Minas busca modelo para explorar óleo de macaúba
Pesquisadores e produtores da palmeira de macaúba de diversos estados mostraram nesta sexta-feira (16), em Belo Horizonte, o potencial dessa planta como alternativa para a produção de biodiesel. O encontro, realizado pelo Comitê Executivo da Política Estadual do Biodiesel no campus da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead).
A macaúba encontra melhores condições de rendimento em terras de cerrrado, praticamente não sofre ataque de doenças e produz muito óleo. Este derivado representa cerca de 30% de cada fruta.
De acordo com o professor Aziz Galvão da Silva, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o primeiro aspecto favorável à utilização da macaúba produzir combustível é a sua capacidade que a fruta tem para gerar co-produtos. “Neste caso, os co-produtos também são muito valorizados”, ele explica. Podem ser aproveitados, além do óleo, os produtos da polpa, a amêndoa que se transforma em torta para alimentação do gado, e as fibras que se transformam em carvão de excelente qualidade.
O professor da UFV diz que a organização da cadeia produtiva da macaúba deve dar atenção especial para os segmentos mais fracos. “O cuidado com a gestão do negócio é tão importante quanto a agregação de tecnologia”, enfatiza. Segundo Aziz Galvão, a montagem de uma indústria de processamento da macaúba exige investimento médio de R$ 30 milhões e o giro anual da empresa é da ordem de cinco vezes este valor.
Comparação com a cana
Para o pesquisador Newton Junqueira, da Embrapa Cerrado, o potencial de produção da macaúba para a indústria de biodiesel pode se igualar ao da cana-de-açúcar para a produção de etanol. A empresa desenvolve pesquisas da macaúba com a parceria da Epamig, vinculada à Secretaria da Agricultura de Minas, universidades e empresas. Esses estudos envolvem, entre outros fatores, a busca das espécies mais produtivas, com o objetivo de selecionar árvores com a capacidade de oferecer mais de 100 quilos de fruta cada uma. Os técnicos concluíram que a produção de macaúba em grande escala não prejudicará o cultivo de alimentos, porque podem ser aproveitadas pastagens degradadas para a produção da leguminosa.
Segundo Junqueira, estudos de macaúba em pasto de cerrado, tendo como referência o plantio de cerca de 120 palmeiras por hectare, mostram rendimento de 1.400 quilos de óleo por ha, que geram renda anual de R$ 800,00 para o produtor. O ciclo de produção é de dois anos, a colheita é feita atualmente de novembro a fevereiro e, para evitar ociosidade nas indústrias de processamento, o pesquisador diz que deverão ser estudadas espécies de macaúba para produzir o ano inteiro.
Estudos da UFMG
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criou o Grupo de Pesquisa em Macaúba, quer está ligado aos departamentos de Engenharia Química e de Ciências Agrárias. Segundo a professora Tânia Lúcia Santos Miranda, da Engenharia Química, além do desenvolvimento de processo de produção do biodiesel por ácidos e enzimas, o departamento faz estudos com o objetivo de avaliar o processo de maturação da macaúba. “Esse aspecto é muito importante porque está ligado à questão estratégica da armazenagem do produto”, explica.
Em outra linha de estudos, a Engenharia Química pesquisa a extração do óleo do fruto com ênfase na qualidade nutricional. Entre os trabalhos programados está o desenvolvimento da produção de margarina de macaúba, livre de gorduras trans.
Produção integrada
No Mato Grosso do Sul tem sido realizada com sucesso a produção integrada de pinhão-manso, leguminosa para gado e bocaiúva, uma variedade da macaúba. Segundo o professor Flávio Aristone, da Universidade Federal daquele estado, a experiência coordenada pela instituição se desenvolve numa área de 10 hectares, com 200 mudas por hectare. A universidade, diz Aristone, procura integrar os agricultores familiares na produção da bocaiúva, sobretudo para o exploração da farinha de polpa, e oferece noções de associativismo e cooperativismo para desenvolverem seus negócios. O produto está cotado a R$ 5,00 o saco de meio quilo, resultado da extração de treze quilos da fruta.
Atividade promissora
Para o diretor executivo do Comitê Estadual de Política do Biodiesel, Lucas Rocha Carneiro, “a experiência dos especialistas, produtores e industriais é de fundamental importância para o aprofundamento da visão sobre a cadeia da macaúba”. Ele acrescenta que “o comitê considera a macaúba uma promissora atividade agrosilvipastoril e agroindustrial.”