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Motores

MWM busca seu espaço num mundo sem diesel


Valor Econômico - 24 ago 2022 - 09:58

A fabricante de motores diesel MWM está se reinventando para sobreviver num cenário mundial de descarbonização onde seu principal produto constantemente aparece como vilão. Sem abandonar o diesel e os clientes industriais tradicionais, a empresa aposta que seu futuro está no biogás, nos serviços e no consumidor final. E esse processo de transformação ocorre dentro de uma mudança no controle da companhia. Em 2005 a MWM foi comprada pela americana Navistar, que hoje pertence ao grupo Volkswagen, e no ano passado foi adquirida pela brasileira Tupy. O negócio ainda espera aval final do Cade e deve ser concluído até o fim do ano.

O que poderia ser uma ameaça à sobrevivência da centenária companhia surgida na cidade alemã de Mannheim (MWM é a sigla de Motoren-Werke Mannheim ou fábrica de motores de Mannheim) acabou abrindo um novo nicho de negócios para a companhia no Brasil. “O motor diesel ainda é dominante para veículos comerciais pesados, aplicações estacionárias e agrícolas. Mas não podemos ficar de fora da transição energética”, afirma José Eduardo Luzzi, presidente da companhia.

Os primeiros passos nessa transformação começaram há três anos, quando a empresa suspendeu o fornecimento de motores para fabricantes de geradores de energia e lançou seu próprio gerador. Pela primeira vez nos quase 70 anos que atua no país, ela chegou no Brasil em 1953, a MWM deixou de ser uma empresa 100% fornecedora da indústria para começar a atender o cliente final. No jargão econômico se diz que passou de B2B (venda para empresas) para B2C (venda para o consumidor final). E com geradores movidos ainda a diesel, mas também a gás.

Com novos projetos em fase de maturação, os tradicionais motores ainda representam 70% da receita da companhia

Sem ter isso claro na época, conta Luzzi, a empresa começava a fazer a sua transição energética. Da experiência da venda de geradores, principalmente para o setor agrícola, surgiu o plano de ampliar a oferta de produtos e serviços, tendo como principal combustível o gás. A ideia é que as fazendas utilizem seus resíduos para produção do biogás e destinem esse gás à geração de energia elétrica e ao abastecimento dos seus equipamentos, como caminhões e tratores. E ainda com possibilidade de produzir biofertilizantes.

Luzzi diz que o acúmulo e descarte adequado de dejetos é um problema de todo o agronegócio. “É um passivo ambiental que pode se transformar em ativo ambiental”, defende. Mesmo fazendas que já têm biodigestor, acabam queimando o gás para não ser lançado na atmosfera. “Isso é queimar dinheiro”, afirma. E o executivo diz que em muitas fazendas o fornecimento de energia elétrica é precário e, dependendo da distância, o diesel chega a um custo muito maior do que se vê nos postos de combustíveis.

A ideia é que as fazendas se tornem autossuficientes em energia elétrica, podendo até vender o excedente para a distribuidora local, e reduzam a dependência do diesel e do fertilizante tradicional. “Vamos deixar de ser um fabricante de motores para oferecer soluções completas de economia circular para o agronegócio. É o primeiro passo no nosso processo de transição energética”, diz o presidente, engenheiro mecânico há 37 anos na companhia onde começou como estagiário.

Essa “nova MWM” vai entrar também com mais força na prestação de serviços. Além de fornecer os equipamentos e a estrutura que permite produzir o biogás, a empresa vai gerir o sistema e fornecer a certificação dos veículos adaptados. “Vamos preparar toda a documentação de adaptação dos caminhões a diesel para gás. E quando o proprietário quiser vender o caminhão usado, podemos retornar para o diesel caso seja necessário.”

Citando números da ABiogás, associação do setor, Luzzi afirma que o Brasil tem potencial para produzir 120 milhões de m3 de biogás por dia. Isso seria suficiente para substituir 70% do consumo de diesel no país ou 35% da demanda de energia elétrica. “Começamos no agronegócio, mas vemos potencial em outros segmentos, como no abastecimento de caminhões para longas distâncias.”

Luzzi admite, no entanto, que esse é um projeto de médio prazo. Lançado no começo deste ano, a MWM tem alguns equipamentos já instalados, mas o negócio ainda tem peso zero tanto na receita como na produção. As três áreas de negócios ainda são motores, geradores e peças de reposição. Em termos de receita, os motores representam 70%, seguido da reposição (18%) e geradores (12%). A empresa não divulga dados financeiros.

“Não estamos produzindo mais (motores) porque nossos clientes estão com limitações nas suas linhas de montagem. O segmento de caminhões está crescendo, mas poderia crescer mais se não tivesse problemas com fornecimento de peças”, afirma Luzzi. A expectativa é crescer 13% no volume de motores neste ano. No segmento de geradores a estimativa é crescer 43% em volume, enquanto na reposição a expansão prevista é de 15% em receita.

Em relação a 2019, último ano antes do surgimento da covid-19, a MWM já recuperou seu nível de produção. No segmento de motores, a empresa deve fechar 2022 com crescimento de 92% na produção sobre aquele ano. Os primeiros geradores foram lançados em 2019, então não é possível fazer essa comparação. Já em reposição, o crescimento deve ser de 45% em receita sobre 2019.

Com fábrica na capital paulista e 1,4 mil funcionários, a MWM já produziu 4,5 milhões de motores no país. Desse total, estima Luzzi, 2,3 milhões ainda estão rodando no Brasil e exterior. A exportação representa 10% da receita total.

E para um cenário de mais longo prazo, Luzzi adianta que há um projeto “embrionário” de uso de hidrogênio em motores para geração de energia elétrica ou até para veículos. “De uma empresa de engenharia mecânica para uma companhia que trabalha até com bactérias.” Assim o executivo define o “reinventar da MWM”.

Carlos Prieto – Valor Econômico