Soja acentua inflação dos alimentos no mundo
O preço da soja atingiu o maior nível em 34 anos, impulsionado pela demanda chinesa e pelos temores de que os atuais preços não estejam altos o suficiente para promover uma substituição do plantio de milho para o grão nos EUA, os maiores produtores de soja do mundo. Os contratos futuros negociados em Chicago registraram ontem alta de 5,75 centavos e fecharam a US$ 1,11350 por bushel.
Os analistas advertem: a alta nos contratos futuros da soja pode ressoar na cadeia de suprimento, elevando os preços da carne e frango já que a soja é utilizada como ração animal.
A alta nos custos da soja pode levar a uma redução na produção de suínos, bovinos e caprinos, abrindo caminho para uma alta de preços também da carne. A inflação nos alimentos já preocupa. Na Alemanha, atingiu 3% pela primeira vez desde 1995 devido aos custos de energia e alimentos. A inflação chinesa, por sua vez, subiu para o maior percentual em dez anos.
Ao lado do milho, arroz e do trigo, a soja é uma lavoura-chave para o mundo. Cerca de 80% do grão é processado em ração e 20% é convertido em óleo para consumo humano e biodiesel.
E a América Latina, sobretudo o Brasil, são vitais para compensar uma queda na produção americana, diz Peter Thoenes, da FAO. “Qualquer eventual mau tempo na América do Sul poderia levar a uma guinada nos preços”, diz.
A demanda alta combinada à menor área plantada acabaram por reduzir os estoques globais da soja, segundo estimativas da FAO. Atualmente, os estoques equivalem a só 10% da demanda.
O governo chinês recentemente encorajou as compras do grão, reduzindo temporariamente a tarifa de importação de 3% para 1%, no esforço de puxar para baixo os preços locais da soja. Pequim espera impulsionar sua produção suína, afetada por uma doença que matou milhões no início do ano.
A China é o maior importador do grão, com 40% do comércio global, seguido por Europa e Japão.
Os EUA são os maiores produtores de soja domundo, comparticipação de cerca de 38% do mercado, segundo o Deutsche Bank. A soja é a terceira maior cultura do país, depois do milho e do trigo. O Brasil e a Argentina seguem tem segundo e terceiro lugar, entregando cerca de 43% do volume global.
O fornecimento da soja também foi pressionado por produtores no Brasil que estão relutantes em aumentar a área plantada. Desde o começo de 2006, o real registrou valorização de 23,5% em relação ao dólar, compensando os preços recordes da bolsa de Chicago. Para traders, sem mais produção no Brasil e nos Estados Unidos, os custos da soja continuarão altos.
Javier Blas
Financial Times