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Copel vai pesquisar produção de biocombustível com microalgas


Agência Estadual de Notícias - PR - 21 out 2009 - 18:01 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:09

A Copel vai assinar, nesta sexta-feira (23), em Londrina, convênio com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), para iniciar pesquisa de criação de microalgas para produção de biocombustível e, como conseqüência, bioenergia. A parceria será formalizada durante o Seminário Comemorativo da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada na sede do Iapar, em Londrina.

Energia limpa e um futuro de amplas possibilidades. É assim que é possível descrever o potencial do que pode ser produzido através das microalgas. Além de excelente fonte de energia, estes organismos são capazes de retirar o gás carbônico (CO2) do meio ambiente, produzir oxigênio e grande quantidade de alimentos. Descobrir formas viáveis de aproveitar esses potenciais está levando governos e grandes empresas de energia do mundo a investirem neste segmento – e o Paraná, por meio da Copel e o Iapar, também vai entrar nessa corrida tecnológica.

Integradas por esse convênio que será assinado, a Copel e o Iapar iniciam o projeto de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia não só para o uso de microalgas como fonte de bioenergia como, também, para o aproveitamento dos seus subprodutos. Deverão ser investidos nos estudos R$ 2,2 milhões em dois anos.

MICROALGAS – As microalgas são organismos microscópicos que fazem fotossíntese, o que resulta na produção de oxigênio, lipídios (óleos), carboidratos (açúcares), proteínas e fibras. Tais compostos podem ser transformados, dentre outros produtos, em biodiesel, álcool e alimentos para consumo humano e animal. Comparáveis a verdadeiras biorrefinarias microscópicas, as microalgas podem, segundo apontam pesquisas em andamento em laboratórios dos Estados Unidos, países da Europa e da Ásia, produzir diretamente hidrogênio, diesel, gasolina, álcool e outros tipos e formas de energias.

Os estudos mundiais sobre microalgas são relativamente recentes quando comparados aos de outros produtos que servem para a produção de biocombustível, como a soja, por exemplo. Um breve histórico mostra que há cerca de 60 anos o governo dos EUA começou a estudar estes organismos para tratamento de efluentes industriais e esgoto urbano. Mais tarde, no final dos anos 70, as pesquisas foram direcionadas para a obtenção de combustíveis alternativos ao petróleo, decorrência da primeira grande crise no abastecimento em escala global.

Durante duas décadas, cientistas e instituições norte-americanos estudaram técnicas de cultivo de microalgas e mecanismos de extração de óleo para produção de biocombustível. Entretanto, por volta de 1996, a queda nos preços internacionais do petróleo tornou a nova tecnologia comparativamente mais cara e fez com que as pesquisas fossem interrompidas. Agora, com as projeções de crescimento contínuo dos preços do petróleo e do gás natural, a crescente necessidade de preservação ambiental e por questões estratégicas de segurança energética, as grandes economias voltam a focalizar seus investimentos para o potencial das microalgas.

A produção de biocombustível por meio das microalgas, além de ecologicamente correta, tem um potencial muito maior do que as culturas tradicionais de oleaginosas. As microalgas têm potencial para produção de 70 toneladas de biomassa (de onde é extraído o biocombustível) por hectare/ano, enquanto a soja produz em média apenas 3 toneladas de biomassa por hectare/ano. Além disso, os tanques para o cultivo de microalgas podem ser instalados em terras degradadas ou até mesmo em desertos, bastando que haja luz, nutrientes, gás carbônico e água – que pode ser até mesmo salgada ou imprópria para consumo humano ou animal.

PROJETO – Apesar da assinatura oficial do convênio ser agora, a equipe da Copel e do Iapar responsáveis pelo projeto piloto já vem trabalhando há um mês nas pesquisas, fazendo um levantamento do que há de mais avançado no mundo nessa área. Após essa fase preliminar de investigação, o primeiro passo prático será definir quais os tipos de algas que serão cultivadas. “Como existem milhares de espécies, esta não é uma tarefa simples. Algumas algas produzem mais óleo, outras menos, algumas podem demandar mais trabalho no manejo. Por isso é necessário pesquisar até encontrar a melhor espécie produtora”, explicou a gestora do convênio pelo Iapar, Diva Andrade.

A segunda etapa consistirá na construção de fotobiorreatores, que são tanques especiais com água onde as microalgas serão cultivadas. Nessa fase da pesquisa será definido se tais equipamentos serão externos ou internos. Quando externos, os tanques precisam de pouca profundidade para que a luz solar penetre com facilidade, permitindo assim que ocorra a fotossíntese. No caso dos fotobiorreatores internos, as estruturas são construídas de material transparente – como vidro ou acrílico – para que possa receber luz natural e artificial. Nos dois casos, a injeção de CO2 e de nutrientes acelera o crescimento das algas, aumentando com isso a produtividade. “Precisamos estudar qual modelo é mais viável economicamente”, explicou Thulio Pereira, gestor do Convênio pela Copel. “Teremos que encontrar uma forma que consuma o mínimo de energia na produção do combustível”.

DESAFIOS – Economizar no consumo de energia também é relevante na hora de colher as microalgas para delas extrair o óleo. Afinal, de nada adianta produzir energia renovável se muita energia for consumida para isto. “Entre os principais desafios tecnológicos estão o cultivo eficaz de microalgas e as técnicas para a coleta desses microrganismos”, salientou Pereira. A colheita das microalgas é realizada através da filtragem da água, resultando numa massa que é secada e depois prensada, para então se extrair o óleo.

Esta extração do óleo não é um processo simples. Como se busca evitar o uso de produtos derivados do petróleo na produção de energias renováveis, os cientistas pesquisarão a possibilidade de uso de solventes derivados de biomassa. Tal cuidado com o processo permitirá que a biomassa resultante, após a extração do óleo, possua alto valor como matéria-prima especial para as indústrias que atuam nos mais diversos segmentos, como de ração animal, produtos alimentícios para consumo humano, cosméticos e produtos farmacêuticos. De acordo com Pereira, o alto valor dessa biomassa no mercado pode vir a ser de grande importância para o resultado do empreendimento e garantia de baixo custo para o óleo produzido.