BiodieselBR.com 05 nov 2021 - 11:14

O mercado de metanol já é enorme. E deve crescer ainda mais. As estimativas compartilhadas pela Methanex apontam que a demanda deve crescer cerca de 16 milhões nos próximos cinco anos. Em parte, esse crescimento está sendo alavancado pela própria companhia que vem atuando fortemente para conseguir abrir novos mercados para seu produto que pode ser um substituto mais limpo que outros combustíveis. E, para atender essa demanda crescente, a empresa vem investindo entre US$ 1,2 e 1,3 bilhão para instalar uma terceira unidade produtiva em Geismar, nos Estados Unidos.

Para saber mais sobre os caminhos que a empresa vem seguindo, BiodieselBR.com conversou com diretor de Marketing & Logística para a América Latina da Methanex, Sergio Almarza.

BiodieselBR.com – A Methanex está envolvida em um grande investimento nos Estados Unidos. Como está o andamento do projeto?

Sergio Almarza – Geismar 3 é uma planta de metanol com capacidade para fabricar 1,8 milhão de toneladas de metanol por ano adjacente às duas outras plantas que já temos em Geismar, na Louisiana. Em resposta às incertezas causada pela pandemia do Covid-19, havíamos colocamos o projeto numa manutenção e cuidados temporários em abril de 2020. Recentemente, nosso Conselho de Administração aprovou o reinício da construção com previsão de que a unidade entre em operação entre o final de 2023 e início de 2024.

BiodieselBR.com – Por que instalar uma terceira unidade em Geismar?

Sergio Almarza – A localização do projeto é estratégica pois conta com suprimento abundante e de baixo custo de gás natural. Além disso, estimamos que o Geismar 3 terá um dos mais baixos perfis de intensidade de emissão de CO2 do setor.

BiodieselBR.com – Qual é o porte desse projeto em termos financeiros?

Sergio Almarza – Estimamos os custos de capital totais ficarão entre US$ 1,25 a US $ 1,35 bilhão. O contexto do projeto tem sido favorável, pois os riscos são reduzidos e as obras estão se encaminhando para serem concluídas dentro do prazo e do orçamento. Além do aspecto financeiro, Geismar 3 será uma de nossas usinas de menor custo e maior eficiência na produção. Isso somado à abundante disponibilidade da matéria-prima e perfil favorável de emissões, faz que o projeto fortaleça o portfólio de ativos da Methanex.

BiodieselBR.com – Além da unidade de Geismar, a Methanex tem investimentos em capacidade produtiva em outras localidades?

Sergio Almarza – No momento, é um pouco prematuro falar de oportunidades de crescimento futuro. Nosso foco atual está na execução correta e segura de Geismar 3.

BiodieselBR.com – No ano passado, a Methanex chegou a paralisar parcialmente suas unidades no Chile e em Trinidade e Tobago. Como está a situação hoje?

Sergio Almarza – De fato, essas foram algumas das ações tomadas à luz da grande incerteza e desaceleração causada pela pandemia. Paramos Chile IV em abril de 2020 em resposta à redução na demanda global de metanol. A expectativa atual é recebermos entregas de gás suficientes no quarto trimestre para voltar a operar as duas plantas no Chile quando a temporada de inverno terminar. Com relação a Trinidade, anunciamos em janeiro de 2021 que a planta Titan permaneceria inativa indefinidamente uma vez que não foi possível chegar a um acordo de longo prazo aceitável para o fornecimento de gás natural. No momento, toda a produção no país está vindo da Atlas. Apesar disso estamos otimistas de que seremos capazes de garantir um acordo positivo de gás natural de longo prazo em Trinidade que permita a reativação da Titan. No entanto, é um desafio fazer previsões, pois ainda temos que chegar a um acordo mutuamente aceitável.

BiodieselBR.com – A Methanex não é o único player de metanol que vêm ampliando sua presença nos EUA em função da oferta de gás natural. Como isso vem modificando o mercado?

Sergio Almarza – O cenário de gás natural nos Estados Unidos tem facilitado o crescimento do setor. A crescente demanda por metanol e o cenário de preços da energia, sugerem que será necessário um nível de produção maior. Recentemente, fizemos revisões de nossos cenários de médio e longo prazos e, com base nesse trabalho, temos uma visão positiva para os próximos cinco anos. A demanda global ao final do período deve crescer em torno de 16 milhões de toneladas, o que é representa um crescimento de 4% ao ano. Do lado da produção, vemos que está prevista a entrada de cerca de 14 milhões de toneladas em nova capacidade. Ou seja, há espaço para a produção continuar a crescer para abastecer o mercado

BiodieselBR.com – De que forma o deslocamento da produção de metanol para os EUA muda a oferta do produto para o Brasil?

Sergio Almarza – É importante entender o mercado de metanol de uma perspectiva global. Como já mencionamos, a visão hoje é que o mercado continuará se desenvolvendo de forma constante nos próximos anos. Na Methanex, estamos confiantes na capacidade de nossa cadeia de suprimentos, que está instalada em pontos estrategicamente localizados em diferentes regiões, para abastecer nossos clientes em todos os mercados com a segurança necessária para acompanhar seu crescimento.

