Clima e burocracia atrasam recuperação da Agrenco
Nelson Bastos, presidente da consultoria Íntegra, reconhece que há atraso no cumprimento do plano de recuperação judicial da Agrenco.
Ele afirma que fatores climáticos e burocracias referentes aos processos são responsáveis pela demora, mas ressalta que o compromisso vem sendo cumprido.
Quando entrou em recuperação judicial, a Agrenco tinha dívida de R$ 1,5 bilhão e ativos fixos avaliados, por uma consultoria independente, em R$ 260 milhões. Além da prisão dos executivos, a crise global afetou os negócios, em particular as commodities e, diante da inexistência de crédito, foi impossível fugir da recuperação judicial. Vinte e seis bancos formam o grupo de credores da Agrenco e, segundo conta Bastos, 17 assembleias foram necessárias até que a montagem do plano final.
Fechado o plano, os credores abriram mão de retirar os ativos da empresa. Das três fábricas da Agrenco, duas estavam mais perto de serem concluídas. Foi decidido que a terceira unidade, Marialva, seria vendida e os recursos seriam aplicados na conclusão das outras duas unidades. A mesma finalidade teria o dinheiro arrecadado com a estoques de soja que foram dados em garantia. A contrapartida exigida pelos bancos foi a de que, a partir do momento em que as unidades começassem a funcionar, todo o valor gerado será integralmente destinado ao pagamentos dos credores — o prazo estimado para que os bancos recebam o que tem direito é de 14 anos.
Quando uma empresa entra em recuperação judicial, a prioridade de recebimento de recursos é dos credores.
Os ativos da Agrenco que estão em recuperação judicial no Brasil estão em 4 das 27 companhias que compõe o complexo organograma do grupo.
A dívida da Agrenco e suas garantias foram espalhadas em diversas companhias. E a existência dos ativos fixos, as fábricas, na Agrenco Bioenergia, permitiu a recuperação judicial.
Como as dívidas estão espalhadas por diversos braços, inclusive em empresas sediadas em outros países, para ter certeza de que o plano constituído no Brasil seria cumprido, os credores estabeleceram no plano de recuperação judicial que o conselho de administração e a diretoria da empresa têm de ser ocupados por pessoas aprovadas pelos credores. Os termos do plano foram aprovados inclusive pela Agrenco Holding, sediada na Holanda.
A demora na conclusão dos termos do plano e em alguns procedimentos burocráticos levou a algumas perdas importantes, diz Bastos. A empresa tinha 100 mil toneladas de soja em estoque, que não pode ser vendida imediatamente. Diante da demora, o preço da soja caiu no mercado e a qualidade do produto se deteriorou, o que fez com que se arrecadasse menos do que o previsto com essa venda. A conclusão das fábricas de Alto Araguaia e Carapó atrasaram por conta das chuva.
Os recursos obtidos com a venda de Marialva foram depositados em juízo e demoraram a chegar à empresa.
Por conta disso, esses ativos não geraram os recursos necessário para que a Agrenco tivesse um capital de giro de US$ 30 milhões, que conforme estabelecido no acordo, liberaria os US$ 50 milhões previstos no acordo operacional acertado com a parceira Glencore.
Bastos informa que está perto de fechar um acordo coma Glencore que liberará os US$ 50 milhões necessários para a as operações em Araguaia serem retomadas — a solução deverá ser divulgada nos próximos dias.
A advogada da Agrenco Holding, Lucia Figueiredo , afirma que a unidade de Alto Araguaia estava em condições de funcionar e gerar receitas desde o primeiro trimestre de 2008, quando a unidade funcionou a todo vapor exportando toda produção.
Bastos alega que os valores exportados pela unidade em em 2007 e 2008 decorreram de suas atividades de trading, que se encerraram pela sua situação de insolvência, a qual levou à recuperação judicial.
Não há como retomar operações de trading numa empresa sem crédito, como é o caso da Agrenco Limited. A operação industrial em Alto Araguaia teve apenas um teste piloto, em condições precárias, que não gerou volumes nem resultados relevantes. Não podia mesmo ser diferente, já que no primeiro trimestre de 2008 referida planta estava em construção, sem dispor de tancagem suficiente para armazenar sua produção, sem sistema de tratamento de efluentes, sem portaria nem balanças de pesagem, sem laboratórios nem escritórios, sem casa de maquinas, sem acesso ferroviário.
Ana Paula Ragazzi