JBS aumentou uso de óleo de fritura na produção de biodiesel em 2016
A modernização de seu parque industrial de biodiesel e a retração dos abates de bovinos levaram a JBS a recorrer, em escala inédita para a companhia, ao óleo de fritura recuperado para a fabricação do biocombustível no ano passado. Diante da menor oferta de sebo bovino – matéria-prima preferencial das duas fábricas de biodiesel da empresa –, a JBS processou cerca de 20 milhões de litros de óleo de fritura em 2016, e a tendência é que o uso do insumo aumente nos próximos anos.
"A redução dos abates abriu espaço para olhar a cadeia de matéria-prima", afirmou o diretor da JBS Biodiesel, Alexandre Pereira. Entre janeiro e setembro do ano passado, os abates de bovinos no país recuaram 3,1%, para 22,2 milhões de cabeças, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O investimento de R$ 15 milhões na modernização da planta de Campo Verde (MT) também estimulou a produção de biodiesel, o que exigiu mais matéria-prima.
De acordo com Pereira, o óleo de fritura adquiriu uma "escala muito boa" para a companhia, mas ainda há muito a ser explorado no Brasil. O executivo não detalha o volume exato de biodiesel produzido a partir do óleo de fritura, mas a relação de transformação do produto no biocombustível é próxima de um para um, segundo a assessoria técnica da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio).
A partir dessa relação, é possível inferir que o óleo de fritura representou perto de 10% da produção de biodiesel da JBS, que tem uma participação de 5% no mercado brasileiro de biodiesel. No ano passado, a companhia produziu 205 milhões de litros do biocombustível e faturou mais de R$ 530 milhões com as vendas nos leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O carro-chefe da JBS Biodiesel, porém, é mesmo o sebo bovino, enfatizou o executivo. Em geral, 80% do biocombustível produzido pela empresa é feito a partir da gordura animal. Antes de 2005, segundo Pereira, o subproduto da indústria de carne bovina chegava a ser descartado – ainda que uma parcela já fosse destinada à produção de sabão e sabonete.
Com a entrada do biodiesel na matriz energética brasileira – hoje, o óleo diesel deve ter 7% de biodiesel em sua composição –, praticamente não há mais excedente de sebo bovino no país, segundo o diretor da JBS Biodiesel. "O sebo bovino se tornou uma matéria-prima com valor agregado e hoje tem destinação adequada", disse.
Para a JBS, ingressar no mercado de biodiesel representou também a oportunidade de "arbitrar" as margens com a área de higiene, que usa o sebo bovino na produção de sabonetes para empresas como Johnson & Johnson, Nivea e Flora – esta última pertence à J&F Investimentos, a holding que controla a própria JBS. "É uma manobra estratégica dentro da divisão de Novos Negócios", acrescentou Pereira, citando a área à qual os negócios de biodiesel e higiene e limpeza são subordinados.
Com o aumento da participação obrigatória do biodiesel no óleo diesel já prevista em lei, a margem da JBS Biodiesel tende a ser beneficiada. Em março, a fatia do biocombustível na composição do diesel será elevada para 8% e, até 2019, chegará aos 10%.
De acordo com Pereira, o marco regulatório do biodiesel permite que a participação aumente ainda mais e alcance 15% após 2019, se o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizar. "Podemos chegar nos 15% até 2024, o que será excelente", projetou.
De fato, a indústria brasileira de biodiesel já tem capacidade instalada para produzir muito mais. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o parque industrial brasileiro pode fabricar 7,3 bilhões de litros de biodiesel ao ano. Em 2016, a produção totalizou 3,8 bilhões de litros. Pelas projeções da Abiove, a produção crescerá 51% até 2019, atingindo 5,7 bilhões de litros.
Agricultura familiar
Para disputar todo o volume de biodiesel comercializado nos leilões bimestrais da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as indústrias do país precisam do Selo Combustível Social, conferido pela Secretaria Especial da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário.
Até 2014, o Selo só era dado às indústrias que comprassem um determinado volume de oleaginosas produzidas por agricultores familiares, mas, em setembro de 2015, o governo federal incluiu a aquisição de sebo bovino no rol das matérias-primas que dão direito ao Selo Combustível Social.
Até então concentrada nas compras de oleaginosas – soja, principalmente – para obter o selo, a JBS começará a adquirir bois de agricultores familiares em 2017. De acordo com o diretor da JBS Biodiesel, Alexandre Pereira, o projeto começará por Rondônia, no município de São Miguel do Guaporé, mas também deve chegar aos Estados de Mato Grosso e São Paulo.
"Quando o programa do biodiesel foi pensado, ninguém imaginava que o sebo bovino iria virar a segunda estrela do programa", disse. Atualmente, o sebo é responsável por 15% da produção brasileira de biodiesel. O óleo de soja é o líder, com uma participação de 70%.
Para a JBS, obter o selo a partir da aquisição de bovinos faz "todo sentido", afirmou Pereira. Afinal, a empresa produz carne bovina. O executivo acredita que, após um período de adaptação dos pecuaristas, a JBS Biodiesel obterá o Selo Combustível Social apenas com a compra de bovinos, e não mais com soja.