Óleo de soja não é viável, diz economista
O crescimento da produção do biodiesel no País não pode se basear apenas no aumento da sua principal matéria-prima, que é a soja, responsável por mais de 80% de tudo que é transformado no biocombustível. “Essa expansão não é sustentável”, define o economista da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan Amaral.
A falta de sustentabilidade ocorre porque da extração do óleo de soja – que é a matéria-prima para o biodiesel – sobra o farelo. “Não tem como todo esse farelo ser absorvido pelo mercado”, comenta Amaral, acrescentando que o excesso de farelo também jogaria o preço do produto para baixo, o que traria prejuízo aos plantadores da oleaginosa.
Para cada tonelada de soja esmagada, são produzidos 190 quilos de óleo e 780 quilos de farelo. Atualmente, esse farelo é vendido para a indústria de ração de animais. A sugestão do economista é para que sejam aproveitados os resíduos e intensificadas as pesquisas com as lavouras de girassol e colza. O teor de óleo da soja é de 19%, enquanto o girassol e a colza têm, respectivamente, 41% e 40%. “É por isso que está se falando sobre o biodiesel brasileiro ter várias matérias-primas”, diz.
O governo federal concentrou esforços para a mamona ser a fonte do biodiesel, inserindo o cultivo na agricultura familiar. A experiência não deu certo. Muitas fábricas que funcionam à base de mamona pararam por falta de matéria-prima. “Não fazemos biodiesel com mamona, pois ela tem custo muito elevado”, diz o diretor de produção da Serrote Redondo, Evânio Oliveira, em São José do Egito, Sertão de Pernambuco. Atualmente, a sua fábrica também está parada por falta de matéria-prima. Oliveira usa o caroço de algodão como fonte.
O óleo de mamona é o que tem o preço mais elevado entre todos os óleos que podem ser usados para fazer biodiesel no País. O biodiesel feito com a mamona também apresenta alta viscosidade, ficando fora dos critérios definidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
“A mamona ficou inviável para a agricultura familiar e o preço não foi satisfatório para o produtor”, resume o diretor de políticas agrícolas da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetape), Adelson Freitas. No Agreste Meridional de Pernambuco, mais de 5 mil produtores plantavam a oleaginosa em 2007. Hoje, quase não existe mais pequeno agricultor cultivando a planta na região.
Angela Fernanda Belfort e Verônica Falcão