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Soja

Acordo comercial entre EUA e China traz alívio a produtores de soja americanos


The New York Times - 31 out 2025 - 08:45

A trégua comercial firmada nesta quinta-feira (30) entre Estados Unidos e China restabeleceu uma linha vital de receita para os produtores americanos de soja, após meses de preocupação de que um boicote prolongado de Pequim pudesse levá-los à falência.

O presidente Donald Trump afirmou nas redes sociais que o líder chinês, Xi Jinping, autorizou importadores chineses a comprar "quantidades maciças" de soja, sorgo e outros produtos agrícolas dos EUA.

"Os nossos fazendeiros ficarão muito felizes!", escreveu Trump.

Imagem de drone mostra trator em plantação de soja em Somonauk, no estado de Illinois - Reuters

Os termos finais do acordo ainda não foram divulgados, mas tudo indica que as compras chinesas de produtos agrícolas voltarão aos níveis anteriores à retomada do governo Trump e ao início de sua nova guerra comercial. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse à Fox Business Network que a China concordou em comprar 12 milhões de toneladas de soja dos EUA entre agora e janeiro, e pelo menos 25 milhões de toneladas por ano nos três anos seguintes.

O volume de 25 milhões de toneladas equivale à média das compras anuais chinesas em anos recentes.

Como os preços da soja variam, não está claro quanto a China gastará com essas aquisições no futuro.

Bessent, que possui milhares de hectares de lavouras de soja em Dakota do Norte, afirmou esperar que Trump continue pressionando Pequim a realizar compras adicionais.

A soja é o principal produto de exportação dos EUA para a China em valor. No ano passado, o país asiático comprou US$ 12,6 bilhões em soja americana, mas, após Trump impor tarifas elevadas sobre importações chinesas, Pequim passou a adquirir o grão principalmente do Brasil.

Estes são exemplares da soja selvagem milenar oriunda da Austrália, que estão semeadas na casa de vegetação da Embrapa Soja, em Londrina, no Paraná.. Folhapress/Mauro Zafalon

Os exemplares milenares exibem sementes menores, e folhas de flores de diferentes tamanhos e texturas.. Folhapress/Mauro Zafalon

Os exemplares milenares da Austrália são perenes, diferente dos cultivares atuais, que têm um ciclo 100 a 140 dias e depois precisam ser replantados. Folhapress/Mauro Zafalon

A seleção humana exigiu anos de tradição na agricultura e, posteriormente, de trabalho e avanços científicos em genética. Na foto, a pesquisadora da Embrapa Soja Mônica Zavaglia mostra um pé de soja selvagem. Folhapress/Mauro Zafalon

A variedade vinda dos EUA e semeada de 1920 a 1960 no Brasil, que está ao fundo, já exibia folhagem mais escura e frondosa, além de sementes similares ao padrão atual. À frente estão a soja selvagem perene australiana e a soja Glycine Soja milenar, da China.. Folhapress/Mauro Zafalon

A variedade Santa Rosa foi a primeira soja genuinamente brasileira. O cultivar foi desenvolvido para se adaptar ao clima e solo do país.. Folhapress/Mauro Zafalon

A perda do mercado chinês para a soja e outros produtos agrícolas reduziu o valor das colheitas e reacendeu temores, especialmente em áreas rurais, de uma nova crise agrícola como a dos anos 1980, com risco de falências em massa. O governo Trump chegou a preparar um pacote de ajuda federal para sustentar os produtores durante a colheita, mas o plano foi interrompido pela prolongada paralisação do governo.

"Isso vai trazer alívio", afirmou Bill Wilson, professor de agronegócio e economia aplicada na Universidade Estadual de Dakota do Norte. "E também vai aliviar a pressão política, mostrando que o governo Trump está tentando responder às demandas dos agricultores."

Wilson destacou, contudo, que há muitas dúvidas sobre o anúncio, incluindo sobre a fiscalização do pacto. O acordo comercial firmado por Trump com a China em 2020 também previa compras volumosas de produtos agrícolas americanos.

No entanto, a pandemia de Covid-19 interrompeu cadeias globais de suprimentos em 2020 e, segundo o Peterson Institute for International Economics, a China comprou apenas cerca de 83% do volume de produtos agrícolas dos EUA prometido até 2021.

Agora, os agricultores americanos esperam que o país asiático cumpra integralmente seus compromissos.

Líderes da American Soybean Association e do U.S. Soybean Export Council alertaram que o novo acordo ainda não foi assinado e que detalhes cruciais não foram divulgados, mas consideraram a notícia positiva.

Caleb Ragland, presidente da American Soybean Association, classificou o pacto como "um passo significativo para restabelecer uma relação comercial estável e de longo prazo que traga resultados concretos para as famílias do campo e para as próximas gerações".

O mercado reagiu de forma moderada às promessas de compra da China. Na abertura das negociações desta quinta-feira (30), o preço do bushel de soja estava em US$ 10,92. Após a entrevista de Bessent, subiu para cerca de US$ 11,06. Desde o início do governo Trump, os futuros da soja acumulam alta de cerca de 3%.

Mesmo assim, muitos silos e cooperativas aguardam pedidos concretos de compra antes de aumentar a aquisição de grãos. Em várias regiões do país, eles ainda oferecem US$ 10 ou menos por bushel entregue, cerca de US$ 2 abaixo do necessário para que os produtores cubram seus custos e alcancem lucro.

O acordo comercial entre EUA e China foi apresentado como uma medida de um ano, o que levanta dúvidas sobre se os compromissos agrícolas precisarão ser renegociados. Também não está claro se a China retomará as importações em larga escala de algodão, sorgo, nozes e outros produtos agrícolas.

Bessent acrescentou que outros países do Sudeste Asiático concordaram em comprar mais 19 milhões de toneladas de soja americana, embora não tenha especificado o período dessas compras. Segundo ele, o resultado mostra que "Trump entregou aos agricultores".

"Nossos grandes produtores de soja, que os chineses usaram como peões políticos, estão fora dessa disputa e devem prosperar nos próximos anos", declarou Bessent.

Alan Rappeport – The New York Times