Como a Índia tornou-se Líder Mundial na Produçao de Mamona
No início da década de 1970, a produtividade das lavouras de mamona indianas girava em torno de 300 kg/ha, enquanto no Brasil se produzia mais que o dobro disso. Hoje, passados mais trinta anos, a principal região produtora daquele país consegue produtividades médias próximas a 2.000 kg/ha, enquanto no Brasil elas permaneceram estacionadas nos mesmos patamares.
O investimento em tecnologia de produção agrícola é responsável pela maior parte desse sucesso. A Índia dispõe de um grande e bem equipado centro de pesquisa que conta com cerca de trinta pesquisadores dedicados quase exclusivamente a esta cultura. Em 1968 foi lançado o primeiro híbrido (GCH 1) que permitiu um avanço considerável na produtividade e desde então diversos novos materiais foram disponibilizados aos produtores. O híbrido mais recente, além de alta produtividade e boa adaptação, possui grande tolerância às principais doenças presentes naquele país.
O alto preço do óleo de mamona é o principal entrave ao seu uso como matéria prima para biodiesel, mas deve-se compreender que os preços são altos porque o mercado desse óleo ainda é muito pequeno (cerca de 0,5% do mercado mundial de óleos vegetais) e, por ser usado predominantemente como ingrediente minoritário em produtos de alto valor, a indústria suporta preço alto. Pensando em médio prazo, a cultura tem enorme potencial para aumento de produtividade e redução nos custos de produção, o que permitiria que o preço do óleo se estabilizasse em patamares mais próximos dos demais óleos vegetais.
A cultura da soja é um exemplo do resultado de décadas de investimento em pesquisas que deram ao Brasil um nível tecnológico tão avançado quanto o dos países mais ricos. A mamona e o pinhão manso seguirão os mesmos passos. Hoje, essas duas culturas são apresentadas como grandes promessas, mas ainda não aprendemos a explorar seu potencial. Certamente, dentro de algumas décadas teremos materiais genéticos de alta produtividade de óleo, adaptados a diversas regiões do país e com um sistema de produção bem estabelecido que permita produzir óleo a baixo custo e em grande volume.
Liv Soares Severino, é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Ceará, mestre em fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa, pesquisador em sistemas de produção na Embrapa.