Rede Ambiental flagra projeto de mamona produzindo ilegalmente carvão
O ambientalista Judson Barros, da Rede Ambiental do Piauí, apresentou no Jornal do Piauí desta quinta-feira (17) imagens da Fazenda Santa Clara, projeto da Brasil Ecodiesel no município de Canto do Buriti (435 quilômetros ao sul de Teresina) para a produção de mamona, que seria utilizada para produzir biodisel em Floriano. Nas imagens gravadas no último sábado, de acordo com Judson, o uso do local teria sido desvirtuado para a produção ilegal de carvão.
O Núcleo de Produção Comunitária Santa Clara já contou com cerca de 600 famílias assentadas e recebeu em agosto de 2005 a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a lembrar de suas origens nordestinas e se emocionou com o projeto. Nele, as famílias recebiam R$ 160 por mês, uma antecipação do pagamento pela mamona produzida. Segundo Judson Barros, várias famílias não têm mais condições de pagar pela mamona por não haver produção, e estão deixando a fazenda.
No entanto, o que há no local é carvão. Judson declarou que a área seria de 40 mil hectares, e somente 2,5 mil destes receberam plantação de mamona, e o restante do terreno foi desmatado. A lenha do cerrado teria virado carvão mesmo sem licença ambiental para isso. "O projeto foi concebido e licenciado pelo Ibama para mamona, não para fazer carvão", denunciou Judson, mostrando as imagens do que ele denominou como sendo "um Albertão cheio de lenha". Ele aguarda providências do Ministério Público após as denúncias.
Por telefone, o chefe de fiscalização do Ibama no Piauí, Carlos Moura Fé, contestou os números divulgados por Judson Barros. Ele informou que a área na verdade seria de 18, e não 40 mil hectares. E destes, a empresa só conseguiu, por problemas operacionais, fazer o desmatamento de 4 mil hectares, ainda que o Ibama tivesse concedido autorização para desmatar 10 mil hectares para a plantação de mamona e feijão.
Moura Fé declarou ainda que já havia recebido a denúncia em 2007, e uma equipe do Ibama foi ao local em junho do ano passado ao local, onde não teria sido constatada a transformação da fazenda de mamona em carvoaria. "A equipe não constatou nenhuma produção de carvão em larga escala", declarou.
O chefe de fiscalização disse que as imagens não caracterizam produção de carvão, já que mostram apenas o produto estocado. No entanto, confirmou que a empresa não possui autorização para produção em larga escala e enviará nova equipe ao local. "Eles não tem nem o licenciamento ambiental para fazer carvão e nem autorização específica do Ibama para transportar esse carvão para qualquer lugar do Brasil", informou Moura Fé.