Pólo de biocombustíveis é extinto na Esalq
O Pólo Nacional Biocombustíveis não existe mais. A notícia, apurada pela Gazeta ontem, coloca um ponto final num sonho que teve inicio em 2004, quando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve na cidade para anunciar a criação de um núcleo de excelência em biocombustíveis, voltado ao fomento de projetos e base para pesquisas no segmento de combustíveis verdes ou ecologicamente corretos.
A estrutura seria transferida para São Carlos (SP). Acadêmicos, políticos e outras personalidades foram surpreendidos pelos efeitos de uma 'bomba' que eclodiu com força na cidade. Mais do que perder o Polo para São Carlos, ficou clara a sensação de vazio no que diz respeito à falta de vocação daquele município, reconhecidamente um centro de tecnologia, no setor sucroalcooleiro, talento no qual Piracicaba deve se orgulhar.
Hipoteticamente, o Polo poderia ser transferido para centros igualmente canavieiros, a exemplo de Ribeirão Preto (SP) e Sertãozinho (SP), nunca para São Carlos.
O próximo passo a ser tomado, agora, de acordo com o diretor da Esalq, Roque Dechen (veja nesta página), seria a incorporação do Polo, carro-chefe do Parque Tecnológico de Piracicaba, do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), entre tantas outras instituições, ao Centro de Bioenergia, do qual participariam unidades da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
COMEÇANDO. O início do fim teria sido desenhado, ainda conforme a Gazeta apurou, no último dia 13, curiosamente, uma sexta-feira. Naquela data, o coordenador do Polo, professor-doutor Edgar Gomes Ferreira de Beauclair, recebera um comunicado, dando conta de que o núcleo seria fechado para, consequentemente, ser reestruturado.
Em entrevista exclusiva, ontem à tarde, Beauclair confirmou que deixou a sala reservada ao Polo, que ocupava, na Esalq. Além disso, o pessoal de apoio que atuava com ele, fora dispensado em seguida ao comunicado feito pela direção da universidade.
"Fico triste porque, com o fim do Polo, Piracicaba vai perder. O Polo era da cidade, não exclusivamente da Esalq. Sem contar o Apla e outras entidades, é em Piracicaba que fica o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), entre outros ícones do setor", observa Beauclair. Ainda não se sabe, na prática, se com a interrupção do Polo, deixariam de existir também, por exemplo, o Apla e o Parque Tecnológico.
Lula não foi a única personalidade a assinar o documento que formalizou a criação do Polo. Os ministros da época, Roberto Rodrigues (Agricultura); Dilma Houssef, atualmente na Casa Civil, e em 2004 à frente da pasta de Minas e Energia e José Serra (PSDB) teriam avalizado a proposta. Beauclair luta para que a situação seja revertida em favor do Polo, na cidade.
Um documento foi redigido pelo professor e deverá ser remetido aos deputados federais Mendes Thame (PSDB) e João Herrmann Neto (PDT). No texto, intitulado 'Propostas para Vínculo e Estrutura Organizacional do Polo Nacional de Biocombustíveis', o coordenador prevê o vínculo do grupo ao Ministério da Agricultura, com CNPJ próprio, bem como a inclusão do núcleo em orçamento do governo federal também para o pagamento em folha.
"A estrutura física poderia ser utilizada na Fazenda Areão, da Esalq, com o compromisso de incorporação da área ao Parque Tecnológico do Etanol em Piracicaba, participando da governança em conjunto com o Apla", frisa. Seriam implantados, ainda, os departamentos jurídico, técnico-científico, administrativo e financeiro do Polo.
A Gazeta procurou o prefeito Barjas Negri mas, até o fechamento desta edição, não obteve o retorno da ligação feita ao gabinete do chefe do Executivo. O ex-ministro Roberto Rodrigues foi procurado no celular e na Faculdade Getúlio Vargas (FGV), onde leciona, mas também não foi localizado.
O deputado federal Mendes Thame (PSDB), recém-chegado à cidade, vindo de Istambul, na Turquia, não pôde comentar a situação do Polo em função da corrida agenda de trabalho. De acordo com a assessoria do parlamentar, o tucano estava participando de uma assembleia em Brasília (DF). Para o deputado estadual, Roberto Morais (PPS), informado do destino do Polo, pela Gazeta, Piracicaba não está em condições de perder, mas de ganhar. "O que puder fazer para modificar o quadro, farei", pondera.
“Nada acabou!”, diz Dechen
Apesar da aflição que a notícia em torno do fim do Polo provocou na cidade, o professor Roque Dechen, diretor da Esalq, fez questão de explicar que não houve rupturas. "O Polo não foi fechado. Vai fazer parte do Centro de Bioenergia, instituição ainda maior da qual serão envolvidas unidades da USP em Lorena (SP), São Paulo (SP), Pirassununga (SP), Ribeirão Preto (SP) e São Carlos (SP)", salienta.
"Palavra do momento, a bioenergia teria uma abrangência única, bem mais ampla", ressalta. O Polo , segundo Dechen, não teria tido aporte de recursos até então. O problema, entretanto, não deve ocorrer quando o núcleo for encampado pelo Centro de Bioenergia. "Terá orçamento próprio", frisa. A coordenação ficaria em Piracicaba mas, de qualquer forma, a instituição perderia o status de Polo. Na opinião do professor Beauclair, a extinção do Polo não poderia ter vindo numa hora pior.
Docente ligado ao Departamento de Produção Vegetal da Esalq, o carioca radicado em Piracicaba confirma que, recentemente, o Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia aprovou o projeto que consiste na coleta de óleo doméstico, e seria disseminado em todas as escolas piracicabanas, sempre com a chancela do Polo. "Lamento, porque tínhamos muito mais a fazer. Plantas pilotos de biodiesel, com uso de algas, inclusive, era um de nossos principais focos", destaca.
LUCIANA CARNEVALE