Sob rumor de venda, Agrenco sobe 90% na semana
“Patinho feio” em 2008, a Agrenco chega ao fim deste ano como uma das estrelas da Bovespa. Nesta semana, incluindo o avanço desta quinta-feira, a valorização de seus papéis já supera os 90%. Com as altas recentes, ocorridas sob o rumor de que a empresa seja vendida (o que é negado por ela), a valorização acumulada é de 1.200% em 2009, ano em que a empresa esteve perto de interromper suas atividades indefinidamente.
A Agrenco, que atua no comércio internacional de commodities agrícolas, em particular de soja, foi uma das protagonistas da onda de aberturas de capital que varreu o mercado de capitais brasileiro em 2007. Foi também uma das grandes decepções: poucos meses após a oferta pública inicial de suas ações (IPO, na sigla em inglês), na qual levantou R$ 666 milhões, a Agrenco enredou-se em dívidas com fornecedores e pedidos de falência e interrompeu suas atividades.
Seus papéis, que estrearam na bolsa valendo R$ 10, desceram à casa da dezena de centavos. Ontem, subiram 35,8%, para R$ 2,54, maior valor desde junho de 2008. Nesta quinta, até as 14h21min, uma nova alta, de 11,4%, levou a cotação para R$ 2,83.
A empresa está em recuperação judicial desde o ano passado. Em junho, antes de o pedido de recuperação ser autorizado pela Justiça, alguns executivos da empresa – entre eles Antônio Iafelice, que fundou a Agrenco em 1993 – foram presos ao fim da Operação Influenza, da Polícia Federal, que apontou indícios de crimes como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e corrupção. Neste ano, a Justiça considerou inválidas as provas obtidas pela PF na operação.
Ao longo do processo de recuperação, a Agrenco fechou acordos com os credores para reescalonar dívidas que, no ápice, chegaram a R$ 1 bilhão. Também ocorreu acordo para que a Glencore, multinacional com sede na Suíça que se dedica ao comércio de commodities agrícolas e não-agrícolas, ficasse responsável pela parte operacional da Agrenco – sem, contudo, ser dona da empresa brasileira.
Os rumores de que a Glencore possa fazer uma oferta de compra da Agrenco têm sido os maiores responsáveis pela valorização recente dos papéis da empresa. Nesta quinta-feira, em comunicado, a Agrenco informou que “não existe nenhuma operação de capitalização da Agrenco ou de suas subsidiárias que seja do conhecimento de seus administradores”. A Agrenco diz ainda que “a Glencore foi contratada como operadora dos ativos”. O plano de recuperação prevê prioridade à Glencore em caso de a Agrenco ser colocada à venda no futuro.
Rumores à parte, a Agrenco continua tentando retomar suas atividades operacionais – no momento, a empresa dedica-se apenas às atividades de escritório. Ela tinha três fábricas de beneficiamento de oleaginosas e produção de biodiesel, todas inacabadas. O dinheiro obtido com a venda de uma delas, localizada em Marialva (PR), tem sido usado para a conclusão das outras duas, que ficam em Caarapó (MS) e Alto Araguaia (MT).
“A operação deve iniciar-se no início da safra de 2010”, segundo a nota da Agrenco. No total, os investimentos somam R$ 60 milhões. Parte dos recursos veio da venda da unidade paranaense para a BSBios e parte foi obtida com a liberação de estoques de soja que estavam penhorados como garantia de pagamento de dívidas.