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Pinhão-manso

Congresso apresentou avanços nas pesquisas com pinhão-manso


Embrapa Agroenergia - 30 nov 2011 - 07:09 - Última atualização em: 27 fev 2012 - 14:01

Até 2008, o plantio de pinhão-manso sequer era permitido no Brasil. Hoje, o País tem 27 mil hectares de área plantada com a oleaginosa, que já dá origem a biodiesel e bioquerosene de aviação. Mas a cultura ainda é muito mais um potencial do que uma realidade na produção de biocombustíveis. Para que esse cenário mude, muitas pesquisas estão em andamento e os resultados obtidos estão sendo apresentados hoje e amanhã, em Brasília, no II Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão-Manso.

O evento é promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Associação Brasileira de Produtores de Pinhão-Manso (ABPPM). Para o presidente desta última, Luciano Piovesan, um dos fatores que justificam o investimento na cultura é o seu alto teor de óleo, que supera a soja – grão que hoje é matéria-prima para cerca de 80% do biodiesel produzido no Brasil. Além disso, suas características físico-químicas são bastante favoráveis à produção de biocombustíveis, especialmente o bioquerosene de aviação.

O diretor-técnico da Gol Linhas Aéreas, Pedro Scorza, aposta no pinhão-manso como fonte para a produção de um combustível que permita à companhia reduzir suas emissões de carbono pela metade até 2050. A meta foi acordada pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) com a Organização das Nações Unidas (ONU). “O bioquerosene vai ser um divisor de águas no volume de emissões do setor”, opina Scorza.

Outro ponto a favor do pinhão-manso é que ele não concorre diretamente com culturas alimentares. Piovesan explica que ele pode ser plantado em consórcio com outras culturas e em áreas rurais que apresentam dificuldade de mecanização da colheita, o que contribuiria para o melhor aproveitamento do solo. Pesquisas realizadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) mostram bons resultados no cultivo do pinhão-manso em consórcio com o amendoim e o algodão. “É ideal que o produtor faça o cultivo consorciado com outra cultura”, diz o pesquisador da Epamig José Carlos de Resende.

Melhoramento genético
Em sua apresentação no congresso, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Junior, ressalta que a primeira necessidade é investir no melhoramento genético do pinhão-manso. “Não podemos ser surpreendidos com cultivares de baixa qualidade e pouca resposta”, chama a atenção. A Embrapa já concluiu quatro projetos de pesquisa envolvendo a oleaginosa e tem outros 18 em andamento. Eles envolvem 32 das 47 unidades da instituição e 488 profissionais. “A mobilização é muito grande na Embrapa e nas instituições parceiras nacionais e internacionais”, afirma.

O pesquisador da Embrapa Agroenergia Bruno Laviola, aponta três pontos principais nas pesquisas envolvendo pinhão-manso: o melhoramento genético, o sistema de produção e o aproveitamento da torta, que é o resultado do esmagamento dos frutos para a obtenção do óleo. Durante o congresso, ele destacou como resultado dos trabalhos a criação de um Banco de Germoplasma na Embrapa. “Sem materiais genéticos não é possível desenvolver variedades e, sem variedades, não se obtêm sistemas de produção”, justifica.

As pesquisas também já identificaram variedades que produzem até 1.500 quilos de óleo por hectare. “O desafio é obter a uma cultivar comercial que apresente essa produtividade”, explica. Avanços também estão sendo alcançados nos trabalhados para aproveitamento da torta. O principal problema é que ela contém ésteres de formol que a tornam tóxica e impedem o seu uso para a alimentação animal. Os pesquisadores já conseguiram reduzir a toxicidade em 90% e esperam conseguir reduzi-la a zero em pouco tempo. Laviola chamou a atenção para a necessidade de reunir os resultados das pesquisas realizadas até o momento para chegar a um sistema produtivo preliminar.

Para o representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, Jamil Macedo, os países latino-americanos devem se unir para pesquisar o pinhão-manso. “Uma rede pode facilitar o intercâmbio de material genético e fazer com que avancemos mais rapidamente”.

Biocombustíveis e desenvolvimento
O diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Arnaldo Vieira de Carvalho, diz que “biocombustível tem sido um tema que o Banco vem promovendo na América Latina porque acredita que pode ajudar a região a se desenvolver”. O secretário de Produção e Energia do MAPA, Manoel Bertone, também mostrou preocupação em fazer dos biocombustíveis um instrumento de desenvolvimento ambiental, econômico e social. “O nosso princípio básico é que devemos pulverizar a produção de agroenergia no País, diversificando as fontes”. Ele classificou como pioneiros os agentes envolvidos na cadeia produtiva do pinhão-manso e pediu que mantivessem o entusiasmo, o empenho e a confiança.

Na opinião do chefe-geral da Embrapa Agroenergia, a primeira fase do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel pode ser considerada um sucesso. “Nós saímos de uma produção zero, em 2005, para sermos hoje o maior consumidor mundial”. Ele mostrou que a expectativa é de aumento tanto na demanda interna quanto nas oportunidades de exportação, já que Estados Unidos e União Européia devem duplicar sua demanda até 2020. Mas faz uma ressalva: “temos que olhar para a questão da qualidade, se quisermos entrar no mercado externo”.

Com cerca de 300 participantes e 165 trabalhos expostos, o congresso continua amanhã (30/11), na Confederação Nacional de Trabalhadores no Comércio (CNTC), em Brasília. Na programação, estão previstas palestras sobre as pesquisas com pinhão-manso no Brasil e em países como México, Colômbia e Estados Unidos. Na quinta (01/12), boa parte do público envolvido no congresso estará reunido no Workshop Pan Americano de Sustentabilidade nos Plantios de Pinhão-Manso. O evento abordará principalmente o bioquerosene de aviação e a cooperação internacional nas pesquisas com a cultura. Ao final do workshop deverá ser elaborada uma agenda comum de trabalho, buscando a integração da pesquisa com a iniciativa privada. O workshop terá início às 8h, na Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF).

Vivian Chies