Crise financeira diminui as chances de avanços em discussão pós-Kyoto
A crise financeira internacional está diminuindo as perspectivas de um novo acordo para combater o aquecimento global, mas pode ter o efeito paralelo de ajudar projetos ambientais mais baratos, afirmam analistas.
A turbulência, que tem afetado os cofres de diversos governos, deve afastar o interesse de projetos de custo alto, como a captura do dióxido de carbono ( CO2) em termelétricas, o refino de biodiesel e alguns projetos de energia renovável. “Haverá uma mudança nos investimentos”, diz Nick Mabey, diretor do E3G, um centro de estudos sediado em Londres.
Há um ano, autoridades internacionais batiam a cabeça tentando encontrar formas de combater o aquecimento do planeta depois que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, atribuiu secas, enchentes e a elevação da temperatura ao uso de combustíveis fósseis. Hoje, com o mercado em polvorosa, a ONU se vê em situação mais delicada para costurar o futuro do Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Avanços na reunião do clima de Copenhague, em dezembro de 2009, parecem cada vez mais ambiciosos.
O chanceler alemão, FrankWalter Steinmeier, afirmou que as dificuldades do mercado financeiro podem tornar difícil um acordo sobre o clima. O candidato democrata à presidência dos EUA, Barack Obama, disse, por sua vez, que poderá ser forçado a recuar em seus planos de investimentos em energia.
“As pessoas estão começando a ficar preocupadas com o fato de que todo o processo pode dar completamente errado”, diz Mabey. No pior cenário, as negociações podem entrar em colapso, como ocorreu no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). “O problema do aquecimento continuará, mas as ações serão menos agressivas no futuro”, afirmou Elliot Diringer, diretor do Pew Center on Global Climate Change, em Washington.
Os consultores da McKinsey, por sua vez, acreditam que medidas de combate ao efeito-estufa, como o melhor isolamento térmico de edifícios, o ganho de eficiência das lâmpadas e do arcondicionado, acabam se pagando com contas mais baixas. Mas práticas como o enterro de carbono, o refino de biodiesel ou a manutenção das florestas de pé são mais caros, dizem eles.
Antes mesmo da crise, os Estados Unidos já argumentavam que o Protocolo de Kyoto, que obriga 37 países industrializados a reduzir suas emissões até 2012, travaria a economia americana.
Segundo os analistas, a pior crise desde o “crash” da bolsa em 1929 também pode significar menos ajuda a países em desenvolvimento como a China, a India, o Brasil e a Indonésia.
“Tomara que a crise nos faça mais inteligentes com o uso do nosso dinheiro”, disse Bjorn Lomborg, o autor dinamarquês de “O Ambientalista Cético”. Lomborg acusa muitos governos, entre eles o Reino Unido, de direcionar muito dinheiro em projetos caros em nome do clima.
Por ora, a Noruega, que tem liderado os esforços para doações a países que mantiverem suas florestas de pé, é um dos países que continua mantendo sua posição. “Acreditamos que isso seja um investimento, não um ato de caridade”, disse o premiê, Jens Stoltenberg, que acrescentou que o país escandinavo está comprometido com a causa. A Noruega planeja doar US$ 1 bilhão para a proteção da Amazônia.
Para Sven Teske, diretor de energias renováveis do Greenpeace, os investimentos ainda fazem sentido. De acordo com o ambientalista, a energia eólica totalizou US$ 37 bilhões no ano passado e acrescentou mais de 19 gigawatts à rede elétrica.
Alister Doyle, de Oslo