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O poder cicatrizante do pinhão-manso


Do Estado de Minas - 27 jul 2010 - 06:15 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:13
Belo Horizonte - O pinhão-manso (Jatropha curcas L.), arbusto pequeno e conhecido em todo o Brasil, porém mais comum nos estados do Nordeste, em Goiás e em Minas Gerais, guarda em seu caule um poderoso cicatrizante, que pode revolucionar a indústria farmacêutica. Em testes com animais, a substância já se mostrou mais eficaz, em vários aspectos, que os medicamentos encontrados no mercado.

Além de ser 100% natural, o fitoterápico cura mais rápido, não é tóxico e, pelo que tudo indica, poderá ser vendido a um preço até 40% abaixo dos similares. A escoberta é dos pesquisadores Nilo César Baracho e Daniel Antunes Rubim, em estudo premiado desenvolvido na Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), em parceria com a Universidade Federal de Itajubá. A dupla espera conseguir a patente do produto no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e registrá-lo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Depois, começam as pesquisas em humanos.

O remédio não tem compostossintéticos e será testado na forma natural, pomada, gel e loção. Em todas as modalidades, o uso é tópico, ou seja, é aplicado diretamente aos ferimentos superficiais, como cortes, perfurações, queimaduras e arranhões. A expectativa é que o medicamento, que já despertou interesse de indústrias farmacêuticas, esteja disponível nas prateleiras das farmácias em três anos. De acordo com Baracho, farmacêutico-bioquímico, a pesquisa teve início quando Rubim, médico recém-formado, ainda era seu aluno na Faculdade de Medicina. A empresa da família de Rubim já produzia biodiesel a partir do pinhão-manso e o desafio foi usar a mesma matéria-prima para fins medicinais.

"Moradores da zona rural já falavam que quando tinham feridas passavam o látex do pinhão-manso", conta. A partir das constatações práticas, os pesquisadores se debruçaram sobre a planta. O primeiro passo foi desenvolver uma técnica para a coleta do látex, encontrado no caule do arbusto. "Desse látex, beneficiado quimicamente em laboratório, extraímos um conjunto de substâncias", explica Baracho. Como não tem ainda a patente do produto, a dupla mantém trancado a sete chaves o nome do princípio ativo encontrado no látex, assim como o procedimento de coleta.

Resultados - Os testes foram feitos em ratos da linhagem wistar. Divididos em quatro grupos, os animaisreceberam tratamento para feridas induzidas em laboratório. Controlado apenas com soro fisiológico, o primeiro grupo serviu de base de comparação. Dois grupos foram tratados com pomadas cicatrizantes disponíveis no mercado e o quarto grupo recebeu a substância retirada do pinhão-manso. "Na comparação dos resultados, o látex foi tão bom quanto ou melhor que as demais substâncias. Enquanto a cicatrização levou em torno de 21 a 30 dias com o controle, com o pinhão-manso e os demais medicamentos o ferimento já estava cicatrizado com 10 dias. A qualidade da cicatrização foi um pouco melhor com o pinhão-manso", ressalta. O perigo de toxicidade também foi afastado. "Ele não prejudica as funções hepáticas e renais, mostrando que não atinge a circulação sistêmica", acrescenta Baracho.

Outra vantagem é o preço do medicamento, que deverá custar de 30% a 40% a menos que os similares, vendidos a R$ 30 - fora o fato de o produto ser um medicamento fitoterápico, elaborado exclusivamente a partir de matérias-primas vegetais. "Você aproveita sua biodiversidade, usa um subproduto da planta, um fármaco fitoterápico, e ainda gera renda no campo", ressalta o farmacêutico-bioquímico. Na próxima fase da pesquisa, o produto será testado em cerca de 200 pessoas, divididas em um grupo com ferimentos comuns e outro com pacientes diabéticos - por causa da doença, eles têm maior dificuldade de cicatrização. Nesse momento, a dupla vai investigar de que forma o princípio ativo encontrado no látex do pinhão- manso age no organismo.

Flávia Ayer