Biodiesel no Brasil: Produção Científica e Geração de Tecnologia
Resolvi retomar a discussão
sobre Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) na área de biodiesel no Brasil
após obter resultados inquietantes numa pesquisa na base de dados do Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Por reconhecer que CT&I
são essenciais para as suas economias, as principais nações desenvolvidas
investem em pesquisa importantes parcelas do seu PIB, tanto recursos públicos
quanto privados, e diversos países emergentes, como China e Coréia, vêm
seguindo com sucesso esta receita. No Brasil, há algumas décadas o governo
tenta fortalecer a CT&I com a criação de agências de fomento e aportes de
montantes crescentes de recursos, podendo-se perceber uma evolução significativa
na ciência brasileira nos últimos anos. Segundo o Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), a quantidade de trabalhos científicos publicados por
pesquisadores brasileiros deu um salto de 1.891 em 1981 para 13.328 em 2004, ou
de 0,44% para 1,8% da produção mundial (veja o site http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/2042.html).
No entanto, pesquisa que realizei no U.S. Patent and Trademark Office (USPTO, http://www.uspto.gov/patft/index.html)
mostrou que o numero de patentes concedidas pelo órgão para autores brasileiros
cresceu apenas de 24 em 1981 para 67 em 2004, ou de 0,03% para 0,08% do total.
Essa modesta produção tecnológica se deve a baixa interação entre as
universidades e o setor industrial. O fato de ser o governo o principal agente
de financiamento à pesquisa, com uma ausência quase total do setor produtivo,
parece ter desenvolvido a nossa ciência dissociada dos gargalos tecnológicos
nacionais.
Como já salientei nesta coluna, o governo, via MCT, tem aportado
importantes recursos para a pesquisa dentro da Rede Brasileira de Tecnologia de
Biodiesel, que engloba pesquisadores de universidades, Embrapa e do setor
produtivo. No entanto, apesar desse esforço governamental, esta realidade da
ciência brasileira parece estar se repetindo na área do biodiesel. Numa
pesquisa na base científica SCOPUS (www.scopus.com) com a palavra-chave
“Biodiesel” encontrei 1796 artigos científicos e 675 patentes internacionais.
Refinando esta pesquisa com o país dos autores, descobri que a nossa relação de
artigo publicado/patente depositada foi de 36/6, enquanto que a dos Estados
Unidos foi de 299/267, a da Franca 21/22, a da Alemanha 69/148 e a da Itália
34/22. A nossa produção de artigos comparada
aos demais países, exceto Estados Unidos, é bastante similar, mostrando que
nossos pesquisadores são competitivos em relação aos seus pares do primeiro
mundo. No entanto, o baixo número de patentes evidencia a nossa dificuldade em
traduzir ciência em tecnologia. Mais preocupante ainda foi a pesquisa que
realizei no INPI, com a palavra-chave “biodiesel”, quando constatei que dos 26
registros de patente, apenas 12 eram de pesquisadores brasileiros.
Parece que não estamos usando a nossa capacidade de produzir conhecimento
científico para desenvolver tecnologia, o que é extremamente preocupante, pois
poderemos, mais uma vez, ficar dependentes tecnologicamente. Lembrando que os
principais fornecedores nacionais de plantas de biodiesel usam processos
licenciados da Europa e Estados Unidos, cheguei à conclusão que essa
dependência pode já estar se concretizando. Felizmente existem exemplos
louváveis onde o investimento do setor produtivo em grupos de pesquisa teve
como resultado o desenvolvimento de uma tecnologia nacional adequada para a
empresa. Para ilustrar, gostaria de citar a parceria entre a Agropalma e o
grupo do Prof. Donato Aranda da UFRJ, que resultou no desenvolvimento de um
processo inovador para produzir biodiesel a partir de matéria-prima de baixo
valor agregado. Essa tecnologia, patenteada no Brasil e no mundo, ilustra bem
como a interação entre o setor produtivo e a universidade pode gerar soluções
tecnológicas criativas para o nosso desenvolvimento industrial.
Paulo Anselmo Ziani Suarez é engenheiro
químico, colunista BiodieselBR.com, com pós-doutorado pelo National
Center for Agricultural Utilization Research dos Estados Unidos. Saiba mais sobre o autor.
E-mail: psuarez@unb.br