Alagoas: agricultores se preparam para primeira safra de mamona
Os pequenos produtores alagoanos se preparam para a primeira safra de mamona pelo Programa de Biodiesel do Estado. Após terem se frustrado com as perdas ocasionadas pela seca no ano passado, o grupo espera colher, a partir de setembro, cerca de 4 mil toneladas da oleaginosa. A matéria-prima será beneficiada pela Oleal, empresa privada que pertence ao Grupo Bananeira, de Arapiraca, parceira do projeto, e que venderá seu biodiesel para a Petrobras.
Com a colheita inaugural, Alagoas quebra o encanto e se insere definitivamente no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, do governo federal. O plantio começou em maio deste ano, em consórcio com o feijão, e ocupou 2 mil hectares de terra da região fumageira de Alagoas. A empreitada teve como ponto de partida a distribuição de 16 toneladas de sementes feita pela Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário (Seagri). A cultura está sendo desenvolvida por 500 núcleos de agricultura familiar dos municípios de Arapiraca, Girau do Ponciano, Craíbas, Traipu, Lagoa da Canoa, Taquarana, Limoeiro de Anadia, Coité do Nóia e Feira Grande.
“Esse é o primeiro passo de uma longa trajetória que percorreremos coletivamente”, define Francisco de Souza Irmão, presidente da Cooperativa Agropecuária Industrial de Arapiraca (Capeal), mais conhecido como Chico da Capeal. De acordo com ele, a produção de mamona no Estado tem grande potencial, mas ainda enfrenta desafios. “Aos poucos vamos vencendo os obstáculos. O principal deles ainda é a falta de assistência técnica. Nesta primeira safra tivemos o suporte de três técnicos agrícolas bancados pela Oleal. Agora aguardamos com muita ansiedade a recriação da Emater. Com essa nova empresa de pesquisa e extensão rural poderemos ampliar a área de cultivo e obter acesso às linhas de crédito disponíveis”, afirma.
Segundo Chico da Capeal, o cultivo da mamona é uma grande oportunidade para os agricultores familiares do Estado porque há garantia de venda da produção. “O Ministério da Agricultura indicou uma área formada por 33 municípios alagoanos localizados nas regiões do Agreste e do Sertão, onde se pode desenvolver o cultivo. Podemos ampliar a área cultivada em até 30 mil hectares, em consórcio com o feijão, a mandioca e o milho, o que promoveria a diversificação produtiva do Estado. Com essa área, incluiríamos cerca de seis mil núcleos de agricultura familiar no programa, atendendo à demanda da indústria beneficiadora que está coma sua capacidade ociosa por causa da escassez da matéria-prima”, conta.
O presidente da Capeal frisa que em Irecê, na Bahia, a produção de mamona elevou o padrão de vida dos pequenos agricultores. “Lá, eles pegam financiamento nos bancos públicos com juros baixos e incentivos. Aplicam, em média, R$ 600 na produção por hectare e conseguem um faturamento de R$ 3.200 por hectare com as safras de feijão e mamona”, contabiliza, citando que cada pequeno produtor, em média, detém 4 hectares.
“A mamona é uma cultura rústica, que precisa de pouco adubo e inseticida. Dela é possível se extrair o óleo combustível e o farelo pode ser aproveitado para fazer adubo orgânico. Sem irrigação, é possível produzir duas mil toneladas por hectare. Com a irrigação a produção duplica”. Chico da Capeal afirma que é preciso atrair mais produtores para o projeto e que o próximo passo dos pequenos agricultores que fazem parte do Programa de Biodiesel é encaminhar um projeto para a Seagri para pleitear máquinas “batedoras” de mamona. “O secretário (Jorge Dantas) se comprometeu em adquirir pelo menos dez desses equipamentos, que são vitais para os produtores e que custam R$ 210 mil”, diz.
Avanços – O coordenador do Programa de Biodiesel da Seagri, Fernando Lamenha, confirma a intenção da Secretaria em fazer a aquisição das máquinas para incentivar a produção de mamona e diz que o ideal é que haja uma máquina para cada município envolvido. “A atual gestão do governo tem mostrado especial interesse pela consolidação do projeto no Estado. Prova disso foi o aumento do volume de sementes distribuídas, que passou de 10 toneladas no ano passado para 16 toneladas este ano”, afirma, mencionando que 80% das sementes foram distribuídas entre os pequenos produtores.
Lamenha diz que as dificuldades ocasionadas pela carência de assistência técnicas começarão a ser equacionadas a partir de setembro deste ano, quando os bolsistas contratados pela Fapeal para dar apoio aos agricultores começarem a atuar no campo. “O Ministério do Desenvolvimento Agrário desembolsou R$ 4 milhões para que o governo investisse emergencialmente, e a Seagri já está aplicando esses recursos também na compra de veículos e equipamento”, ressalta.
Segundo o coordenador, outro obstáculo que também está sendo superado pelo Programa de Biodiesel no Estado é a falta de sementes de qualidade para serem distribuídas entre os pequenos agricultores. “O cultivo de mamona para produção de biodiesel é um evento relativamente recente na agricultura do país. Por isso, o mercado nacional dispõe de poucos fornecedores qualificados. Aqui em Alagoas temos um novo fornecedor de Ibateguara que faz parte do cadastro do Ministério da Agricultura. A demanda é tão grande que ele está ampliando sua produção para atender toda a região Nordeste”, conta.
Fernando Lamenha afirma que o programa está ampliando seu alcance nos assentamentos de Alagoas, fazendo a distribuição de sementes através do Instituto de Terras de Alagoas (Iteral). “Ainda este ano queremos aumentar a área de cultivo para os três mil hectares”, diz. Ele lembra que programa vem ganhando adesões e que conta com a união de forças de 14 entidades parceiras.
Patrycia Monteiro