Mamona colhida no semi-árido do Piauí será transformada em biodiesel
Há 1.810 agricultores familiares, entre homens e mulheres, trabalhando em um total de 3,6 mil hectares. A colheita começa em abril e prossegue até agosto, garantindo uma renda mensal de R$ 400 para cada agricultor.
Após o início da colheita o projeto será ampliado para o restante dos 28 municípios em até três anos. Todos os municípios ficam na região do semi-árido. Um dos objetivos do projeto, além da produção do biodiesel, “é transformar o Piauí num banco de sementes de mamona, podendo fornecer o material para os estados vizinhos”, destaca o diretor-superintendente do Sebrae no Piauí, José Trabulo Júnior. A instituição é uma das parceiras na execução do projeto.
Numa nova fase, a parceria para o desenvolvimento do projeto incluiu a participação do Sebrae, do Banco do Brasil e das prefeituras dos municípios envolvidos. Agora, o planejamento é estender o trabalho para os 42 municípios do semi-árido em até três anos.
“O Piauí é um potencial produtor de biodiesel, que vem se tornando uma prioridade do Governo Federal, pois além de diminuir a dependência brasileira pelo petróleo, de reduzir a emissão de dióxido de carbono na atmosfera, o biocombustível é considerado um excelente instrumento de geração de trabalho e renda, inclusão social e desenvolvimento regional”, afirma o diretor-superintendente do Sebrae no Piauí.
Biocombustível
De origem africana, a mamona é de fácil cultivo, é resistente a doenças e à seca e, segundo técnicos da Embrapa no Piauí, o biodiesel da mamona tem validade de três anos. Muito mais resistente que o biodiesel da soja, que possui durabilidade de 15 dias. Além de biocombustível, o óleo da mamona também é utilizado em lubrificações de naves espaciais, como componente em produtos de limpeza, como vermífugo, na indústria cosmética e na Medicina, como importante elemento para a formação de próteses ósseas.
Os agricultores assistidos pelo projeto recebem orientações técnicas e práticas, que vão desde a conceituação da planta, o espaçamento no plantio das sementes até a comercialização do produto. A idéia é comprovar que o plantio de mamona é um negócio que rende bons resultados num futuro próximo e por isso necessita de planejamento e cuidado por parte dos agricultores.
Para a agricultora Maria dos Anjos Rosa, a mamona será a realização de um sonho. “Quando menina, meus pais plantavam mamona e conseguiam sustentar a família. Depois o preço da mamona caiu e tivemos que fazer outras roças para poder viver. Agora quero melhorar e renda da minha família e realizar um sonho de criança: comprar uma pick-up para passear com meus filhos e netos”, afirma a agricultora que de tão empolgada com o projeto cantarola uma música composta por ela para amenizar o sol do semi-árido. “Assim, as horas e o trabalho passam sem a gente sentir”, diz Maria.
O plantio é feito em consórcio com o feijão caupi, pois o feijão produz nitrogênio, substância insuficiente na mamona. Com o plantio conjunto, as duas culturas apresentam uma convivência harmônica. Até o fim da colheita, no mês de agosto, os agricultores terão produzido 1,5 mil quilos de mamona por hectare e 1,2 mil quilos de feijão na mesma área.
Para o prefeito de São Raimundo Nonato, Avelar Ferreira, o agronegócio da mamona será mais uma fonte de sustentabilidade para o município. “Estou otimista com esse projeto, pois temos clima e solo apropriados e, no passado, a cultura da mamona foi o carro-chefe da economia do município. Estamos confiantes que a presença de parceiros como o Sebrae e o Banco do Brasil darão o tom da comercialização que os produtores precisam. Não adianta saber plantar e colher, é preciso saber comercializar, vender a mamona para que aumente a renda desses agricultores”, explica Ferreira.
Outro ganho para os municípios que fazem parte do projeto é a preservação e a melhoria do meio ambiente na região. O cultivo da mamona vai favorecer o Brasil no mercado internacional de certificados de carbono, ofertados pelo Protocolo de Quioto com a compensação financeira para a redução na emissão de gás carbônico.
De acordo com o veterinário e consultor do projeto, José Wellington Dias, a mamona é uma espécie de planta que seqüestra o gás carbônico da atmosfera. “A mamona tem uma característica especial nesse sentido. Nós estamos fazendo uma proteção ambiental e trabalhando com uma cultura que melhora a qualidade do solo, evitando a erosão. Trabalhamos o meio ambiente da região porque estamos entre duas áreas de proteção ambiental: os parques da Serra das Confusões e o da Serra da Capivara. Assim, conseguimos gerar trabalho e renda, além de preservar o meio ambiente produzindo um combustível renovável, sem poluição”, explica o consultor.