BiodieselBR.com 25 out 2021 - 08:44

A BASF é uma das parceiras mais importantes da indústria nacional de biodiesel. A gigante alemã do setor químico está entre as maiores produtoras globais de metilato de sódio – o principal catalizador utilizado pelas usinas – com um polo importante de produção do insumo em seu complexo em Guaratinguetá (SP). Mas a empresa não se contenta em ser apenas uma das líderes globais da indústria química, ela também vem trabalhando duro para ficar na vanguarda da sustentabilidade com a adoção de metas agressivas.

Sobre os planos da BASF, BiodieselBR.com conversou com o gerente regional de Energias & Utilidades da BASF, Waldemilson Muniz

BiodieselBR.com – A BASF está entre as empresas globais que anunciaram metas para zerar suas emissões de carbono até 2050. Como a empresa está se organizando para atingir esse objetivo?

Waldemilson Muniz – A BASF monitora as emissões de CO2 desde 1990 por meio de ferramentas internas de gestão que possibilitam estratificar as emissões por país, por site, por planta e até por processo. Devido ao conhecimento detalhado das fontes de emissões, o planejamento de investimentos e a tomada de decisão de medidas para curto e médio prazos são facilitados. Algumas medidas requerem alterações significativas e desenvolvimento de novas tecnologias e processos que demandam tempo e suporte financeiro.

BiodieselBR.com – Há quanto tempo a BASF vem incorporando metas de descarbonização em suas operações?

Waldemilson Muniz – As globais foram anunciadas no final de 2018 junto com um conjunto de metas financeiras e não-financeiras que formam a “New BASF”. Com respeito à descarbonização, num primeiro momento o objetivo foi fazer com que as emissões em 2030 se mantenham nos níveis 2018, considerando o crescimento orgânico das operações; além de atingir a neutralidade em carbono equivalente em 2050. Em fevereiro passado a BASF estabeleceu metas ainda mais ambiciosas que é a redução de 25% das emissões para 2030 em comparação com os números de 2018.

BiodieselBR.com – De que forma as metas de descarbonização da companhia estão sendo traduzidas para a operação brasileira?

Waldemilson Muniz – Apesar da matriz energética brasileira ter um índice de fontes renováveis um pouco acima 80%, as operações brasileiras e da América do Sul têm trabalhado fortemente para atingir as metas de 2030 e 2050. No Brasil, temos um time avaliando cada processo e, junto com as unidades de negócio, buscando reduzir ou até eliminar as emissões de CO2. Temos conversas frequentes com especialistas para intercâmbio de experiências e conhecimento que possam ser aplicadas em nossas operações aqui da região. Desde 2016, desenvolvemos, em parceria com a Universidade Estadual Paulista, uma importante iniciativa denominada Triple E [Excellence in Energy Efficiency] que tem como objetivo a otimização no consumo em nossa unidade de Guaratinguetá. O complexo químico também foi o primeiro Brasil a receber a certificação ISO 50001, que auxilia companhias a estabelecerem práticas mais eficientes de gestão energética.

BiodieselBR.com – Qual a importância da unidade de Guaratinguetá nas operações da empresa?

Waldemilson Muniz – A BASF de Guaratinguetá possui o maior complexo químico da América do Sul. Ao todo, são 11 unidades produtivas que atendem diferentes divisões de negócios. Nesta localidade são produzidas matérias-primas para a indústria de calçados, automotiva, biodiesel, adesivos, resinas, tintas, detergentes e cosméticos, além de produtos para proteção de cultivos.

BiodieselBR.com – A unidade de metilato é relevante no contexto de uma operação deste porte?

Waldemilson Muniz – A unidade de metilato é altamente representativa no volume de produção do site e é a terceira maior consumidora de energias do site com 17% do total. Esta unidade teve suas operações iniciadas em 2011 com 60 mil toneladas por e, em 2020, passou por uma expansão de 30% chegando a 80 mil toneladas ao ano. Esta planta tem sido constantemente otimizada e possui um sistema de gestão energética avaliado mensalmente e com adoção de metas de eficiência energética anuais.

