Projeto cearense prevê energia a partir de microalgas
Pesquisadores brasileiros estão investindo num projeto que utiliza as microalgas para captura de dióxido de carbono em termoelétricas e produção de biodiesel, “com perspectivas de negócios internacionais”.
“As pesquisas estão adiantadas e o teste prático será feito ainda no fim deste ano na termoelétrica do Porto do Pecém”, adiantou à Agência Lusa o professor José Osvaldo Bezerra Carioca, presidente do Centro de Energias Alternativas e Meio Ambiente (Cenea), organização social instalada em Fortaleza, no Ceará.
De acordo com ele, o projeto despertou o interesse de países como Inglaterra e França, entre outros, dispostos a futuros negócios.
“A maior fornecedora de diesel para táxis e sistemas de transporte da Inglaterra já nos procurou com a finalidade de comercializar o óleo”, adiantou o coordenador do projeto que envolve uma equipe de dez pesquisadores.
Na prática, o processo consiste em “usar o dióxido de carbono para fazer crescer as microalgas numa piscina, separar e extrair o óleo e ainda aproveitar o resíduo, uma proteína de alto valor agregado que serve para nutrição animal”.
“As microalgas já são as grandes supridoras de uma série de medicamentos e complementos alimentares e vamos utilizá-las para produzir biodiesel, pois são ricas em óleos vegetais”, esclareceu.
Alto rendimento
Carioca acrescentou que a soja cultivada pode render 400 litros de óleo por hectare/ano, por exemplo, enquanto as microalgas alcançam, no mínimo, 10 mil litros por hectare/ano, mas podem superar os 20 mil litros por hectare/ano.
“Apenas o dendê e o pinhão manso, alternativas de produção de biodiesel, chegam próximos desse volume com 4 mil litros por hectare/ano”, afirmou.
Desenvolvido em parceria com estatal Eletrobrás e a Termoelétrica Endesa Fortaleza, empresa do grupo italiano ENEL, o estudo viabilizaria a produção de biodiesel no Nordeste do Brasil, “um dos melhores lugares do planeta para o cultivo de microalgas”, segundo o professor.
“Estamos próximos da linha do Equador, com dez horas de sol por dia”, justificou.
Versatilidade
Segundo o professor, embora cresçam no mesmo ambiente que as algas, as microalgas são mais versáteis, têm produtividade muito superior e podem ser cultivadas em água do mar, salinas e até em esgotos.
Para já, o Cenea está trabalhando com Laboratório de Ciencias Marítimas (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), “que tem um centro de cultivo de microalgas”.
“Ainda precisamos definir o volume de recursos necessários para montar a infraestrutura do laboratório de quantificação e uma planta-piloto de produção de biodiesel", explicou Carioca, adiantando que estes projetos "serão financiados pela Eletrobrás, interessada em dominar essa tecnologia e tornar o biodiesel economicamente viável”.
Segundo ele, a unidade funcionará nos moldes do projeto já desenvolvido por um pesquisador da Universidade de Israel, que está oferecendo apoio técnico aos brasileiros.