Fundada há exatos 30 anos, a Potencial Petróleo construiu uma reputação sólida como uma das maiores distribuidoras de combustíveis regionais do país. Só que essa marca ficou pequena para um grupo empresarial que tem ambições superlativas para seu futuro. Por isso, anunciou, há poucas semanas, uma nova identidade: Potencial Combustíveis. O nome reflete o desejo da empresa de ser uma protagonista na transição energética.
BiodieselBR.com conversou com o vice-presidente do Grupo Potencial, Carlos Eduardo Hammerschmidt, sobre essas mudanças e as diversas apostas que o grupo vem fazendo para pavimentar seu caminho em direção ao futuro.
BiodieselBR.com – Com parte dos 30 anos de empresa, vocês fizeram um rebranding: deixaram de ser Potencial Petróleo para virar Potencial Combustíveis. O que querem comunicar com essa mudança?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Nesses 30 anos, tivemos muitas mudanças no mercado de combustíveis. Uma delas foi o aumento da nossa participação no mercado de biocombustíveis, algo que, acredito, continuará crescendo. A mudança da marca reflete essa evolução. Há muito tempo, a Potencial deixou de ser uma empresa que vendia só gasolina e diesel. Hoje, temos um portfólio de produtos muito mais amplo, especialmente com o biodiesel e a glicerina. No futuro, temos o objetivo de estarmos inseridos em todos os produtos renováveis que estiverem ao nosso alcance.
BiodieselBR.com – Com a aprovação do Combustível do Futuro, surgem novas perspectivas para o mercado de biocombustíveis em geral, e para o biodiesel em particular. Como vocês imaginam que isso vá impactar a Potencial?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – A Potencial já está preparada para essa ascensão do mercado de biodiesel. Estamos nos preparando para crescer desde sempre. Desde que começamos a produzir biodiesel, em 2013, nossa planta saiu de 170 mil m³ para uma capacidade de produção que, hoje, é de 900 mil m³. Multiplicamos o tamanho da planta por cinco em cerca de 10 anos. Fizemos isso mesmo sem o Combustível do Futuro, porque já acreditávamos que o Brasil daria uma oportunidade aos biocombustíveis. O Brasil pode ser a Arábia Saudita da energia verde, especialmente agora que, além do etanol e do biodiesel, temos também o biometano, o SAF e o diesel verde.
BiodieselBR.com – Vocês aproveitaram a cerimônia de sanção do Combustível do Futuro para anunciar uma nova expansão da usina de Lapa. O que levou vocês a decidirem por esse investimento?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – O Grupo Potencial quer atuar ativamente na transição energética em todas as esferas. Ter um dos maiores complexos de biocombustíveis do mundo é um objetivo que vem desde o início da nossa trajetória no mercado. Sempre acreditamos, ao estudar o setor de biodiesel, que poderíamos alcançar essa meta. Com fé e muito trabalho, chegamos até aqui. Atualmente, as maiores plantas estão na Indonésia, onde o biodiesel é fabricado a partir de óleo de palma. Agora, com a nova lei aprovada, que nos dá segurança jurídica e previsibilidade sobre o aumento da mistura, vamos ultrapassar essas usinas e alcançar nosso objetivo de sermos os maiores do mundo em um único complexo industrial.
BiodieselBR.com – Ao contrário de empresas que têm múltiplas usinas, a Potencial tem concentrado suas fichas em Lapa. Por que ficar com uma única usina?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Todo investimento tem seus riscos, mas acreditamos que centralizar nossas operações em um único local permitirá melhorar nossa eficiência operacional e atender melhor nossos clientes.
BiodieselBR.com – Qual você imagina que será a participação de mercado da Potencial após a ampliação?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Acredito que podemos atingir mais de 10% de participação no mercado nacional nos próximos anos.
BiodieselBR.com – Hoje, qual é o peso do biodiesel dentro dos negócios da Potencial?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Hoje, o biodiesel representa cerca de 40% do nosso faturamento.
