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Natureza

Biocombustível, um mal necessário


Jornal do Commercio - RJ - 26 fev 2008 - 06:50 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:05

O biocombustível parece estar mexendo com alguns nervos. Já existem correntes contrárias ao uso do biocombustível, além dos pretensos concorrentes - Chàvez, o Democrata - e o macróbio Fidel, que se manifestaram contra a revolução energética, por motivos que não compensa enumerar, e nem tampouco discutir.

Mais recentemente, alguns representantes da comunidade científica resolveram juntar às descabidas críticas, estudos que pretendem demonstrar que o biocombustível é ainda mais poluente do que os combustíveis fósseis. Os cientistas, em suma, acham que o "custo ambiental global" dos biocombustíveis é mais alto do que o dos tradicionais.

A base do raciocínio é a constatação de que o uso intensivo de terras para a produção de combustível pode ser causa da emissão dos deletérios gases de estufa. Segundo os nossos Silvanas e Pardais, a destruição de ecossistemas naturais provoca não só a liberação de gases de estufa, mas também priva o planeta de suas esponjas naturais, que absorvem emissões de carbono. Terras aradas, por outro lado, absorvem muito menos carbono do que as florestas ou savanas por elas substituídas.

A produção de biocombustíveis significa lançar mão de novos terrenos, seja para aquele fim, ou para a produção de mais alimentos. Segundo Timothy Searchinger, da Universidade de Princeton, o fator uso de terras não era contabilizado para o cálculo da economia de emissões devida aos biocombustíveis, o que mascarava a sua vantagem sobre os combustíveis à base de hidrocarbonetos.

Joseph Fargione, autor de outro estudo, assinala que a derrubada de terras para a produção de biocombustíveis origina a liberação de 93 vezes (sic) mais gases de estufa do que a economia que seria produzida com combustível produzido naquela mesma área.

Outras correntes de lobistas atuam junto aos governos para reestudar a política energética. A Comunidade Européia pensa estabelecer restrições à importação de biocombustíveis produzidos a partir de terras onde existiam florestas tropicais.

Grupos ambientais internacionais, e a própria ONU vêem tais opiniões com muita cautela. Nicholas Nuttall, porta-voz da UN Environmental Program, afirma que "não queremos que a opinião pública regrida a tal ponto que nos impeça continuar no aproveitamento de todos os benefícios, e acrescenta que a ONU criou um grupo especial para avaliar a questão."

Nuttall considera nocivos os esforços para qualificar os biocombustíveis como os vilões pela mudança de clima, e advoga o estabelecimento de critérios apropriados, para que os biocombustíveis sejam parte da solução, e não parte do problema.

O mundo já elegeu os biocombustíveis como os heróis da equação energética. A União Européia estabeleceu que em 2008, do combustível usado no setor de transportes 5,75% deverão ser representados por biocombustível. Nos EUA, a proposta é que em 2022, aquele percentual seja de 15%. A produção do novo combustível vem sendo fortemente subsidiada naqueles países e regiões. Grupos industriais como a Renewable Fuels Association (Associação para os Combustíveis Renováveis) classificam de simplistas os estudos dos doutores.

O diretor da Renewable sustenta que mais importante do que se limitar à análise de mudanças climáticas, deve-se considerar a situação atual, o crescimento da demanda mundial por combustíveis líquidos e quais alternativas existem para satisfazê-la. "Biocombustíveis como o etanol são a única alternativa imediatamente disponível para fazer face aos desafios da segurança do mercado energético e da proteção ambiental," garante o diretor da Renewable.

Lembremos aos tecnocratas que a questão dos combustíveis deve ser encarada sob o ponto de vista da segurança do suprimento, e também da economia global: combustíveis fósseis são finitos e mal distribuídos no planeta. Os biocombustíveis poderão ser produzidos em muitos outros países, inclusive em regiões pobres, o que contribuirá para um maior equilíbrio econômico e social. Seu caráter renovável irá garantir a sustentabilidade.

A Lei da Oferta e da Procura não pode ser derrubada.

Eliseu Visconti
Escritor, jornalista