PUBLICIDADE
CREMER2025_novo CREMER2025_novo
Em Foco

Agrenco mantém foco na retomada


Valor Econômico - 15 out 2009 - 06:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:09

Enquanto acompanha os desdobramentos da "Operação Influenza", a Agrenco toca a vida. Embora em ritmo ainda mais lento que o pretendido, a empresa dá sequência às obras em suas duas unidades remanescentes de processamento de soja e produção de biodiesel, recebe o time da "parceira" Glencore que trabalhará na parte operacional da companhia e corre para conseguir, enfim, concluir seus demonstrativos financeiros referentes ao ano de 2008.

A operação da Polícia Federal que levou à prisão de cerca de 30 pessoas - entre os quais estavam diretores da Agrenco e seu fundador, Antonio Iafelice - não foi o início dos percalços da companhia - e sequer tinha as atividades da Agrenco como um fim em si -, mas adicionou nuvens negras a esse cenário. A empresa levantou R$ 666 milhões em sua oferta pública inicial de ações, realizada em outubro de 2007, mas parte considerável desses recursos foi direcionada para o pagamento de dívidas que a Agrenco já tinha.

A expectativa, contudo, era de obter R$ 1 bilhão, com os quais a empresa pretendia quitar débitos, investir em suas fábricas e, assim, estar em condições de recorrer a empréstimos de melhor perfil. A crise hipotecária nos Estados Unidos, que já se apresentava, e problemas financeiros de congêneres, como a Selecta, contudo, dificultaram a tarefa.

Se o acesso ao crédito já estava difícil, é de se supor que tenha ficado ainda mais atravancado com o envolvimento do nome da empresa em questões policiais. "Deixamos de receber muito crédito tributário aos quais tínhamos direito", diz Marco Antonio de Modesti, que desde 2008 acumula as funções de presidente e diretor de relações com investidores da Agrenco. "Temos quase R$ 100 milhões em créditos acumulados de PIS, Cofins e ICMS para receber. Foi um dos motivos para os credores não terem deixado a empresa quebrar". A Justiça aprovou o pedido de recuperação judicial da companhia em setembro de 2008. Neste ano, os credores o referendaram.

Como a empresa permanece com atividades operacionais em suspenso, ela tem conseguido pagar despesas cotidianas, como os salários dos funcionários, com a liquidação de recebíveis, cobrança de contratos em aberto e com o desembaraço de contas na Justiça, bloqueadas nos momentos mais agudos da crise da empresa.

A Operação Influenza levou à apreensão de documentos da companhia, o que foi um dos motivos para ela ter atrasado a publicação dos balanços - o mais recente é o do primeiro trimestre de 2008. A apreensão somou-se ao fato de que, a certa altura, faltou pessoal para apurar os demonstrativos. Muitos funcionários deixaram a empresa ao longo da crise - em 2008, eram 580 funcionários; atualmente, cerca de 200. Os demonstrativos também atrasaram por falta de pagamento à KPMG, que presta consultoria à empresa. A Agrenco pretende concluir o balanço de 2008 ainda neste mês.

A empresa está ainda próxima de ter acesso aos recursos da venda da unidade de Marialva (PR) para a BSBios. Esse dinheiro, mantido em conta judicial, será usado para a conclusão das fábricas de Caarapó (MS) e Alto Araguaia (MT). O pedido para a liberação já foi feito à Justiça, afirma Modesti.

Patrick Cruz, de São Paulo

Tags: Agrenco