BiodieselBR.com – Você falou sobre estar em outros renováveis, mas vocês já têm algo na mira?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Por enquanto, não. É só uma intenção e uma avaliação de mercado. Porém, comunicamos aos nossos clientes que queremos entregar um portfólio de produtos mais diversificado. Entramos de cabeça no mercado de biocombustíveis. Seja biodiesel ou outras moléculas que já existam ou venham a surgir, queremos participar da transição energética de forma sustentável.
BiodieselBR.com – Falando nessas novas moléculas, até agora o biodiesel esteve sozinho em campo. Agora isso mudou. A competição por mercados e matéria-prima com esses novos biocombustíveis preocupa vocês?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Eu não vejo esses novos biocombustíveis atrapalhando ou disputando nosso mercado ou matéria-prima. O diesel verde custa entre 60% e 70% mais do que o biodiesel. Além disso, o biodiesel já está aqui há mais de 20 anos. Ele não é um "combustível do futuro". Ele é o presente.
BiodieselBR.com – E em relação às matérias-primas?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – O agronegócio brasileiro é muito forte. Para o ano que vem, a perspectiva é que o Brasil colha pelo menos 150 milhões de toneladas de soja – e isso em um cenário pessimista! Nos cenários mais otimistas, já ouvi falar até em 170 milhões de toneladas. Além disso, estamos vendo novos entrantes na industrialização da soja, inclusive nós mesmos!
BiodieselBR.com – Eu ia justamente perguntar sobre a esmagadora que vocês estão construindo aí em Lapa. Como estão as obras?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – As obras estão a todo vapor e bem dentro do cronograma. Nossa perspectiva é que a planta possa começar a operar até o final de 2025. Inicialmente, teremos uma fase de testes, e a operação comercial de verdade está prevista para o primeiro semestre de 2026.
BiodieselBR.com – Um semestre não é pouco tempo. Vocês imaginam que esse início aconteça mais para o começo ou mais para o fim do semestre?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Uma obra de grande porte como essa é sempre algo complicado, fica difícil ser mais assertivo. Não controlamos o clima e, se tivermos um período muito chuvoso, pode haver atrasos. Mas, se tudo correr bem, lá por volta de março ou abril estaremos produzindo.
BiodieselBR.com – E como vocês estão se preparando para colocar essa planta em funcionamento?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Sem matéria-prima, não tem como produzir. Por isso, a primeira parte da obra que deve ser entregue são os silos. Isso permitirá que a gente entre na comercialização de grãos já no ano que vem. Assim, poderemos formar estoques para industrializar assim que a esmagadora ficar pronta.
BiodieselBR.com – Esses investimentos que o Combustível do Futuro procura catalisar podem promover a reindustrialização da economia brasileira?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Esse movimento é parte da chamada indústria 4.0, algo muito ligado à economia circular, que praticamente não existia no Brasil antes do biodiesel. Foi a partir do crescimento do biodiesel que a circularidade ganhou mais visibilidade, pois passou a ser possível reaproveitar óleos e gorduras residuais – como o óleo de fritura usado e a gordura animal – em grandes volumes. Os biocombustíveis também conseguem alavancar diversas cadeias produtivas. Acredito que eles serão a cereja do bolo para que o Brasil decole como protagonista global na agroindústria, no agronegócio e nos biocombustíveis, setores que se complementam no nosso país.
BiodieselBR.com – Mas o Brasil já não é um protagonista no agro?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Poderia ser mais. O biocombustível e o agro têm uma relação virtuosa na qual um impulsiona o crescimento do outro. Quando a produção de biodiesel cresce, a demanda por esmagamento aumenta. Isso, por sua vez, eleva a oferta de farelo e permite a expansão da pecuária, avicultura, suinocultura e outras produções. Esses avanços disponibilizam maiores volumes de graxas animais e óleos residuais, retroalimentando a produção de biodiesel. É um ecossistema de economia circular constante que fortalece o agronegócio como um todo.