BiodieselBR.com – A BASF completou uma ampliação relevante da unidade de metilato no ano passado. Nos últimos meses, no entanto, a Argentina reduziu a mistura pela metade e um mercado muito turbulento no Brasil. Como vocês vêm avaliando as perspectivas do setor de biodiesel?

Waldemilson Muniz – Posso dizer que a BASF faz seus investimentos pensando no longo prazo. A ampliação da capacidade de produção de metilato no complexo de Guaratinguetá teve o objetivo de acompanhar o crescimento da indústria de biodiesel no Brasil e região nos próximos anos. Procuramos oferecer segurança de abastecimento e previsibilidade para os produtores, com entregas mais ágeis, permitindo o planejamento para toda a cadeia nacional.

BiodieselBR.com – Sustentabilidade não se resume ao balanço de carbono. Que outras iniciativas voltadas à sustentabilidade vocês desenvolvem lá?

Waldemilson Muniz – A BASF possui claramente metas globais de sustentabilidade que focam na emissão de CO2, na eficiência energética, na gestão de resíduos e de água. Na eficiência energética já conseguimos uma redução do consumo da ordem de 88 GWh por ano o que corresponde ao consumo de 35,5 mil pessoas. Redução de 16,6 mil toneladas de CO2 equivalente por ano. Esses dados representam uma economia de mais de R$ 22,31 milhões e renderam diversos prêmios e reconhecimentos internos e do mercado, tanto no Brasil como no Chile. Outra iniciativa a se destacar é a gestão de águas da BASF que também possui metas globais e regionais de consumo.

BiodieselBR.com – Como é feita a gestão de resíduos do complexo?

Waldemilson Muniz – A BASF também tem uma meta regional que é reduzir em 28% a geração de resíduos dispostos por tonelada produzida. Temos uma iniciativa piloto em Guaratinguetá que é chamada de MAWERYC [MAnagement Waste and recovERY Cycle]. O objetivo desta iniciativa é buscar integração e otimização dos processos para a eliminação, redução, reuso, reciclagem, transformação de resíduos em energia e finalmente a busca de tecnologias de disposição e destruição mais limpas. Economia circular também é nosso foco. Todos estes objetivos estão associados com a redução de custos e menor impacto ambiental.

BiodieselBR.com – Por que reflorestar um sítio industrial? Desde quando vocês vêm recuperando a mata no complexo de Guaratinguetá?

Waldemilson Muniz – Há tempos a BASF de Guaratinguetá vem desenvolvendo ações de recomposição da matar ciliar no trecho do complexo que margeia o Rio Paraíba. Em 1984, a BASF iniciou a recuperação de 100 metros de mata ciliar às margens do rio. Este projeto é denominado Mata Viva®. São 1,4 quilômetros de extensão nos quais o rio flui ao lado da área da empresa, área equivalente a 185 campos de futebol. Hoje, essa é a maior área verde urbana da cidade. Além de Guaratinguetá, o projeto também está presente na unidade de Santo Antônio de Posse (SP), totalizando quase 174 hectares de florestas restauradas.

Em 2012, a BASF estabeleceu uma parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo para identificar oportunidades e aumentar a biodiversidade das espécies. Isso levou ao desenvolvimento do Plano de Manejo Florestal para substituir espécies exóticas invasoras possibilitando uma melhoria significativa do manejo do reflorestamento e o incremento da biodiversidade com o intuito de incentivar a regeneração natural e a perpetuação da floresta. Segunda a Esalq a quantidade estimada de carbono removida pelas florestas mantidas pelo projeto Mata Viva® foi de aproximadamente 33,5 mil toneladas de CO2. Isso apenas em Guaratinguetá.

BiodieselBR.com – O projeto se encerra no complexo da BASF?

Waldemilson Muniz – Não. Com o know-how adquirido, a BASF criou o Programa de Incentivo ao Produtor de Água que recupera matas ciliares, nascentes e implementa ações de conservação do solo com o objetivo de propiciar o aumento da disponibilidade de água. Este programa está focado no ribeirão Guaratinguetá que é responsável por 95% do abastecimento público do município.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com