BiodieselBR.com 01 nov 2022 - 08:44 - Última atualização em: 01 nov 2022 - 14:04

Dos anos 1990 para cá a Basf já cortou suas emissões de CO2 pela metade. Ainda não é o bastante se realmente quisermos evitar as mudanças climáticas. Para chegar lá a empresa está disposta a tirar proveito de seu peso e prestígio para incentivar seus clientes e fornecedores a caminharem na direção certa.

Sobre isso, BiodieselBR.com conversou com a consultora de proteção ambiental da empresa, Mariana Rossi Sigrist.

BiodieselBR.com – Além de ser uma empresa de porte global, a Basf também é uma marca de alta visibilidade. Por que a companhia decidiu se posicionar como uma liderança no combate as mudanças climáticas?

Mariana Sigrist – A sustentabilidade está entre nossos pilares estratégicos da Basf. Já tem mais de 25 anos que nós utilizamos metodologias de avaliação de sustentabilidade. Já se tornou algo tão intrínseco aos nossos valores, que o nosso slogan é 'criamos química para um futuro sustentável'. Por isso, a proteção climática se tornou uma prioridade em nossa estratégia. As mudanças climáticas estão ligadas principalmente a quanto carbono os produtos que consumimos carregam em seu processo de fabricação. Portanto, queremos oferecer produtos com menor pegada de carbono para os nossos clientes.

BiodieselBR.com – Como é que esse esforço veio avançando ao longo desses 25 anos?

Mariana Sigrist – Em 1990, a Basf emitia 40 milhões de toneladas de carbono por ano globalmente. Hoje, nós emitimos cerca de 20 milhões de toneladas. Então nós já reduzimos nossos níveis de emissões pela metade ao mesmo tempo em que praticamente dobramos a capacidade produtiva. É isso o que nós queremos! Fabricar mais utilizando menos insumos e, consequentemente, gerando menos CO2. Evitar desperdícios e otimizar recursos é algo que está no DNA do nosso Programa de Atuação Responsável que é o sistema de gestão que nós adotamos. Se eu posso fabricar um produto usando menos, vamos fazer esforços nesse sentido. Tudo isso independe dos acordos globais como Protocolos de Kyoto ou o Acordo de Paris --, a Basf sempre teve no seu DNA que está no Programa Atuação Responsável que é o sistema de gestão que nós adotamos essa preocupação com a otimização de recursos.

BiodieselBR.com – E hoje quais são as metas assumidas pela companhia?

Mariana Sigrist – Nossas metas atuais são: redução de 25% de nossas emissões de gás carbônico até 2030 com base no volume de emissões de 2018; e chegarmos a zero líquido até 2050. Para chegar lá precisamos de vários profissionais dedicados e muitos projetos que já estão em andamento. Tudo isso precisa de financiamento. Até 2030 estimamos fazer investimentos da ordem de € 4 bilhões com essas iniciativas.

BiodieselBR.com – Quais são as estratégias que a Basf vem desenvolvendo para reduzir suas emissões de carbono?

Mariana Sigrist – A nossa gestão de carbono tem três focos prioritários: otimizar a eficiência energética; adquirir energias provenientes apenas de fontes renováveis e desenvolver tecnologias e processos inovadores menos intensivos em carbono. Esses são os nossos pilares. Assim como nós definimos metas financeiras, nós também definimos metas de sustentabilidade porque já é algo muito enraizado. Quando fazemos isso, ajudamos a puxar o mercado todo. Quando compramos energia renovável, estimulamos a oferta no mundo todo. É isso que a Basf quer.

BiodieselBR.com – Como essa estratégia se aplica ao Brasil? Como descarbonizar a operação brasileira é diferente de descarbonizar na Alemanha ou nos Estados Unidos?

Mariana Sigrist – Se comparado à outras regiões onde a Basf atua, o Brasil tem energia renovável em abundância e a preços competitivos. Isso facilita muito. Tanto que, no Brasil, nós já atingimos a marca de 100% de energia renovável desde janeiro de 2022. O fator da matriz elétrica brasileira também é muito baixo.

BiodieselBR.com – E o que seria esse ‘fator de conversão’?

Mariana Sigrist – É a quantidade de gás carbônico que cada país emite para gerar sua eletricidade. Cada país publica seus números. Como a base do sistema brasileiro é hidrelétrica que representa entre 60% a 70% da geração, o nosso fator de conversão é muito mais baixo do que o que outros países. Essa é uma vantagem para o Brasil. Só quando temos momentos de crise hídrica em que precisamos acionar mais termelétricas, o fator do Brasil aumenta.

BiodieselBR.com – E quais são os maiores desafios para que uma empresa do setor químico consiga descarbonizar suas operações?