BiodieselBR.com – Mas esse movimento todo leva tempo. Como a esmagadora da Potencial vai colocar esse farelo adicional?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Não tem como deixarmos de participar do mercado externo. Claro que vamos exportar farelo. Só o fato de industrializarmos a soja aqui já agrega muito mais valor do que exportar o grão in natura. Porém, acredito que temos oportunidades de fazer parcerias no mercado interno para direcionar nosso farelo à produção de rações animais. Vejo até sinergias entre os setores de biodiesel e de etanol de milho, pois é possível usar blends de farelos de milho e de soja para criar fontes de proteína vegetal mais avançadas. Acredito que o mercado de pecuária no Brasil pode crescer bastante justamente por esse aumento na oferta de insumos.
BiodieselBR.com – Vários players passaram a usar biodiesel puro nos últimos meses. Na maioria dos casos, são empresas com grande consumo de diesel e usinas próprias, como Amaggi, JBS e a própria Potencial. Você acha que pode surgir um novo mercado aí?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Acredito que sim, mas teremos que quebrar alguns paradigmas. Recentemente, compramos 10 caminhões Volvo com motor flex, que rodam tanto com biodiesel quanto com diesel S10. Como o diferencial de preço desse caminhão para um veículo tradicional não é grande, acho que esse primeiro passo da Volvo causará um efeito cascata nas outras montadoras. Isso permitirá que os transportadores escolham o combustível que desejam usar, como já acontece com donos de carros flex. Também há motores estacionários e geradores, e alguns grandes eventos já estão utilizando 100% biodiesel. Então, acredito que é questão de tempo até se formar um novo mercado.
BiodieselBR.com – No caso do carro flex, o etanol tende a ser mais barato do que a gasolina, ao contrário do que ocorre com o diesel. Qual seria o atrativo para os transportadores?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – O biodiesel é uma commodity cujos preços variam semanalmente. Já tivemos períodos nos quais o biodiesel era mais barato que o diesel mineral, e isso pode se repetir, especialmente com o aumento da oferta de soja e o crescimento na capacidade de esmagamento. Acredito que isso pressionará o mercado e que os preços do óleo de soja tendem a cair nos próximos anos. Além disso, as multinacionais estão exigindo que seus fornecedores operem de forma ambientalmente correta. Esse pode ser o principal incentivo para que transportadoras passem a usar biodiesel puro.
BiodieselBR.com – A esmagadora não é o único investimento relevante da Potencial. Vocês também anunciaram que vão ligar a usina de Lapa ao polo de distribuição em Araucária por meio de dutos. Como isso agregará em termos de competitividade?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Hoje, a única outra usina de biodiesel do Brasil que transporta produto por meio de dutos é a Cofco de Rondonópolis, mas o duto deles tem menos de três quilômetros. O nosso terá 55 km. Esse duto facilitaria muito a vida dos nossos clientes, pois eles não precisariam mais enviar caminhões até aqui. Teriam acesso ao biodiesel diretamente no pool deles. Toda a operação fica mais simples, e esse é o objetivo.
BiodieselBR.com – O duto já está em construção?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Ainda estamos na etapa do projeto. Ele não depende só de nós. Temos uma parceria com a Companhia Paranaense de Gás, que fará um duto de gás para interligar nossa planta diretamente à rede deles. A ideia é tentar viabilizar os projetos juntos o quanto antes. O duto de gás está previsto para ser entregue no primeiro semestre de 2026.
BiodieselBR.com – A Potencial também tem avançado no mercado de refino de glicerina. Quais são os planos para este segmento?
Carlos Eduardo Hammerschmidt – Queremos ampliar nossa planta de glicerina refinada. Nossa produção de glicerina bruta gira em torno de 7 mil toneladas por mês, o que dá cerca de 85 mil toneladas anuais. Desse total, já produzimos 45 mil toneladas de glicerina refinada, mas ainda restam entre 25 e 30 mil toneladas de glicerina bruta. Com a nova planta, queremos absorver toda a nossa produção. A meta é chegar, até o final do próximo ano, refinando de 7 a 10 mil toneladas de glicerina por mês.
Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com