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À procura do grão ideal


O Estado de S. Paulo - 16 fev 2009 - 06:15 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:08

O biodiesel brasileiro ainda está longe de ter encontrado a matéria-prima adequada para o setor.

O óleo de soja, que hoje responde pela maior parte da produção de biodiesel no País, enfrenta o problema da enorme oscilação dos preços internacionais.

Hoje apenas 3% da soja produzida no Brasil é encaminhada para a produção do biodiesel. À medida que crescesse sua participação na mistura com o diesel de petróleo, seria preciso aumentar entre quatro e cinco vezes a quantidade de soja disponível, o que aumentaria a vulnerabilidade da cultura à oscilação dos preços.

As limitações técnicas do óleo de soja levaram vários institutos de pesquisa a realizarem experimentos destinados a encontrar a cana-de-açúcar do biodiesel. Já há vários estudos com os produtos mais conhecidos, como algodão, girassol, canola, palma, mamona e também sebo animal.

O engenheiro agrônomo da Embrapa Liv Severino observa que é bom que o biodiesel conte rapidamente com uma base diversificada de matérias-primas, de forma a reduzir a excessiva dependência da soja. Mas ainda há longo caminho a percorrer.

O pinhão-manso apresenta ótima saturação de óleo. Chegou a ser entusiasticamente apontado como candidato a ocupar esse lugar. É uma planta rústica perene, à primeira vista resistente a pragas, que não compete diretamente com a produção de alimentos.

Pesquisas da Embrapa mostram que nem tudo são flores. Quando cultivado intensivamente, é suscetível a doenças. Além disso, exige colheita manual várias vezes durante o mesmo ciclo, o que encarece a produção.

Outra aposta é a semente do crambe, planta cujo ciclo é de apenas 90 dias. Entre suas vantagens está a maturação uniforme e a possibilidade de produção em grande escala, com investimentos baixos. O pesquisador Carlos Pitol, da Fundação MS, elogia a fácil adaptação a climas secos, podendo ser cultivado na entressafra da soja e do milho. Mas também enfrenta problemas. É uma cultura sensível à umidade e à acidez do solo. A semente é muito leve, o que contraindica o transporte de curso longo. E seu óleo apresenta forte concentração de ácido erúcico, substância tóxica para seres humanos e animais, o que restringe seu uso na indústria alimentícia.

O presidente Lula já se mostrou um entusiasta da mamona. Mas, além da dificuldade de obter uniformidade na maturação do fruto, a mamona não apresenta boa resposta econômica quando cultivada em baixa escala. E, no entanto, para alta escala de produção seria preciso contar com sementes selecionadas e tecnologia avançada, hoje inexistente. Quando apresentou a mamona como fonte potencial de renda para pequenos agricultores, o governo parece ter confundido política energética com política social e isso tem sido fatal.

Ao contrário do que ocorre com o etanol, o biodiesel ainda tem um longo caminho para se firmar como produto economicamente inquestionável.

Celso Ming