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Pesquisas com pinhão-manso continuam


O Estado de S.Paulo - 17 fev 2010 - 23:39 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:10

O tão falado e pouco conhecido pinhão-manso (Jatropha curcas L.), arbusto grande e rústico da mesma família da mandioca e da mamona e considerado uma importante matéria-prima para a produção de biodiesel, será objeto de mais uma pesquisa no País. Por meio de um projeto de cooperação, firmado em dezembro pela Embrapa Agroenergia e Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão-Manso (ABPPM), serão instaladas quatro áreas experimentais de plantio para a coleta de informações sobre a planta.

"É uma cultura nova, que precisa ser estudada e domesticada", diz o diretor da ABPPM, Roberto Murat. Segundo ele, as unidades de observação, como são chamadas as áreas de plantio, vão ajudar a pesquisa a levantar dados de produtividade, pragas e comportamento da planta. Nesta primeira fase os plantios serão instalados em São Luís (MA), Tucuruí (PA), Barbacena (MG) e Alta Floresta (MT), numa área total de 30 hectares. "Os parceiros vão conduzir os plantios conforme recomendações técnicas da Embrapa e coletar e disponibilizar, para a pesquisa, dados de biologia da planta, produtividade, crescimento, pragas e doenças", explica Murat.

Embora seja conhecido por ter alto teor de óleo - estima-se que esse teor seja de 37% -, não há cultivar registrada nem plantios comerciais de pinhão-manso no País. "Por não ser uma planta comestível, como soja, canola ou girassol, o pinhão-manso chamou a atenção da cadeia dos biocombustíveis por seu potencial de produção de óleo", diz Murat.

A pesquisa deve levar de quatro a sete anos para domesticar a planta e a previsão é a de que o registro de uma cultivar no Ministério da Agricultura saia dentro de cinco anos. "O pinhão-manso é uma cultura perene, que atinge o pico de produção a partir do quarto, quinto ano. Para ter resultados, temos de esperar", diz o pesquisador da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola. Laviola explica que a Embrapa possui um banco de germoplasma e que as cultivares mais promissoras serão selecionadas para o plantio. "Esses materiais genéticos serão submetidos a diferentes sistemas de cultivo, em diferentes regiões, e vamos colher os resultados", afirma o pesquisador da Embrapa.

O projeto está em fase de produção de mudas e, em março, começa a instalação dos plantios.

Fonte principal de biodiesel ainda é a soja


Para o pesquisador Dilson Cáceres, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), para que o pinhão-manso se torne uma cultura comercial e seu óleo passe a servir de matéria-prima para a produção de biodiesel um longo caminho precisa ser percorrido. A começar pelo melhoramento genético da espécie. Segundo ele, o cultivo do pinhão-manso apresenta uma série de problemas, como doenças desconhecidas e, portanto, difíceis de serem controladas. O pesquisador também cita a maturação não uniforme dos frutos. Ou seja, numa mesma planta é possível encontrar tanto brotos florescendo, quanto frutos em ponto de colheita e até secos.

Conforme o especialista, para que uma espécie seja usada para a produção de biodiesel em escala industrial é preciso que ela se torne uma cultura. E, para tanto, deve ter capacidade de produzir grandes colheitas para ser viável economicamente. "O pinhão-manso ainda está distante disso, pois sem a maturação uniforme não é possível fazer colheita mecânica, apenas a manual e esta ainda requer repasses, o que aumenta o custo."

Cáceres estende sua previsão também para outras espécies cogitadas como produtoras de óleo para biodiesel, como mamona, macaúba e abacate. Para ele, falta domínio de tecnologias de produção para essas cultivares. "Sabe-se que a mamona pode produzir até 4 mil quilos de óleo por hectare. No entanto, o que se vê no campo é a extração de apenas mil quilos/hectare", diz. "Por essa razão, quase todos os 2 bilhões de litros de biodiesel que o País irá produzir este ano virá de uma cultura que possui tecnologias de produção bem conhecidas: a soja, embora ela seja grande produtora de proteínas e menos de óleo."

Mesmo com todos as barreiras, Cáceres crê que espécies como o pinhão-manso podem, sim, ser usadas como grandes fornecedoras de óleo para biodiesel. "O que me faz acreditar é que há uma grande quantidade de pesquisadores e extensionistas trabalhando para este fim, tanto no melhoramento genético quanto em técnicas agrícolas."

Origem incerta
A origem do pinhão-manso é incerta. "É uma planta das Américas, mas não se sabe exatamente onde ela surgiu", diz o pesquisador Dilson Cáceres, da Cati. Segundo ele, há quem defenda como centro de origem da espécie o cerrado mineiro. "Foi lá que começaram os estudos para a produção de óleo combustível, no início da década de 1980. Mas há quem diga que ela surgiu no México." Cáceres conta que antes de ser cogitado como matéria-prima para biodiesel, seu óleo era usado em candeeiros e como purgante para cavalos.

Fernanda Yoneya e Leandro Costa