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Soja

Falta de chuva no Sul ainda ameaça a safra


Valor Econômico - 11 jan 2019 - 10:31

A escassez de chuvas que prejudica lavouras na Região Sul levou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a confirmar as expectativas de produtores e analistas e reduzir sua estimativa para a colheita de soja do país nesta safra 2018/19, o que gerou reflexos negativo sobre a previsão para a produção de grãos como um todo no ciclo. Em levantamento divulgado também ontem (10), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até ajustou para cima sua projeção para a soja, mas indicou que, em decorrência do clima, também deverá reduzir suas estimativas nos próximos meses.

Segundo a Conab, a colheita de soja, carro-chefe do agronegócio no país, deverá alcançar 118,8 milhões de toneladas, ante as 120,1 milhões previstas em dezembro. Se confirmado, o volume será pouco inferior ao recorde registrado na temporada 2017/18 (119,3 milhões de toneladas). Como a estimativa para o milho ficou praticamente estável em 91,2 milhões de toneladas – 12,9% mais que no ciclo passado –, a projeção para a colheita total de grãos caiu para 237,3 milhões de toneladas, ainda 4,2% superior ao resultado de 2017/18 e segunda melhor marca da história.

O IBGE também projetou para a colheita de soja que está em andamento um volume de 118,8 milhões de toneladas, mas depois de um pequeno ajuste para cima na comparação com o cenário traçado em dezembro, graças ao bom desenvolvimento das lavouras em Estados como Piauí e Goiás. Com isso, o instituto, que projeta aumentos de 2,6% para a primeira safra de milho (26,4 milhões de toneladas) e de 11,1% para a segunda (61,8 milhões de toneladas), elevou sua estimativa para a colheita total de grãos para 233,4 milhões de toneladas, 3,1% mais que na temporada anterior. Mas deixou clara que existe temor com a falta de chuvas no Sul.

"Houve uma piora recente do clima no Paraná, com falta de chuvas, o que pode causar uma redução [de estimativas] na próxima divulgação", afirmou Carlos Alfredo Guedes, gerente de Agricultura do IBGE. Segundo Cléverton Santana, superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, os problemas enfrentados pela soja estão concentrados no Paraná e em Mato Grosso do Sul e ainda poderão ser compensados por um desempenho melhor que o esperado em Mato Grosso, Estado que lidera a produção de soja, e na região do "Matopiba" (confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Tocantins).

Para a maior parte das consultorias privadas que fazem previsões para a safra brasileira de grãos, porém, a tendência é mesmo de queda da colheita brasileira de soja neste ano. A Agroconsult, por exemplo, divulgou ontem que espera uma colheita total de 117,6 milhões de toneladas, 1,4% menor que em 2017/18. "O oeste e o sudoeste do Paraná e o sul de Mato Grosso do Sul sofreram muito com a falta de chuvas de dezembro", afirmou a jornalistas André Pessôa, sócio-diretor da consultoria, em evento em São Paulo.

Além da recuperação do milho, outro destaque positivo da atual temporada agrícola é o algodão, cujo plantio foi estimulado pela forte demanda externa e por preços mais atraentes. Conforme a Conab, a colheita da pluma somará 2,4 milhões de toneladas, 20,3% mais que o volume estimado para o ciclo passado. Para os básicos arroz e feijão, entretanto, as previsões da estatal federal sinalizam retrações.

No caso do arroz, a Conab passou a projetar a colheita em 11,2 milhões de toneladas, 7,1% menos que em 2017/18. Para o feijão, a estimativa foi ajustada para 3,1 milhões de toneladas no total (a leguminosa tem três safras por ciclo), 0,6% abaixo do resultado da temporada anterior. Mas essas quedas não são consideradas um problema, já que a demanda doméstica pela dupla tem se mantido relativamente estável nos últimos anos.

À luz das novas estimativas de Conab e IBGE e diante da possibilidade de novos ajustes para baixo nas previsões, as exportações brasileiras de grãos deverão registrar queda para a soja e reação para o milho ao longo deste ano.

Fernanda Pressinott, Kauanna Navarro, Bruno Villas-Bôas e Cristiano Zaia – Valor Econômico