Ex-ministro defende uso de energias limpas
Nelson Hubner Moreira é desses engenheiros elétricos cujos olhos brilham ao visitar uma usina hidrelétrica no sertão da Bahia. Visita seu interior, vistoria salas de comando e procura saber como se dá, na prática, o controle de cada operação. Hoje, o ex-ministro interino da Minas e Energia - e um dos mais cotados para substituir Jerson Kelman na presidência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ao término do seu mandato - tem uma postura discreta, que condiz com uma carreira técnica, iniciada na Companhia Energética de Brasília, onde foi diretor de distribuição.
Para o ex-ministro, o Brasil é motivo de inveja aos demais países. Cita com orgulho a sua matriz energética, que possui 45% de fontes renováveis, frente a nações desenvolvidas, onde apenas 8% do que consomem é renovável. Para ele, o grande desafio do País é correr atrás do prejuízo deixado pela herança liberal.
Hubner, que também esteve na Aneel, foi assessor no departamento de política energética do Ministério de Minas e Energia. Na época, o profissional não passou desapercebido pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que o colocou como chefe de seu gabinete. Desta posição, o engenheiro foi obrigado a desenvolver habilidades políticas, no trato diário com os agentes do setor.
A confiança da ministra Dilma o levou, ainda, a se tornar Secretário Executivo do ministério e, com a saída de Silas Rondeau, a assumir interinamente o cargo de ministro. Ainda que interino, Hubner ocupou o posto por 18 meses, um mandato mais extenso que o de vários ministros. Esteve à frente o ministério até janeiro, com a posse de Edison Lobão. Hoje, sem ocupar cargo algum, aproveitando uma aposentadoria precoce, Hubner falou à Gazeta Mercantil.
Confira a seguir trechos da entrevista que o ex-ministro fala sober biodiesel:
Gazeta Mercantil - O senhor foi do governo muito tempo e tem uma visão privilegiada do setor de energia no Brasil. Na sua opinião, quais são os pontos fortes deste segmento?
O mundo inveja hoje o Brasil. Temos uma matriz extremamente renovável. Enquanto países desenvolvidos falam em uma matriz com 8% de energia renovável, o Brasil tem uma matriz em que 45% são renováveis e 50% são combustíveis líquidos. Desse total, cerca de 50% é oriundo do óleo diesel. Isso faz sentido, pois o transporte no Brasil se dá praticamente em cima de veículos, inclusive o transporte de carga. Mas é importante dizer que mais da metade dos combustíveis líquidos no País já é de etanol. Uma parte de etanol é misturado à gasolina - ou seja, de toda a gasolina consumida no Brasil um quarto já é renovável. É bom lembrar que tivemos um salto impressionante no consumo do álcool hidratado puro com a introdução dos veículos flex fuel. De 2006 para 2007, só com a utilização desses veículos saímos de uma participação de 8% na matriz para 17%.
Gazeta Mercantil - O que ainda falta mexer na matriz energética do Brasil?
Ainda tem o potencial de crescimento do biodiesel. A lei exigiu até agora 3% de biodiesel misturado ao diesel convencional. O etanol resolve tranqüilamente o problema do combustível para veículos leves. Mas não tínhamos uma solução para o diesel, que é 50% do combustível líquido. Por isso adotou-se os 3% de biodiesel, o que é muito pouco. Na Alemanha tem veículos que eles fazem funcionar a 100% de biodiesel. Só que a fonte de biodiesel na Europa é a canola. É única fonte. Eles não têm outra. No Brasil, podemos extrair biodiesel de soja, de mamona e todos os tipos de palmas. Mas é bom lembrar que o presidente da República não quer o biodiesel feito a partir da soja, por ser uma produção destinada à alimentação.
Gazeta Mercantil - Qual a alternativa para produzir o combustível sem prejudicar a agricultura alimentar?
Focar nas palmas: dendê, macaúba. O problema é que não se consegue fazer muda para o plantio. Agora, em Viçosa, um grupo desenvolveu muda de macaúba. Se der certo, será a revolução total. É só pegar toda essa área onde tem gado, pastagens e simplesmente colocar as árvores no meio da pastagem. Não se desmata uma área nobre, pelo contrário. Quando tem a mescla de macaúba com pastagem, a técnica contribui duas vezes para o equilíbrio das emissões de . Com a geração de biodiesel e captando o do gado. O volume de óleo que você tem na palma é menor do que o que você tem na soja, por exemplo. Só que a quantidade de coquinhos produzida por palma é incrível. A produção de óleo que se obtém por hectar é muito maior do que a de outras alternativas. O País está fazendo os primeiros experimentos e está dando certo. Tem até empresa espanhola que está comprando um milhão e meio de mudas em Juiz de Fora para investir nisso e levar um óleo de altíssima qualidade.
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