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Dendê / Palma

Pesquisa aposta na palma de óleo nativa da América para melhorar o dendê


Assessoria Embrapa - 27 mar 2019 - 17:02

O caiaué – Elaeis oleifera (Kunth) –, planta nativa das Américas do Sul e Central, é a aposta de cientistas brasileiros para aprimorar a qualidade e a durabilidade do óleo de dendê (Elaeis guineensis, Jacq.), palmácea originária da África e principal fonte mundial de óleo vegetal. As duas espécies possuem o mesmo gênero e são capazes de cruzar entre si, produzindo descendentes férteis.

O objetivo dos pesquisadores é desenvolver, por meio de melhoramento genético, materiais híbridos capazes de apresentar as melhores características de cada uma das espécies: o alto rendimento de polpa do dendê e a ótima qualidade do óleo obtido do caiaué. Principal produto da cultura, o óleo serve como matéria prima para diversos setores industriais, como os de alimentos, cosméticos, química e biocombustíveis.

Uma parceria entre a Embrapa Agroenergia (DF) e a Embrapa Amazônia Ocidental (AM) já selecionou cinco acessos do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de caiaué, que a Empresa mantém no Amazonas, e fez a caracterização química desses materiais, o primeiro passo para o trabalho de melhoramento genético.

“A hibridação interespecífica entre o caiaué e o dendezeiro tem como objetivo desenvolver cultivares tão produtivas quanto as de dendezeiro tipo tenera e com características do caiaué, como resistência a pragas e doenças, principalmente o distúrbio denominado amarelecimento-fatal (AF); elevada taxa de ácidos graxos insaturados; e menor crescimento vertical do estipe”, explica Raimundo Cunha, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental.

Com esse objetivo, a pesquisa avaliou os materiais buscando as características de baixa acidez, maior quantidade de óleo, maior quantidade de caroteno e outras vantagens. Ao fim, obteve melhores informações sobre esses acessos, o que permitirá realizar seleção mais criteriosa do parental ideal a ser cruzado com o dendê e desenvolver os híbridos entre as duas espécies.

“É um trabalho conjunto, para que a gente possa conhecer melhor a diversidade que temos no banco e explorar isso no programa de melhoramento tanto da Embrapa como de outras instituições”, informa Manoel Teixeira Souza Júnior, pesquisador da Embrapa Agroenergia.

O cientista conta que o dendê possui ótimo rendimento na produção de óleo, porém é muito perecível. Para que a colheita não estrague, é necessário que os cachos passem por tratamento em autoclave, processo que inativa as enzimas que deterioram o óleo. “Isso dificulta o trabalho do pequeno produtor, que é obrigado a levar sua produção a uma autoclave dentro de 48 horas, para que não perca o produto”, esclarece Souza Júnior.

É a alta acidez no óleo que obriga o produtor a inativar as enzimas nos cachos nesse curto período, caso contrário, o óleo cria ranço e fica inadequado para a indústria alimentícia. Empresas grandes têm fornos para autoclavar, ao contrário do agricultor familiar, que não conta com essa estrutura. “Por isso, é importante desenvolver variedades que o pequeno produtor tenha a possibilidade de colher os cachos, mantê-los na sua propriedade e ter tempo para comercializar, sem perder a qualidade devido à acidez”, explica Manoel Souza.

Já o caiaué produz um óleo cuja taxa de deterioração é muito mais lenta do que a do de dendê, permitindo que o produtor armazene os cachos por mais de uma semana sem risco de perda de qualidade. No entanto, ele produz menos óleo que o parente africano. Por isso, os cientistas almejam a planta híbrida que traga o melhor das duas espécies com alto rendimento de polpa, baixa acidez e vida mais longa após a colheita.

Resistente ao amarelecimento-fatal

A palma de óleo americana, como também é conhecido o caiaué, apresenta resistência ao pior mal que assola a cultura do dendê, o amarelecimento-fatal. “Os híbridos gerados com as duas espécies têm apresentado essa resistência também”, informa Manoel Souza, frisando que o óleo extraído dos híbridos interespecíficos tem apresentado baixa acidez (ácidos graxos livres – AGL) e maiores teores de ácidos graxos insaturados, características que indicam melhor qualidade.

A arquitetura da planta é outra vantagem destacada pelo cientista da Embrapa. De crescimento mais lento e baixa estatura, o caiaué permite uma logística de colheita mais fácil em comparação ao primo africano que, por sua vez, tem estatura mais alta, o que exige maquinário específico para o manejo.

Analisando os materiais

A pesquisa caracterizou, nos cinco acessos de caiaué (Careiro, Anori, Manicoré, Coari e Autazes), a composição de ácidos graxos, carotenoides totais, teor de óleo e conteúdo de ácidos graxos livres. Os que apresentaram as melhores características em termos de alto rendimento foram os acessos Coari e Careiro, e os de mais baixa acidez foram Manicoré e Coari. Os materiais recebem a mesma denominação dos municípios amazonenses onde foram encontrados.

Nesse estudo, os acessos foram submetidos a diferentes tempos de armazenamento em condição ambiente (1, 7 e 14 dias) antes do processamento, para avaliar a qualidade do óleo produzido. O conteúdo de óleo da polpa seca variou entre 31,36% e 50,34%. A análise cromatográfica gasosa revelou que o ácido oleico é o ácido graxo monoinsaturado predominante em todos os cinco acessos.

Após 14 dias de armazenamento dos frutos, a qualidade do óleo permaneceu sem grandes alterações para todos os acessos, apresentando níveis satisfatórios do conteúdo de ácidos graxos livres, situados entre 1,33% e 2,66%. O conteúdo total de carotenoides apresentou altas concentrações nos cinco acessos.

Esses resultados, como esperado, indicam que o caiaué contém menor teor de óleo de polpa do que as espécies africanas. Apesar disso, a palma americana possui menores valores de acidez, importante parâmetro na qualidade.

Os resultados desse trabalho foram relatados em artigo científico publicado na revista norte-americana Crop Science.