BiodieselBR.com – A indústria de metanol vem fazendo um esforço para abrir o mercado de combustíveis marítimos a seu produto. Quais são as vantagens em relação aos combustíveis navais convencionais?

Sergio Almarza – O metanol é um combustível seguro, comprovado e de custo competitivo para o setor de transporte marítimo comercial que tem a vantagem de reduzir substancialmente as emissões de poluentes locais como óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e material particulado. Também reduz emissões de CO2 em até 15%. Se for um metanol renovável, a redução pode chegar a 95%. Tivemos o prazer de ver a publicação das diretrizes que a Organização Marítima Internacional (IMO) publicou em dezembro passado reconhecendo o metanol como um combustível naval. A publicação foi um passo importante.

BiodieselBR.com – Quando a Methanex começou a trabalhar esse novo nicho de mercado?

Sergio Almarza – Em 2016, começamos a colaborar com nossos parceiros para demonstrar que o metanol é um combustível viável e capaz de atender às mais rígidas regulamentações de emissões no segmento marítimo. Operamos navios movidos a metanol há mais de cinco anos e comprovamos a tecnologia. Já temos 12 embarcações com combustível flexível e prevemos chegar a 60% da frota da Waterfront Shipping [subsidiária da Methanex que se dedica ao transporte naval de produtos químicos] será equipada com essa tecnologia até 2023. Recentemente anunciamos uma parceria estratégica com a Waterfront Shipping e a Mitsui O.S.K. Lines para trabalharmos juntos na promoção do metanol como um combustível marítimo de baixa emissão. Estamos satisfeitos que nossos primeiros investimentos nesta inovação estejam se expandindo pela indústria naval com várias outras empresas começando a usar ou comissionando seus próprios navios movidos a metanol.

BiodieselBR.com – Além deste, quais outros mercados vêm sendo cultivados pela indústria?

Sergio Almarza – Um dos principais seria o de combustíveis veiculares. O metanol é um combustível líquido alternativo, de ampla disponibilidade, custo acessível e combustão eficiente. Ele já é usado em misturas de gasolina por todo o mundo e, também, como substituto do diesel em veículos pesados. Na China, padrões de qualidade do ar estão apoiando a adoção do metanol em veículos. Nos últimos dez anos, a Methanex tem trabalhado com a fabricante de automóveis Geely e outros parceiros na China para apoiar o M100, que é uso de metanol puro em veículos. Outro mercado importante é o aquecimento em aplicações industriais e domésticas; de caldeiras e fornos indústrias até fogões de cozinha. A demanda por metanol nesse nicho também foi impulsionada pela China, onde o metanol mais limpo está substituindo o carvão como fruto de regulamentações ambientais.

BiodieselBR.com – A Methanex também tem uma atuação bastante forte na promoção da segurança no manuseio do metanol. Como estão essas atividades agora?

Sergio Almarza – Temos uma profunda preocupação com as pessoas e o meio ambiente e acreditamos que nosso negócio deve ter um impacto positivo. Na Methanex, aderimos aos mais elevados princípios de saúde, segurança, proteção ambiental e responsabilidade social, por isso o uso responsável do metanol é um pilar fundamental de nosso trabalho como empresa, e é um aspecto em que buscamos contribuir com a indústria de biodiesel no Brasil que acompanhamos desde suas origens.

BiodieselBR.com – Como os treinamentos e o acompanhamento têm sido feitos durante a pandemia?

Sergio Almarza – O último ano e meio foi um grande desafio, mas temos focado esforços em nos adaptar para não deixar de acompanhar nossos parceiros. Uma das iniciativas que promovemos são os webinares para a formação de funcionários. Através desta plataforma, pudemos realizar mais de 15 sessões de treinamento com a participação de mais de 500 pessoas e 50 organizações diferentes. Também continuamos a desenvolver materiais, como guias de informação técnica, e continuamos a colaborar com os terminais onde operamos e nossos prestadores de serviços logísticos de forma garantir um ótimo nível de segurança e qualidade. Tudo isso alinhado com o objetivo de continuar a promover a Gestão Segura do Produto ou “Product Stewardship”

BiodieselBR.com – Com tópicos ligados à sustentabilidade se tornando mais relevantes no mundo de negócios, que ação a Methanex vem desenvolvendo?

Sergio Almarza – O tema da sustentabilidade tem sido um foco relevante com o qual vemos grande alinhamento em nossa atuação na indústria do biodiesel no Brasil. Em junho passado, lançamos nosso relatório de sustentabilidade de 2020. No documento compartilhamos nosso progresso nos tópicos de ESG de maior importância para nossos negócios e as partes interessadas. Por exemplo, fizemos um pedido de oito novos navios movidos a metanol para a frota da Waterfront Shipping. Destacamos também a obtenção do International Sustainability & Carbon Certification (ISCC) para o biometanol fabricado a partir do biometano nas fábricas da Geismar e para a produção de metanol de baixo carbono na planta de Medicine Hat, Canadá, a partir de dióxido de carbono capturado de indústrias vizinhas. Além disso, criamos uma equipe focada em avançar nos esforços de diversidade e inclusão e investimos cerca de US $ 1,7 milhão e 7.400 horas em ações de voluntariado nas comunidades em que estamos inseridos.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com