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Liv Soares Severino

Como a Índia tornou-se Líder Mundial na Produçao de Mamona


Liv Soares Severino - 17 jul 2006 - 20:48 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

No início da década de 1970, a produtividade das lavouras de mamona indianas girava em torno de 300 kg/ha, enquanto no Brasil se produzia mais que o dobro disso. Hoje, passados mais trinta anos, a principal região produtora daquele país consegue produtividades médias próximas a 2.000 kg/ha, enquanto no Brasil elas permaneceram estacionadas nos mesmos patamares.

O investimento em tecnologia de produção agrícola é responsável pela maior parte desse sucesso. A Índia dispõe de um grande e bem equipado centro de pesquisa que conta com cerca de trinta pesquisadores dedicados quase exclusivamente a esta cultura. Em 1968 foi lançado o primeiro híbrido (GCH 1) que permitiu um avanço considerável na produtividade e desde então diversos novos materiais foram disponibilizados aos produtores. O híbrido mais recente, além de alta produtividade e boa adaptação, possui grande tolerância às principais doenças presentes naquele país.

“Em  apenas três décadas, a Índia passou da terceira para uma destacada primeira posição mundial na produção de mamona. O investimento em pesquisa foi a chave do sucesso.”
O óleo de mamona historicamente apresenta grande volatilidade de preço, o qual pode variar de 500 a 2.000 US$/t. No Brasil, onde o plantio ainda é feito com baixa tecnologia, a atividade torna-se inviável quando o preço do óleo passa por uma fase de baixa, enquanto na Índia, principalmente devido à tecnologia agrícola, os produtores são capazes de produzir de forma viável mesmo nos períodos de baixo preço do óleo.

O alto preço do óleo de mamona é o principal entrave ao seu uso como matéria prima para biodiesel, mas deve-se compreender que os preços são altos porque o mercado desse óleo ainda é muito pequeno (cerca de 0,5% do mercado mundial de óleos vegetais) e, por ser usado predominantemente como ingrediente minoritário em produtos de alto valor, a indústria suporta preço alto. Pensando em médio prazo, a cultura tem enorme potencial para aumento de produtividade e redução nos custos de produção, o que permitiria que o preço do óleo se estabilizasse em patamares mais próximos dos demais óleos vegetais.

A cultura da soja é um exemplo do resultado de décadas de investimento em pesquisas que deram ao Brasil um nível tecnológico tão avançado quanto o dos países mais ricos. A mamona e o pinhão manso seguirão os mesmos passos. Hoje, essas duas culturas são apresentadas como grandes promessas, mas ainda não aprendemos a explorar seu potencial. Certamente, dentro de algumas décadas teremos materiais genéticos de alta produtividade de óleo, adaptados a diversas regiões do país e com um sistema de produção bem estabelecido que permita produzir óleo a baixo custo e em grande volume.

Liv Soares Severino, é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Ceará, mestre em fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa, pesquisador em sistemas de produção na Embrapa.
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