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Petrobras, Vale e transportador já divergem sobre o biodiesel


DCI - Diário Comércio e Indústria - 06 fev 2008 - 13:30 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

A informação de que a Petrobras tivesse rompido o contrato de fornecimento de biodiesel com a Vale do Rio Doce movimentou o setor e levantou o questionamento entre compradores e fornecedores sobre o monopólio da estatal na distribuição e os preços do biocombustível, a exemplo do que ocorreu na época de lançamento do Pró-Álcool. A Petrobras negou que tivesse suspendido o contrato de fornecimento com a Vale.

Segundo a estatal, o único acordo feito com a Vale sobre o B-20 foi registrado numa ata de reunião em abril de 2007, mas nunca existiu um contrato assinado. A partir desse interesse mútuo, foi pedida a autorização para a comercialização do B-20 à ANP, que a concedeu até dezembro de 2007. A comercialização de BX (biodiesel com adição maior do que 2%) depende da aprovação da ANP e sempre ocorre por um prazo limitado. O acordo, portanto, previa o fornecimento de 500 mil litros por mês por um período de oito meses (abril a dezembro de 2007). Segundo a estatal, o B-20 acordado não é mais fornecido porque o prazo expirou.

Negociação

O consórcio Plus, formado pela B100 Participações e pela VIP -um dos maiores compradores de biodiesel da BR Distribuidora e a maior frota de transporte coletivo e indústria de carroceria do País- está renegociando o contrato de compra com a estatal, mas quer travar preços mais baixos no acordo que deve estabelecer a parceria por mais quatro anos e um volume de 752 milhões de litros de biodiesel no total.

"O que vem acontecendo é que se tratava de um programa novo, em fase de estabilização, e primeiro tinha de criar uma estrutura de usinas, uma cadeia para fornecer. Após a primeira fase de acomodação desse processo, e, agora, com toda essa oferta, a tendência é os preços baixarem, por isso queremos negociar preços em patamares menores", revela vice-presidente da B100 Participações, Paulo Mendes.

O primeiro contrato, firmado em 2007, estabelecia a compra de 188 milhões de litros de biodiesel por ano num valor que equivalia ao preço corrente do óleo diesel; o volume era suficiente para abastecer com uma mistura acima do B-30 cerca de 2 mil ônibus. Agora, com o objetivo de triplicar a frota de ônibus "limpos", a companhia de transporte coletivo busca um acordo mais ajustado à demanda. "Estamos consumindo um volume grande, temos uma condição comercial mais bem situada e a Petrobras está demonstrando uma grande predisposição na negociação", afirma.

Produtores

Assim como fazia com o álcool na época do Pró-Álcool, a Petrobras continua sendo a única reguladora do mercado de biodiesel, o que não tem sido visto com bons olhos pelos produtores, que já queriam, a essa altura do Programa de Biodiesel, a instituição de um mercado livre para o setor.

Nesse contexto, diante dos preços já depreciados do biodiesel, produtores do setor se vêem diante de um novo problema: com a oferta excessiva do produto no mercado, empresas que compram da BR Distribuidora passam a pressionar por contratos mais vantajosos, ou seja, preços ainda menores.

"O ideal seria que a Petrobras aumentasse os preços. O preço para o produtor está inexeqüível, estamos cumprindo as entregas porque assumimos um compromisso, mas estamos bancando um prejuízo", diz o diretor comercial da Biocapital, Ricardo Magalhães.

"O ideal é que, com a capacidade autorizada maior que o volume de necessidade, o mercado fosse livre, que os produtores pudessem negociar direto com as distribuidoras de biodiesel. Fechar mercado para criar isonomia acaba afetando toda a cadeia", avalia o diretor comercial da Bioverde, Alexandre Pereira da Silva.

Para o executivo, a Petrobras, para incentivar o mercado, vendeu por um preço muito baixo quando a adição de biodiesel ainda não era regulamentada. "Agora é obrigatório, e o preço deve ser real, já corrigido, com um valor com que dê para produzir. Esse grande cliente vai ter frustrada a vontade de comprar barato", diz.

A escassez de biodiesel já ocasiona problemas. A informação de que a Petrobras interrompera o fornecimento do biocombustível à Vale do Rio Doce na semana passada movimentou o mercado de usuários de grande porte. Há uma projeção de que os pioneiros no uso do biodiesel em grandes frotas planejam adicionar até 38% do biocombustível em suas frotas.

Priscila Machado