Que fim levou o Pólo Nacional de Biocombustíveis
Há cerca de um ano, a Gazeta trouxe, com exclusividade, a notícia de que o Polo Nacional de Biocombustíveis, criado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2004, em Piracicaba, havia fechado as portas. De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Houve uma verdadeira avalanche de críticas e lamentos direcionados ao fim das atividades de um núcleo que fomentava a realização de iniciativas, além de ‘desenhar’ projetos e outras ações em prol do setor de bioenergia.
O assunto repercutiu com tamanha velocidade que houve o envolvimento de várias outras lideranças, locais, estaduais e nacionais, favoráveis à reativação do Polo.
Havia informações de que o núcleo seria incorporado ao Centro de Bioenergia, articulado pelas gigantes Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Meses depois, agora em 2010, o assunto ‘fim do Polo’ volta à tona com o desabafo feito ontem (26), também à Gazeta, pelo empresário do segmento de biocombustíveis, Eduardo Herling.
Inconformado com a extinção do Polo, considerado uma referência para o País e até internacionalmente, Herling lembra que, em 2004, Lula ‘carregou a bandeira dos biocombustíveis, buscando parcerias, falando do etanol. O próprio governo federal - segundo Herling - tinha planos de investir R$ 1,5 bilhão nos próximos anos no Polo. Mas, infelizmente, faltou acompanhamento do governo federal’, frisa.
HONRA
Eduardo Herling observa que o Polo Nacional de Biocombustíveis ‘sempre foi motivo de orgulho e competência acadêmica’. ‘Acredito que, por motivos políticos e pessoais, a diretoria da Esalq findou com a menina-dos-olhos do presidente Lula, e do povo piracicabano’. Para o empresário, o fim do Polo é ‘péssimo’ para todos os setores da cadeia produtiva de biodiesel.
Ao lamentar o fechamento do Polo de Biocombustíveis, o empresário Eduardo Herling deixou claro que o núcleo chegou a receber uma verba, repassada por meio de uma parceria com a empresa estatal japonesa, NEDO, no valor de 300 mil dólares.
O dinheiro seria utilizado para contratações de profissionais, equipamentos e preparação da infraestrutura do Polo. ‘Parte desses recursos seria destinada, também, para a montagem de um laboratório móvel, com a finalidade de certificar o etanol’, destaca.
Sem condições técnicas ou de projetos para implementar iniciativas pró-biodiesel - até pela ausência do Polo -, Herling tem planos para os próximos dias, durante as visitas dos hoje pré-candidatos à presidência, Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB).
“Gostaria de perguntar pessoalmente ao Serra e à Dilma o porquê disso tudo (o fim do Polo). Afinal, ambos assinaram, aprovaram e depois sumiram quando foram questionados sobre o assunto”, lamenta o empresário.
Para Eduardo Herling, a descaracterização do Polo Nacional inviabiliza quaisquer missões em torno dos biocombustíveis. Piracicaba não conta, atualmente, com nenhuma usina, de micro ou até de pequeno porte, que trabalhe com biodiesel.
“Sem o Polo, não é possível saber que tipo de oleaginosa é mais favorável para a produção. Queremos produzir, trabalhar, levar o nome de Piracicaba para todos os cantos do Brasil e do mundo como mola propulsora de uma alternativa mais do que viável à geração de energia ‘pesada, fóssil, poluente’.
‘O Polo existe, e está ativo’
A Gazeta entrou em contato com a direção da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) para saber os planos para a possível reativação, ou não, do Polo Nacional de Biocombustíveis. Procurado, o diretor da instituição, professor Roque Dechen, não foi localizado. O líder da Esalq está em férias, no Exterior. A entrevista, então, aconteceu com o diretor em exercício da Escola, professor Natal Antônio Vello.
Bastante receptivo ao assunto Polo, sempre atual, e preocupado com a temática dos biocombustíveis, professor Vello garantiu que o núcleo ‘existe, e está ativo’. ‘O único problema é que, quando foi criado (o Polo), havia poucos recursos para a canalização de projetos em âmbito nacional’. Nesse meio tempo, ainda de acordo com o professor, foram criados Centros, inclusive em São Paulo, que acabaram interagindo entre si, fortalecendo o Polo de antes. Hoje em dia, o Polo se concentra entre a Rede USP de Bioenergia, o Centro Paulista de Bioenergia (entre USP, Unesp e Unicamp) e a criação do Parque Tecnológico.
LUCIANA CARNEVALE
Especial para a Gazeta