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Só vale se for renovável


Dinheiro Rural - 08 jan 2020 - 09:07

“Um novo ciclo se inicia no mercado de biodiesel”, afirma Erasmo Carlos Battistella, presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) e da fabricante gaúcha de biodiesel BSBios, com sede em Passo Fundo (RS). “O setor de produção de biodiesel está em um momento histórico e que pode beneficiar toda a cadeia no País.” Não é por menos a animação do executivo. Desde setembro, os consumidores de diesel passaram contar com a possibilidade um combustível mais verde para abastecer suas frotas de caminhões, camionetes e máquinas agrícolas. Isso porque os postos foram autorizados a vender o diesel com um maior porcentual de biodiesel, o biocombustível obtido pela combinação química de certos alcoóis a óleos de gordura animal ou óleos vegetais, como o de soja, algodão, mamona ou girassol.

Até agosto, o porcentual obrigatório era de 10% de biodiesel (B10). Vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tornou obrigatório o teor de 11% de mistura (B11), podendo chegar a 15% (B15) imediatamente, dependendo da disposição da distribuidora. Desde setembro, está instalado um ambiente novo de negócios que é inédito no setor. “É um grande avanço para toda a indústria, pois permite oferecer maiores concentrações já e não um porcentual fixo, como era antes”, diz Battistella. A boa notícia é que esse incremento pode beneficiar os produtores de grãos. A soja é, atualmente, a principal matéria-prima para a obtenção do biodiesel. “Acredito que a necessidade pelo grão de soja deve crescer bastante daqui para a frente”, afirma o executivo. A estimativa da Aprobio é de cerca de 3 milhões de toneladas adicionais de soja, por ano. Em 2018 foram processadas cerca de 17 milhões de toneladas, equivalente a 70% da matéria-prima para a fabricação do biocombustível.

Além da soja, outras matérias-primas têm ganhado mais espaço no uso das usinas de processamento do biodiesel. A gordura animal, subproduto dos frigoríficos no abate de bovinos, aves e suínos, é ainda a segunda maior fonte, com 16,2% de participação em 2018, segundo a ANP. Naquele ano, foram 860,2 milhões de litros de óleo bruto – o que representou uma alta de 19,3% sobre 2017, além de ser o maior volume entregue nos últimos 10 anos. Mas outra fonte também vem despontando. Trata-se de um grupo generalista, chamado de “outros”. Essa categoria reúne as fontes de óleo de palma, amendoim, nabo-forrageiro, girassol, mamona, sésamo, canola, milho e óleo de fritura. Esse grupo saiu de uma participação de 3,5%, em 2016, para 11,3% em 2017. No ano passado já representava 13%, totalizando 691,2 milhões de litros de óleo.

Com a possibilidade do B15, o mercado pode crescer mais rapidamente do que foi até agora. No ano passado, a produção foi de 5,4 bilhões de litros, volume 25% acima do ano anterior. O faturamento das 52 unidades produtoras de biodiesel foi de R$ 14,1 bilhões. Considerando apenas o aumento de 1%, indo a B11, o volume pode chegar a 6 bilhões de litros até o fim deste ano. Seguindo o cronograma estabelecido pela ANP, a projeção é que a indústria brasileira atinja a marca de 10 bilhões de litros, até 2023. A previsão é que em 2028 chegue ao mercado o B20 (20%). O salto é bastante significativo, quando comparado aos 14 anos necessários para sair do B2 até o B10.

Negociado via leilões bimestrais organizados pela ANP, o biocombustível ganhou uma valorização no remate de agosto, chegando a R$ 2,86 por litro, segundo o engenheiro uruguaio Juan Diego Ferrés, presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). “Foi o primeiro leilão para as distribuidoras adquirem o biodiesel para a mistura obrigatória de 11%”, diz ele. “O valor surpreendeu.” A média do litro vinha sendo negociada por R$ 2,42 pelas usinas (para o consumidor são R$ 3,54 por litro). A ideia é que com a maior participação de uma fonte renovável no diesel, o combustível se torne mais barato e que caiam ainda mais as importações. O País consumiu no ano passado 55,6 bilhões de litros de mistura, dos quais 50,2 bilhões de fóssil. Desse total, 11,8 bilhões foram importados por US$ 6,3 bilhões, segundo o Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Investimentos

O aumento da mistura também abre a possibilidade de investimentos. Isso porque a matriz veicular brasileira é dependente em excesso do diesel fóssil. No ano passado, o diesel respondeu por 47,9%, ante 4,4% do biodiesel. Em 2017, o porcentual foi, respectivamente, 47,4% e 3,6%, o que mostra ascensão do diesel renovável. “O setor enxerga com muito otimismo a retomada da previsibilidade de aumento e que realmente está sendo cumprida”, diz Ferrés.

Esse movimento permite que as empresas possam traçar planos mais sólidos de investimentos. E não é somente a BSBios, com receita de R$ 3,15 bilhões em 2018, que investe. Hoje ela é a maior, com o refino de 545,8 milhões de litros, o equivalente a 10,2% da produção nacional. Investimentos também estão na mira da Oleoplan, da americana ADM, da paulista Granol e da paranaense Caramuru. Segundo Battistella, são estimados para toda a cadeia cerca de R$ 6 bilhões em investimentos nos próximos 5 anos. “Isso não virá somente de melhorias das indústrias, mas também de estruturação das redes de distribuição e da produção de matéria-prima”, diz o executivo. “No fim das contas, esse estímulo ao setor vai gerar empregos, que é o que nós queremos no Brasil”, destaca.

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Fábio Moitinho – Dinheiro Rural