa tecnológica para o setor.

BiodieselBR.com – Que mudanças os fabricantes de biodiesel precisam implementar em suas usinas para passarem a usar catálise enzimática?

Alexandre Braz – As modificações nas plantas existentes são relativamente pequenas e, normalmente, podem ser feitas com baixo investimento. O processo enzimático não requer instalações constituídas de materiais nobres, já que a reação é feita em temperatura de 40°C e sob pressão atmosférica. Além disso, o excesso de metanol utilizado na reação enzimática é menor do que o exigido na rota química o que reduz a necessidade de retificação.

BiodieselBR.com – Um dos principais argumentos a favor da catálise enzimática seria a possibilidade de aproveitar fontes não convencionais de gorduras na produção de biodiesel. Como isso poderia impactar o setor?

Alexandre Braz – A catálise enzimática permite a utilização de diversas matérias-primas que já vêm sendo exploradas pela indústria. Porém, nós entendemos que a rota enzimática possibilita não apenas maximizar a utilização desses materiais, como também aumentar a diversificação das matérias-primas utilizadas. Vale ressaltar que o mercado brasileiro tem grande potencial de geração e uso óleos e gorduras alternativas, uma vez que é um grande produtor de proteínas animais que geram resíduos passíveis de serem reaproveitados gerando economias para os produtores. A utilização de coprodutos também é um fator para a sustentabilidade das usinas e pode até gerar créditos adicionais no RenovaBio.

BiodieselBR.com – As enzimas voltadas diretamente para a produção de biodiesel não são a única interface da Novozymes com o setor de biodiesel, não? Quais outras soluções a empresa oferece?

Alexandre Braz – No Brasil, a Novozymes tem uma atuação muito forte nos diferentes segmentos em que estamos presentes. No segmento de óleos e gorduras, que é mais diretamente ligado à cadeia do biodiesel, temos aplicações para a maior parte dos negócios e dos processos industriais, desde a extração de óleo em si até a oleoquímica. Temos diversas enzimas destinadas a degomagem, para a produção de margarinas e gorduras e para aplicações oleoquímicas. Um portfólio realmente completo para óleos, gorduras e biodiesel.

BiodieselBR.com – Este ano vocês inauguraram o Centro de Excelência em Degomagem (DEC). De que forma esse centro pode apoiar a indústria brasileira de óleo de soja?

Alexandre Braz – Inauguramos o DEC em março deste ano e já estamos apoiando a indústria de maneira bastante efetiva. O DEC funciona hoje como um importante hub de suporte técnico, pois nos possibilita o desenvolvimento de soluções conjuntas com nossos clientes, além oferecer excelência e otimização de processos. Grande parte dos nossos maiores clientes já esteve no DEC realizando testes e provas de conceito nos quais puderam ver os ganhos de rendimento que os processos enzimáticos podem ter em relação aos convencionais. Além da estrutura de laboratório e equipamentos piloto, temos ainda salas de reunião e de treinamento, onde temos promovido a capacitação das equipes para suportar a implementação de processos enzimáticos em suas plantas.

BiodieselBR.com – Um dia depois do encerramento da Conferência BiodieselBR 2022, a Novozymes vai realizar a segunda edição do Encontro Novozymes de Óleos Vegetais (ENOV). O que é esse evento e qual será a pauta deste ano?

Alexandre Braz – Este ano realizaremos a segunda edição o ENOV. O propósito do evento é promover um encontro entre os diversos stakeholders da cadeia de óleos vegetais com o objetivo de explorar temas mercadológicos e tecnológicos de alto impacto para o setor. Além disso, é uma excelente oportunidade para conectar diversas partes desta cadeia de valor. A Novozymes aposta muito no potencial de desenvolvimento da indústria de óleos vegetais da América do Sul e entendemos que o ENOV é uma das maneiras com a qual podemos contribuir. Na edição deste ano, além de trazermos um panorama geral do mercado interno e global da cadeia de óleos, abordaremos também temas tecnológicos como: Industria 4.0, cases de sucesso da indústria e os avanços e tendências na área de sustentabilidade.

BiodieselBR.com – E como a Novozymes se engajada com a questão da sustentabilidade?

Alexandre Braz – O nosso propósito é encontrar soluções biológicas para uma vida melhor em um mundo em crescimento. A sustentabilidade está na essência da Novozymes e diretamente conectada a nossa atuação. Junto com nossos clientes e parceiros buscamos atuar em três frentes: transformar sistemas alimentares, possibilitar vidas mais saudáveis e acelerar rumo a uma sociedade neutra em carbono.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com