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Frutos do Norte, novas fontes para biodiesel


Valor Econômico - 18 jul 2008 - 06:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

Pesquisadores do Amazonas têm trabalhado para tornar viável a produção de biodiesel a partir do óleo extraído de frutos comuns na região Norte, como tucumã, andiroba, murumuru e ouricuri. A experiência pioneira tem sido desenvolvida em Roque, localidade de Carauari, município de 25 mil habitantes que fica na margem esquerda do rio Juruá, a uma distância de mais de 1.600 quilômetros de Manaus por via fluvial.

O óleo de frutas que podem soar exóticas para moradores de outras partes do país certamente não tem escala suficiente para se tornar uma matéria-prima alternativa à soja, base de cerca de 90% da produção nacional de biodiesel. E nem é a intenção. A idéia é substituir o diesel que abastece os geradores de energia dos quais dependem muitas das cidades do interior do Amazonas, afirma Sérgio Massayoshi Nunomura, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que, ao lado de Roberto Figlioulo, é um dos cientistas que coordenam as pesquisas.

Segundo dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), uma das financiadoras do trabalho, das mais de 4.600 comunidades isoladas do Estado, apenas 32 são abastecidas por energia elétrica.

A usina para a produção de biodiesel já está em fase final de montagem e deve produzir, mesmo que em pequena escala, ainda em 2008. Uma pequena usina para a produção de etanol — necessário para as reações com as quais se produz o biodiesel — já está pronta. Os valores investidos não foram informados.

“O tucumã é bastante utilizado para consumo in natura, mas seu caroço é quase que totalmente descartado”, afirma Nunomura. Sob a orientação do pesquisador, Banny Silva Barbosa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), tem pesquisado o óleo da amêndoa de tucumã para a fabricação do combustível. O projeto foi apresentado nesta semana durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Da amêndoa, que fica no interior do caroço do fruto, os pesquisadores já conseguiram extrair até 40% de óleo. O desempenho é superior ao do pinhão-manso, do qual se extraem entre 35% e 38% de óleo, e equipara-se ao damamona, com teor de óleo entre 35% e 55%. Pinhão-manso e mamona costumam ser apontados pelo governo como as grandes alternativas para a inclusão da agricultura familiar no mercado de biodiesel. A soja tem teor de óleo de cerca de 20%.

A técnica desenvolvida nas pesquisas realizadas no Amazonas permite obter óleo com baixo índice de acidez, o que, na prática, acelera o processo para a produção do biodiesel e reduz os custos. O óleo, que é utilizado, ainda que de forma marginal, na alimentação humana, pode também abastecer a indústria de cosméticos. “É um substituto para o óleo de buriti, que tem um baixo rendimento”, diz Nunomura.

As pesquisas começaram em 2004, mas seu propósito inicial era mensurar as propriedades nutricionais do tucumã. Com o andamento do trabalho, a possibilidade de aproveitamento do óleo da amêndoa do tucumã ganhou corpo. O fruto, de formato ovalado, com casca amarelo-esverdeada, polpa fibrosa e que nasce em cachos de uma palmeira de até 20 metros de altura.

Patrick Cruz, de São Paulo