Produtor vira referência no plantio de girassol
Há quatro safras consecutivas o agricultor Hedio Borhz realiza o plantio de girassol na sua propriedade, em Linha Rio Branco, interior do município de Sinimbu. A indicação surgiu em 2006, pela Secretaria Municipal da Agricultura, Indústria, Comércio e Meio Ambiente, Emater/RS-Ascar e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), que ficou responsável pela seleção de um produtor do município. A implantação do projeto de Bioenergia, pioneiro na região, leva os créditos da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), que atua em mais de 20 municípios do Vale do Rio Pardo e Taquari com a proposta. No ano passado, a entidade ampliou o experimento para a região Centro-Serra.
Nas três primeiras safras – 2006/2007, 2007/2008 e 2008/2009 –, o produtor de Sinimbu realizou o plantio do girassol em um hectare de terra, o que contabilizou a colheita de 4.740 quilos de grãos nesses três períodos. Desse montante, 2.844 quilos foram aproveitados para a torta de girassol, que é utilizada como suplemento alimentar para vários animais da propriedade, e houve a produção de 1.706 litros de biodiesel.
No caso específico do biodiesel, o produtor de Sinimbu se tornou referência entre os municípios que participam do projeto pois, entre os 20, somente em cinco deles o trator trabalha com B100, ou seja, biodiesel 100%. Os demais produtores, conforme explicou Sampaio, utilizam aleatoriamente, ora somente o biodiesel, ora misturando com o diesel.
Desde junho de 2008, o trator que Borhz usa é autossustentável. Nesse período, a máquina somou 500 horas de trabalho com o biodiesel. “A cada 300 horas trabalhadas é feita uma revisão para verificar a viabilidade do uso de biodiesel no trator agrícola”, ressalta o técnico agrícola da Afubra, Nataniél Maria Sampaio.
RETORNO
No início do mês de janeiro, a lavoura se encontrava no estágio de floração. A partir desse período, a previsão é de que em 60 dias seja feita a colheita, que é mecanizada na propriedade de Borhz. O ciclo da planta dura em média 120 dias, com o plantio nos meses de setembro e outubro, podendo se estender até dezembro para o período da safrinha. Após a colheita, a Afubra recolhe o produto e leva até a unidade de bioenergia em Rincão Del Rey, no município de Rio Pardo. Lá o grão é processado e retorna para o agricultor em forma de coproduto, ou seja: como biodiesel, para uso em motores diesel na propriedade; como torta de girassol para uso na alimentação animal e como glicerina para fabricação de sabão.
A Afubra recomenda que todo o trabalho desenvolvido na lavoura, como horas trabalhadas, mão de obra e outros seja devidamente anotado, para que seja feito um custo de produção e viabilidade econômica do plantio de girassol. Todos esses dados reunidos serão apresentados em um grande encontro que reúne todos os municípios envolvidos, em maio ou junho, com o objetivo de estudar a viabilidade econômica da cultura.
Proposta prevê beneficiamento do grão
A ideia daqui para frente, conforme o técnico agrícola da Afubra, Nataniél Maria Sampaio, é os agricultores beneficiarem o grão, como forma de agregar valor ao produto. “Mas para isso os próprios produtores rurais precisam se organizar em cooperativa ou angariar recursos para compra de equipamentos”, diz Sampaio. A Afubra tem como meta para 2010 continuar pesquisando a cultura para poder auxiliar os produtores com informações técnicas desde o plantio até seu uso correto, achando um modelo atrativo e economicamente viável ao agricultor.
Na safra 2009/2010, o produtor de Sinimbu aumentou a produção na lavoura, passando de um para dois hectares plantados, o que dá a estimativa da colheita de 3,6 mil a 4 mil quilos do grão. O aumento na produtividade se deve ao interesse de Hedio Borhz na cultura que, de acordo com ele, é muito menos trabalhosa que a do tabaco e a do milho, também cultivados em sua propriedade.
Entre as vantagens apresentadas nessa cultura, o agricultor salienta a utilização da torta de girassol como suplemento alimentar na ração dos animais. Borhz faz a mistura de 75% de milho e 25% de torta, o que contabiliza 100 quilos de ração pronta para o trato – duas vezes ao dia – de animais como o porco, o gado e a vaca leiteira. O suplemento representou um acréscimo de 20% na produção de leite por animal.
O coordenador do projeto, Heitor Petry, destaca que da forma como a Afubra pesquisa o cultivo, trata-se de um trabalho pioneiro que considera a viabilidade de o produtor se tornar autossuficiente em combustível e ração animal, em nível de propriedade. “O que existe atualmente no país é um incentivo à produção de grãos (oleaginosas) para as indústrias, algo que constatamos ser inviável para o pequeno produtor”, explica Petry.
NOVIDADES NO PROJETO
O projeto de Bioenergia tem como objetivo, conforme explica o técnico agrícola da Afubra, Nataniél Maria Sampaio, estudar a viabilidade da cultura do girassol para a pequena propriedade rural como uma alternativa a mais de renda. Também busca estudar e testar equipamentos e processos, como o uso do biodiesel em motores a diesel e a utilização da torta de girassol na alimentação animal. Para esse ano o projeto apresentará novidades. Segundo o vice-presidente da Afubra e coordenador do projeto de Bioenergia, Heitor Petry, “este período é intermediário entre o trabalho de pesquisa que é desenvolvido e a inclusão de ações de estímulo e fomento aos produtores que quiserem cultivar girassol.
Vamos oportunizar, aos agricultores que queiram desenvolver essa cultura por conta própria, a assistência técnica e o processamento dos grãos”.
Além da Afubra, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) são parceiros no projeto. O primeiro participa através de recursos financeiros e o segundo prestando assistência técnica quanto à qualidade, armazenamento e uso do biodiesel, além da utilização da estrutura laboratorial para análises e cursos de capacitação.
Otto Tesche