Metanol verde: alternativa que pode transformar CO₂ em energia limpa
O metanol verde surge como uma alternativa promissora na transição energética, sendo produzido a partir de fontes renováveis e com baixa pegada de carbono. Liane Márcia Rossi, professora do Instituto de Química (IQ) da USP e pesquisadora no Laboratório de Nanomateriais e Catálise da USP, explica que “o metanol verde é produzido com emprego de energia e matérias-primas renováveis, com o objetivo de produzir um produto de baixa intensidade de carbono”.
Diferentemente do metanol convencional, derivado de combustíveis fósseis como carvão e gás natural, sua versão verde utiliza biogás, biomassa ou até mesmo dióxido de carbono (CO₂) capturado de emissões industriais ou diretamente da atmosfera. Este tipo de metanol representa um passo importante em direção a uma economia de baixo carbono. Sua produção a partir de fontes renováveis e sua capacidade de reduzir emissões em outros setores o tornam uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis.
Como o metanol verde é produzido?
O processo de fabricação do metanol verde segue uma rota catalítica de hidrogenação, semelhante ao método convencional. No entanto, como destaca Liane, “o que muda é a origem das matérias-primas e da energia”. O hidrogênio verde – produzido por eletrólise da água usando eletricidade renovável – é um componente essencial nesse processo. A combinação desse hidrogênio com CO₂ capturado ou biomassa resulta em um combustível sustentável.
Apesar das semelhanças técnicas, a professora ressalta que os custos ainda são elevados. Isso ocorre porque a produção em larga escala depende de avanços na redução do custo do hidrogênio verde e de investimentos em tecnologias de captura e utilização de CO₂.
As cores de metanol
O metanol tradicional, obtido a partir de carvão ou gás natural, é classificado como marrom ou cinza, respectivamente. Rossi explica que “a essa produção está atrelada uma maior intensidade de carbono, ou seja, emissões de CO₂”.
Já o metanol azul surge como uma alternativa intermediária, produzido a partir de fontes fósseis, mas com a implementação de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCUS). “A produção de metanol com captura e estocagem de CO₂ passa a ter uma menor intensidade de carbono e o metanol passa a ser chamado de metanol azul”, esclarece a especialista.
A grande diferença do metanol verde está na origem totalmente renovável de suas matérias-primas e da energia utilizada em sua síntese. Além disso, quando produzido a partir de CO₂ capturado, ele contribui para a redução das emissões em outros setores industriais. “Quando o metanol é feito a partir de CO₂ capturado, ele tem o potencial de reduzir a pegada de carbono dos outros produtos e segmentos da indústria que fornecem esse CO₂, deixando de emiti-lo”, afirma Liana.
Viabilidade e sustentabilidade
Apesar de seu potencial, o metanol verde ainda enfrenta desafios econômicos e tecnológicos. Seu custo de produção é maior do que o do metanol convencional, principalmente devido ao preço do hidrogênio verde e das tecnologias de captura de CO₂. No entanto, à medida que essas tecnologias avançam e escalam, espera-se que os custos diminuam, tornando-o uma alternativa mais competitiva.
A produção de metanol verde pode desempenhar um papel crucial na descarbonização de setores difíceis de eletrificar, como aviação e transporte marítimo. Sua capacidade de ser armazenado e transportado com relativa facilidade também o torna uma opção versátil para a transição energética. Com políticas de incentivo e investimentos em pesquisa, o metanol verde pode se consolidar como uma peça-chave no combate às mudanças climáticas.