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Dendê / Palma

Aposta do Brasil, biocombustível de palma é criticado nos EUA e Europa


Globo Natureza - 10 fev 2012 - 10:28 - Última atualização em: 27 fev 2012 - 00:14

O óleo de palma, mais conhecido no Brasil como dendê, é uma das apostas brasileiras para produção de biodiesel.

Uma área já desmatada de até 318 mil km² (maior que o Rio Grande do Sul), localizada principalmente na região Norte, poderia ser ocupada pelo cultivo, de acordo com zoneamento agroambiental feito pela Embrapa. Petrobras, Vale e o governo federal, através do Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, são alguns dos atores que investem no crescimento da cultura.

Agora, as vantagens verdes do produto foram colocadas em xeque pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), que avaliou a emissão de CO2 no processo de produção, principalmente no desmatamento que pode ser gerado devido ao aumento a área plantada.

“A análise da EPA mostra que o biodiesel e o diesel renovável produzidos a partir do óleo da palma (...) não se qualificam para os requisitos mínimos de redução de 20% das emissões de gases de efeito estufa [em comparação com o petróleo bruto]”, diz comunicado da agência publicado em 27 de janeiro.

Demanda
A afirmação da EPA se baseia em um estudo que analisou a expansão mundial da palma para suprir o aumento da demanda dos EUA por biodiesel.

“O cenário projeta que Indonésia e Malásia serão os principais provedores de óleo de palma para biodiesel e que regiões na África, Tailândia e América Latina contribuiriam com volumes menores”.

Na Indonésia e na Malásia, o crescimento da produção de palma ocasionaria um aumento de áreas plantadas de cerca de 1 mil km², segundo a EPA. “Projetamos que 80% dessa área são florestas e áreas mistas [florestas e campos ou pastos]”, afirma o órgão ambiental.

Assim, o desmatamento aumentaria a pegada de carbono do biodiesel de óleo de palma. Além disso, a EPA avaliou de modo negativo a emissão de carbono pelos resíduos gerados no processo de produção do biodiesel.

Segundo o ministério do Desenvolvimento Agrário, a expansão da produção de palma no Brasil será feita com “desmatamento zero” e não vai gerar impacto ambiental.

“A nossa primeira preocupação é proibir o desmatamento. Não queremos que nosso programa ocorra na mesma ótica de programas como os da Ásia (...) Não podemos deixar que [o plantio da palma] prejudique a biodiversidade”, afirmou Marco Antonio Viana Leite, coordenador geral de biocombustíveis do ministério. Para ele, o plantio de palma ajudaria a evitar o desmatamento, pois forneceria alternativa de renda em áreas ameaçadas, aliviando a pressão à floresta.

De acordo com Alexandre Alonso, pesquisador da Embrapa Agrocologia, “a expansão [da palma] no Brasil vem sendo apoiada por estudos prévios, como o de zoneamento agroecológico”. A área identificada, com 318 mil km², foi desmatada até 2008 e poderia receber o plantio do dendê sem prejuízo para as matas nativas, segundo o governo.

Já a plantação da palma fora das áreas identificadas é proibida. Além disso, para obter financiamentos públicos é preciso ter a propriedade regularizada e reserva legal.

União Europeia
As críticas ao biodiesel de óleo de palma não vêm apenas da EPA. A versão online do jornal britânico "Guardian" publicou em 27 de janeiro dados de um documento vazado da União Europeia que dizem que sua produção emite mais CO2 que o petróleo bruto. A análise também leva em conta o desmatamento.

A Petrobras, a Vale e o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma são alguns dos principais motores do crescimento da produção de palma no Brasil.

Juntos, eles devem atingir uma área plantada de cerca de 6,3 mil km² (equivalente a três cidades de São Paulo) em 2018, triplicando a extensão atual.

Um dos principais atrativos para o plantio é sua alta produtividade. Enquanto a soja produz em torno de 500 kg a 600 kg de óleo por hectare, a palma gera até dez vezes mais, entre 5 mil a 6 mil kg, explica Alonso, da Embrapa.

“No Brasil, os projetos da Petrobras Biocombustível estão sendo implementados de forma que todo o processo produtivo -- da matéria-prima à produção industrial -- siga padrões de sustentabilidade baseados em princípios internacionais. (...) Eles estão alinhados às discussões mais atuais e foram elaborados com base na legislação brasileira, no posicionamento de órgãos de defesa do meio ambiente e de governos de vários países”, afirmou a Petrobras, em nota.

Produção
O investimento da Petrobrás na geração de biodiesel de palma é de R$ 900 milhões. A estatal estima que vai produzir anualmente 420 mil toneladas do biocombustível até 2018, quando toda sua capacidade estiver instalada, segundo sua assessoria de imprensa.

A Vale – que comprou em 2011 uma das maiores empresas do setor, a Biopalma - também aposta no biodiesel de palma. Ela pretende investir US$ 633 milhões para colocar em funcionamento cinco plantas extratoras do óleo, com capacidade de produção de até 360 mil toneladas a partir de 2015. O biodiesel seria usado para abastecer as operações da mineradora na região Norte, como locomotivas e equipamentos.

Já o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, voltado para a agricultura familiar, prevê dobrar a área plantada e a produção nos próximos dois anos, atingindo 240 mil hectares e 4,3 milhões de toneladas. Por enquanto, toda a produção é destinada para geração de óleo comestível. Mas o biodiesel também é um componente importante do projeto, de acordo com Viana Leite, do ministério de Desenvolvimento Agrário.

A Embrapa também atua na área do dendê. Ela realiza pesquisa sobre o aprimoramento genético da planta, além de produzir sementes para a expansão do cultivo.

De acordo com Alonso, a demanda é cada vez maior. Somente em 2011, foram cerca de 1,5 milhão de sementes, um aumento de 65% em relação a 2010. Em 2012, a expectativa é de elevar a produção para 2 milhões, segundo a unidade da Embrapa de Manaus.

Amanda Rossi

Tags: Dende Palma