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Natureza

Meio ambiente apressa pré- sal


O Globo - 08 set 2009 - 07:11 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:09

O ritmo da exploração das reservas do pré-sal, estimadas entre 50 bilhões e 80 bilhões de barris de petróleo, nas próximas décadas, será influenciado por fatores que não dependem da vontade do governo brasileiro: a demanda internacional, o nível de reservas existentes e a mudança da matriz energética, cada vez mais voltada para energia limpa. Aos poucos, o uso dos hidrocarbonetos (petróleo e gás) como energia está sendo questionado. Por isso, o consumo de petróleo tende a ter uma queda ao longo das próximas décadas e, assim, a exploração do présal teria que ser acelerada.

Mas, para analistas ouvidos pelo GLOBO, os futuros governos terão que levar muitas variáveis em consideração:

— De maneira geral, a dúvida é se deve guardar o petróleo, porque os preços podem ficar mais altos; ou utilizar agora, porque as energias alternativas vão ganhar cada vez mais espaço — diz o consultor Marco Tavares, da Gas Energy.

Ele lembra que essa dúvida está no âmago das negociações do petróleo no mundo e que ainda não se tem respostas claras para o comportamento do mercado no futuro. Mudanças na matriz energética são fatos históricos. A era do carvão, que pontificou no século XIX e foi determinante para o progresso de Inglaterra e Alemanha, foi destronada pelo petróleo a partir do início do século passado, que impulsionou os Estados Unidos. Tavares alerta para o destaque dado ao aspecto ambiental no início do século XXI:

— A discussão sobre meio ambiente nunca esteve tão forte como agora.

O exemplo mais evidente dessa guinada foi anunciado em maio pelo governo dos Estados Unidos. O presidente americano Barack Obama lançou novos padrões de emissão de gases causadores do efeito estufa para veículos automotores e metas de eficiência no consumo de combustível, para ajudar a livrar os EUA de sua dependência de derivados de petróleo. O presidente americano se referiu ao plano como uma virada histórica em direção a uma economia de energia limpa. Ao mesmo tempo, o Brasil estimula o uso dos biocombustíveis, como etanol e biodiesel.

Paralelamente, a demanda por petróleo tende a crescer nos próximos anos. Estimativas feitas pela Energy Information Administration (EIA), órgão do governo americano, mostram que a sede por petróleo terá crescimento de 25% até 2030, passando de 85 milhões de barris por dia em 2006 para 106,6 milhões de barris por dia. Por isso, as reservas brasileiras ajudarão a suprir esse aumento de demanda e a decadência das reservas de Ásia, Europa, México e Canadá.

Para o consultor legislativo Paulo César Ribeiro Lima, ex-funcionário da Petrobras e especialista no setor, é preciso aliar os dois movimentos e garantir que a exploração do pré-sal se concentre nos próximos 40 a 50 anos:

— No atual quadro de mudanças climáticas, é provável que daqui a 50 anos o petróleo perca valor, pois o planeta dá claros sinais do agravamento do efeito estufa.

Lima lembra que as montadoras de veículos estimam que, em 2025, 30% dos novos carros poderão ser elétricos. Ele alerta que o governo tem de garantir a exploração até 2050, atraindo empresas internacionais para atuar ao lado da Petrobras e assegurar que o pré-sal não se transforme em um reservatório sem valor:

— Corre-se o risco de grande parte do petróleo recuperável dessa província nunca ser produzido.

Para o governo, o horizonte não é tão dramático. A aposta é que pelo menos durante 35 anos, e isso a partir de 2015 quando os campos do pré-sal começam a produzir pelo sistema de partilha, o país retire e processe essas riquezas sem problemas.

— Até 2050 temos um bom cenário, porque os custos do pré-sal ficam abaixo de US$ 40 (o barril). Mesmo com as taxações por causa das restrições ambientais, ele ainda será viável economicamente — afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também é otimista:

— Em 40 anos, as reservas conhecidas devem estar esgotadas e o pré-sal surge como alternativa. Outras reservas desconhecidas podem surgir.

Segundo Tolmasquim, sem as novas descobertas, os campos atuais vão secar, o que levaria a produção global em 2030 a 31 milhões de barris por dia. Como a demanda aumentará, o déficit será suprido com os novos campos a serem descobertos no mundo, incluindo os do pré-sal brasileiro.

Gustavo Paul e Mônica Tavares