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Especificação

Diesel contaminado por água é comum e destrói os motores


Quatro Rodas - 05 set 2022 - 09:51

O problema é antigo e conhecido, principalmente por donos de máquinas agrícolas que estocam diesel em suas propriedades. Os caminhoneiros também sabem. Mas, como rodam muito, conseguem evitar o risco. A questão é o diesel contaminado, o qual prejudica o funcionamento dos motores e pode causar danos irreversíveis.

As vítimas, na maioria das vezes, são proprietários de picapes que circulam pouco ou abastecem em postos com movimento reduzido, que demoram a renovar o combustível em seus tanques.

O diesel é sujeito à contaminação porque, por suas características químicas, tem capacidade de absorver umidade do ar. E água é o principal meio para a proliferação de bactérias. E, além disso, reage com o enxofre presente no combustível, formando ácido sulfúrico, que é corrosivo.

Os agricultores e também o pessoal da mineração tomam uma série de cuidados com o diesel estocado, como o controle da qualidade do combustível comprado e a manutenção dos tanques, porque conhecem os prejuízos. Mas os donos dos postos de combustíveis costumam não ser tão cautelosos, como atesta o mecânico Tiago Soares Silva, de Goiânia (GO), que vive com sua oficina especializada em picapes diesel cheia.

Existem aditivos para se colocar nos tanques, para evitar o desenvolvimento de bactérias. Mas se os postos comprassem apenas a quantidade de diesel que comercializam regularmente em um curto período ou fizessem a drenagem periódica dos reservatórios – quando o diesel ficasse armazenado por mais tempo – para retirar a água que se acumula principalmente no fundo desses recipientes, eles diminuiriam bastante o risco de deterioração.

Mistura ácida

O diesel contaminado ataca peças como a bomba de alta pressão e os bicos injetores, podendo até mesmo fundir o motor, quando os bicos travam abertos.

“O primeiro sintoma do problema é o barulho característico da batida de biela, marteladas. Quando a luz espia acende no painel acusando anomalia, isso indica problemas na bomba de alta pressão. Consequentemente, o carro perde potência e apaga”, diz Tiago.

“Ao tentar religar, o motor não pega, mas, se pegar, injeta mais diesel nos cilindros e, com o combustível em excesso, os pistões podem furar, já que hoje na maioria dos carros os modelos têm injeção direta e os bicos injetores estão posicionados no centro da câmara de combustão”, afirma o mecânico.

Há quem acredite que o diesel S10 seja mais vulnerável à contaminação que o S500 por ter menos enxofre, elemento químico que tem propriedades bactericidas. O diesel S10 possui 10 ppm (partes por milhão) de enxofre, enquanto o S500 tem 500 ppm. S é o símbolo do enxofre (Sulfur) na tabela periódica dos elementos.

A redução do teor de enxofre no diesel se tornou obrigatória por conta de suas emissões, que prejudicam a saúde das pessoas e o meio ambiente. Mas o engenheiro Everton Lopes, mentor de Energia a Combustão da SAE Brasil, esclarece que não existe vantagem na utilização desse tipo de diesel.

“Em relação à higroscopia (capacidade de absorver água), o S500 não se diferencia do S10, já que ambos possuem biodiesel na mesma proporção misturado em sua composição”.

O especialista alerta também para a utilização do combustível especificado pelo fabricante do veículo. “É importante ressaltar que os modelos mais novos devem sempre abastecer com o S10. Caso o diesel usado não seja o descrito no Manual do Proprietário, ele poderá danificar os catalisadores, responsáveis pela redução das emissões gasosas, gerando assim prejuízos ao proprietário e agredindo o meio ambiente”, explica o engenheiro.

Derivado do petróleo, o diesel é composto principalmente por hidrocarbonetos e alguns contaminantes como nitrogênio, enxofre e oxigênio. Mas, no Brasil, desde 2004, ele contém também uma parte de biodiesel, combustível de origem vegetal, que é menos poluente.

E isso é outro motivo de preocupação para quem teme a contaminação do diesel, porque o biodiesel é ainda mais higroscópico que o diesel de origem fóssil, além de ter gordura animal em sua formulação, um composto capaz de aumentar a velocidade de oxidação do diesel, gerar ainda mais bactérias e adensar o combustível.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o diesel (S10 e S500) tem em sua composição biodiesel, proveniente de diversas fontes (atualmente está entre 80 e 85% soja, 10 e 12% sebo bovino e os restantes 5% vêm da mamona).

Independentemente do tipo, S10 ou S500, assim como todo combustível, o diesel sofre degradação. E os problemas atingem todos os tipos de motores, sem levar em conta suas características de projeto. De acordo com o mecânico Tiago, ocorre nas picapes de todas as marcas.

Um desses casos é o do empresário Geovane Amaral de Castro, de Goiânia (GO), dono de uma Ranger XLS 2017. “Ninguém conseguia encontrar o problema no motor de minha picape, que havia perdido potência por causa do diesel contaminado. Precisei gastar R$ 20.000 no conserto”, lembra Geovane.

Outro motorista que teve problemas com o diesel foi o pecuarista Brasil Freitas Vilela, de Caiapônia (GO), proprietário de uma Hilux SRX 2018. “Meu carro perdeu potência e desligou. Além disso, as válvulas empenaram, arrebentou a corrente do comando e tive de gastar quase R$ 17.000 para consertar”, conta Brasil.

Para evitar o problema, o mecânico Tiago, acostumado a viajar por grandes distâncias e pelas cinco regiões do país, aconselha os motoristas a planejarem suas viagens, prevendo as paradas para abastecimento de forma a utilizar apenas postos maiores, com grande movimento de caminhões, principalmente, e, em caso de dúvida, abastecer uma quantidade menor de combustível, até poder parar em um local que lhes transmita mais confiança.

Waldez Amorim – Quatro Rodas