Portugal: Fábricas de biodiesel procuram novas alternativas de negócio
O negócio dos biocombustíveis já não é o que era. Quem o diz são os próprios operadores do sector em Portugal. Quer os que têm fábricas a produzir quer os que têm projectos em marcha ou em construção. O aumento do custo das matérias-primas, nomeadamente do milho, foi um dos factores que vieram prejudicar a rentabilidade das unidades de produção. A concorrência cada vez maior nos mercados interno e externo e as limitações ainda existentes à incorporação de biocombustíveis nos combustíveis são dois dos elementos que mais afectam o negócio.
Por isso, as empresas começam a repensar as estratégias. Uma das soluções passa por estarem na produção agrícola e de óleos. Ou seja, verticalizar a produção e ter um negócio complementar. Assim, podem ganhar o que já não conseguem retirar do negócio de biocombustíveis.
Ou apostam para outros mercados. A Prio, empresa controlada pela Martifer, investe na Roménia, enquanto a Iberol, uma das primeiras empresas a produzir biodiesel em Portugal, está a negociar a construção de uma nova unidade na Argentina. "Porque em Portugal já há projectos a mais ", diz o responsável desta última empresa, João Rodrigues. O investimento da Iberol naquele mercado da América Latina será da ordem dos 30 milhões de euros.
"O biodiesel já deu o que tinha a dar", diz João Cardoso, responsável da Torrejana, empresa que criou também uma das primeiras fábricas produtoras de biocombustível em Portugal, há cerca de dois anos. "O ano bom foi mesmo o do arranque da fábrica", sublinha. Agora, é um negócio para se gerir com muitas cautelas. A estratégia da empresa passa por criar uma unidade de refinação de óleos alimentares, como complemento do negócio dos biocombustíveis. Um projecto já pensado, mas ao qual ainda não tinham necessidade de recorrer.
A Torrejana, tal como outras das empresas contactadas pelo DN, tem em vista entrar na produção de matéria-prima. Mas só a nível nacional. O custo destas é, para João Cardoso, um factor de preocupação. Mas a não obrigatoriedade de incorporação de biocombustíveis no combustível que consumimos é, no seu entender, tão ou mais preocupante.
"Precisamos de saber quais as quotas finais de produção com que ficamos e a percentagem de biodiesel a incorporar no diesel nos próximos anos em Portugal para podermos definir as nossas estratégias com segurança", afirma. Aspectos que cabe ao Governo clarificar.
Opinião em parte partilhada por João Rodrigues, da Iberol, responsável por outra das primeiras unidades de produção de biodiesel a nascer no País, mais concretamente em Alhandra. Um negócio que permite à empresa aproveitar o óleo, um subproduto da sua outra actividade, a produção de rações.
Em Portugal, como noutros países da Europa, os Estados exercem um demasiado controlo sobre a produção de biocombustível, através da isenção do imposto sobre produtos petrolíferos e isso constitui um dos obstáculos ao de-senvolvimento dos projectos. Que o diga a Enerfuel, que viu o seu pedido de isenção de ISP indeferido, numa altura em que está a acabar de construir a sua fábrica em Sines.
Os novos projectos vão ter ainda um desafio maior para vingar neste novo mundo dos biocombustíveis. Até porque a capacidade de produção de biodiesel das unidades que hoje já estão a operar em Portugal (cinco) chega para satisfazer as necessidades do País, permitindo cumprir a meta de incorporação de 5% e até exportar. Mas contam com a concorrência, nomeadamente da produção subsidiada dos EUA, que está a escoar os excedentes para a Europa.