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Cadeia do biodiesel ainda exclui pequeno agricultor


Correio da Bahia - 05 mar 2008 - 06:42 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

Um dos pilares do programa brasileiro de biodiesel, a agricultura familiar ainda não atingiu o nível de desenvolvimento necessário na Bahia para garantir matéria-prima para as usinas instaladas. Apesar do estado abrigar 14% dos agricultores familiares do país, as duas usinas baianas em atividade, Brasil Ecodiesel (em Iraquara) e Comanche (Simões Filho) estão sendo abastecidas exclusivamente pela soja produzida por grandes agroindústrias do oeste baiano. Além de mais cara do que a mamona, o dendê e o girassol, a utilização da soja de grandes produtores exclui da geração do combustível “verde” um dos objetivos alardeados pelo governo federal: o caráter social de estimular os pequenos agricultores.

O gargalo da produção baiana de biodiesel está sendo criado principalmente pelo baixo volume de recursos destinados à agricultura familiar. Para o secretário estadual de Agricultura, Geraldo Simões, o volume teria que ser três vezes maior para que o ciclo social de produção do biodiesel se completasse.

Enquanto isso, 70 mil famílias de pequenos agricultores envolvidas no programa aguardam incentivo para incrementar a produção. O pacote inclui acesso a crédito, assistência técnica, pesquisas, modernização, capacitação e apoio à comercialização. “A produção é quase zero, não dá nem para o mercado interno”, frisou Simões, ontem de manhã, na abertura da primeira rodada de discussão sobre Biodiesel – inclusão social e desenvolvimento regional, promovida pelo governo estadual, em parceria com a Petrobras. O evento aconteceu na Fundação Luís Eduardo Magalhães.

Reconhecendo que o estado ainda não atende “nem de longe” a capacidade instalada da indústria Brasil Ecodiesel, em Iraquara, e Comanche, em Simões Filho, o secretário anunciou como meta a produção de 773 mil metros cúbicos de biodiesel em oito anos, o que representaria uma área plantada de 860 mil hectares. Para isso, espera que os recursos para a agricultura familiar pelo menos dobrem este ano, assegurando o viés de inclusão social do programa. A Bahia, segundo Geraldo Simões, é o estado que reúne as melhores condições para implementar o programa com sucesso, pois, além de concentrar 14% da agricultura familiar, tem um terço da população em área rural e dois terços do território no semi-árido, com vocação para várias oleaginosas.

Usinas - Segundo a coordenadora do programa de biodiesel da Bahia, Telma Andrade, da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), o estado já tem capacidade instalada para produzir 400 mil metros cúbicos por ano, com grandes perspectivas de alcançar a liderança no ranking nacional. O superintendente regional do banco do Nordeste, Nilo Meira, anunciou que o banco dispõe de R$200 milhões para incentivar a agricultura familiar na Bahia em 2008, com taxas de juros reduzidas. “E temos todo o interesse em participar do programa de biodiesel, pois vejo a agroenergia como uma forma sustentável de inclusão social”, declarou.

Petrobras em Candeias
A capacidade instalada do estado será ampliada ainda este ano, com a entrada em operação da primeira usina de biodiesel da Petrobras no Brasil, em Candeias, que entra em testes em maio. Segundo o gerente de implantação da unidade, George Luís Dias Melo, a empresa investiu R$78 milhões no projeto, com capacidade para processar 57 milhões de litros por ano, usando como matéria-prima algodão, dendê, mamona, soja, girassol e pinhão-manso. A previsão é que parte seja fornecida por seis cooperativas de agricultura familiar, sendo quatro de mamona e duas de girassol e dendê.

Uma evidência da importância estratégica dos biocombustíveis para a Petrobras, segundo Melo, foi a criação, anunciada segunda-feira (dia 3), de uma subsidiária exclusivamente com esse foco, ainda sem nome definido. “Nossa meta é alcançar níveis de excelência no controle do efeito estufa, o que passa pelo aumento do uso de fontes renováveis de energia”, enfatizou.

Usina de biodiesel da Bahia promete mais emprego

Emprego e renda para cerca de 28 mil famílias de agricultores no semi-árido baiano. Esta é uma das transformações sociais que a produção do biodiesel trará para a Bahia a partir do segundo trimestre, com a implantação e operação da usina da Petrobras, em Candeias.

No evento também foi anunciado pelo superintendente do Banco do Nordeste (BNB) na Bahia, Nilo Meira Filho, o investimento de R$ 200 milhões para apoiar a agricultura familiar no estado. “Como pensamos no uso do recurso de modo qualificado e o biodiesel se mostra sustentável, apoiamos mais este elo da agroenergia”, justificou, anunciando ainda a redução da taxa de juros, por meio de decreto presidencial, do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).

A garantia foi dado após o secretário da Agricultura, Geraldo Simões, ter afirmado que para produzir os 773 milhões de biodiesel previstos para os próximos anos, será preciso “buscar parcerias, investir na capacitação desses agricultores familiares, ampliar e melhorar a extensão cultivada, abrir linhas de crédito e mecanizar a agricultura”.