Demanda aquecida mantém preço da soja elevado e setor projeta novo recorde
As chuvas estão estranhas neste início do plantio de soja em especial na região Sul do país, com fortes pancadas no Paraná, o que tem dificultado a entrada das máquinas nas lavouras. Ainda assim a perspectiva é que a safra de soja brasileira na temporada 2022/2023 alcance 152,35 milhões de toneladas, 21,3% acima do colhido no ano passado, e mais um recorde nacional. Em boa parte, esse quadro se deve aos preços da oleaginosa que seguem firmes no mundo, que tem um quadro justo de oferta e demanda.
A produtividade deve apresentar recuperação em relação à safra anterior que foi afetada pela La Niña. Com a perspectiva de menor impacto climático, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produtividade deve crescer 17,4%, chegando a 3.552 kg/ha, calcula Allan Silveira, superintendente de estudos de mercado e gestão de oferta da companhia. “As estimativas de safra estão assumindo que o La Niña não afetará muito o plantio, mas ainda é cedo para cravarmos”, pondera André Nassar, presidente executivo da Associação das Indústrias de Óleos vegetais (Abiove), mas ele concorda que a perspectiva é boa para o país.
Se os números se confirmarem, o Brasil deverá exportar cerca de 92 milhões de toneladas de soja, 22% acima do embarcado no ano anterior. A dúvida no mercado mundial está voltada para o mercado de óleo. “A geopolítica mudou o mercado de óleo”, diz Nassar. As indústrias acompanham com atenção o movimento de volta da Indonésia ao mercado de óleo de palma que concorre com a soja e pode mexer nos preços, e, internamente, as decisões sobre a política para o biodiesel. A guerra na Ucrânia (grande produtora) é outro elemento de incerteza.
Outro ponto de atenção no mercado interno é a venda antecipada de soja. O ritmo é menor por conta do custo de produção do grão, que sofreu um forte aumento neste ano. Isso deixa os produtores mais inseguros para antecipar a venda. Sem saber se os preços do grão vão subir nas próximas semanas, preferem segurar até terem mais clareza. “Mas o mercado deve aquecer em novembro”, acredita Nassar, quando tendem a vender soja para custear a safrinha de milho.
Um ponto de embate entre produtores e indústria deverá se dar na hora de definir os valores do frete embutido na formação do preço de venda da soja. Nos últimos dois anos, dizem as indústrias, o frete ficou mais caro que o calculado por eles devido à alta do diesel. Neste ano, com a possibilidade do fim do desconto de PIS/Confins em 31 de dezembro, as indústrias trabalharão com o cenário de fim do incentivo e vão subir o valor do frete, o que deve gerar tensão no fechamento dos contratos.
Carlos Raíces – Valor Econômico