Mariana Sigrist – Os esforços da indústria química quase sempre são pautados na eficiência energética. Normalmente, os processos químicos exigem aumentar a temperatura das reações o que requer uma grande quantidade de energia. Nossas operações usam muito vapor que, geralmente, é produzido com a queima de gás natural. Diminuir nossa dependência em relação aos combustíveis fósseis e inovar os processos são os maiores desafios
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BiodieselBR.com – De que forma a empresa vem atuando para otimizar o consumo de energia em seus processos industriais?

Mariana Sigrist – Nós estamos implementando a ISO 50.001 que é uma norma técnica voltada à gestão de eficiência energética desde 2007. Então, nós já temos diversos projetos sendo implementados. Em muitos casos isso é um trabalho diário de identificar pontos de melhoria. Pode ser a troca de um equipamento que esteja superdimensionado por um outro que consuma menos ou encontrar formas de reduzir o tempo que ele passa funcionando. No fundo, não é muito diferente de gerir o consumo dos eletrodomésticos que temos dentro de casa. Se a geladeira estiver consumindo muito, pode valer a pena trocar por outra mais eficiente.

BiodieselBR.com – Essas são ações que são, por assim dizer, ‘da porteira para dentro’ e sobre as quais vocês têm controle direto. Mas vocês lidam com a cadeia de suprimentos?

Mariana Sigrist – Dentro de nosso programa de gestão de carbono, nós desenvolvemos uma ferramenta digital que tem objeto de calcular a pegada de carbono dos nossos produtos. E temos muitos produtos. Nosso portfólio global tem 45 mil itens. E essa ferramenta inclui a pegada de carbono de todas as matérias-primas que usamos. Em muitos casos recorremos aos valores disponíveis em bancos de dados internacionais, mas, nos últimos anos, nossa área de compras começou a solicitar a cada um de nossos fornecedores suas pegadas de carbono. O objetivo é mapear as emissões de carbono de nossas cadeias de suprimentos. Além disso, também queremos identificar oportunidades para trocar matérias-primas de origem fóssil por outras que sejam renováveis.

BiodieselBR.com – E os fornecedores conseguem dar essa resposta? Imagino que nem todos tenham capacidade técnica para tanto?

Mariana Sigrist – Junto com outras empresas do setor químico, a Basf desenvolve um programa chamado ‘Together for Sustainability’ (Juntos pela Sustentabilidade, em tradução direta) que dá suporte para cadeia de fornecimento de indústrias químicas. Como parte dessa iniciativa, nós temos repassado todo o nosso know-how [sobre avaliação de pegada de carbono] para empresas que não tenham esse conhecimento. Somente com ações concretas por parte de todos os segmentos industriais vamos conseguir frear a concentração do CO2 na atmosfera. Para chegar lá vamos precisar engajar a cadeia toda e isso depende que as empresas comecem a cobrar umas das outras. Temos que incentivar essa competição do bem.

BiodieselBR.com – Você mencionou que além de mapear os fornecedores, vocês estão revisando os insumos para passar a adotar alternativas renováveis. Como esse outro pé está indo?

Mariana Sigrist – Temos uma outra iniciativa chamada ‘Biomass Balance’ que faz essa avaliação e indica qual o percentual de um produto é feito de matérias-primas de fontes renováveis. Um bom exemplo é a aquisição pela Basf de 100% de óleo da palma certificado pela RSPO. Esta certificação garante que a empresa está recebendo um ingrediente produzido com responsabilidade e que atende a princípios como ausência de trabalho escravo e infantil, respeito às pessoas e tradições locais e sem agredir o meio ambiente. Procuramos buscar alternativas. Isso é algo que queremos porque a rota para a química verde passa pela substituição de insumos de origem fóssil por matérias-primas derivadas de fontes renováveis em todos os processos. No longo prazo, nossa ideia é unir todas essas iniciativas para que os nossos clientes também possam gerenciar suas próprias cadeias.

BiodieselBR.com – A ideia é abrir essa informação para os clientes?

Mariana Sigrist – A forma como essa informação vai ser compartilhada com os clientes terá que ser decidida caso a caso. Alguns clientes mais engajados vêm pedindo mais informação. Clientes do ramo de cosméticos, por exemplo, têm muito interesse e já tivemos reuniões nas quais eles nos dizem que têm metas de descarbonização próprias. Quanto melhor integradas forem as cadeias, melhor. Uma empresa pode auxiliar a outra isso influencia positivamente todas as cadeias.

BiodieselBR.com – E o setor de biodiesel? Como ele poderia ser beneficiado por essas iniciativas da Basf?

Mariana Sigrist – O setor de biodiesel já tem essa identidade sustentável. Nosso produto mais diretamente ligado ao biodiesel é o metilato de sódio que é o catalisador usado na fabricação biocombustível. Quanto menor a pegada de carbono do metilato, menor a pegada geral do biodiesel. Isso pode se refletir até mesmo nos certificados do RenovaBio. Seria algo positivo para toda a cadeia.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com