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Décio Luiz Gazzoni

Tendências transformando-se em realidade


Décio Luiz Gazzoni - 08 jul 2010 - 14:55 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:13

Há uma década o celular pesava 500 gramas, praticamente só podia ser utilizado na cidade ou no estado de origem, e falar do exterior nem pensar! Para acertar as suas configurações, só um expert. Hoje, um celular pesando 50 gramas nos acompanha a qualquer parte do mundo, sem ficar surdo ou mudo. Detalhe: telefonar é apenas uma das 100 funções que o pequeno aparelho executa, e sua manipulação é intuitiva.

Também há uma década, o cidadão que alertasse para o brilhante futuro da química verde ou da energia renovável era comparado a Don Quijote de la Mancha, o inesquecível personagem de Miguel Cervantes y Saavedra.

Não mais! Até o país paradigma dos velhos negócios - da velha química e da velha energia – se rendeu aos ventos que sopram do futuro. O Governo dos Estados Unidos criou o Presidential Green Chemistry Challenge Award, cuja concessão é coordenada pela Environmental Protection Agency (EPA). O prêmio é tido como a maior honraria concedida na área ambiental, nos EUA.

O Presidential Green Chemistry Challenge Award foi instituído para distinguir tecnologias que contribuam significativamente para reduzir a poluição nos Estados Unidos, incorporando os princípios da química verde na concepção, fabricação e uso de produtos químicos. Os vencedores deste prestigioso prêmio são selecionados por um painel internacional de peritos convocada pela American Chemical Society.

Química Verde - também conhecida como química sustentável - é uma filosofia de pesquisa química e de engenharia de processos, que incentiva o design de produtos e processos que minimizem o uso e a geração de substâncias perigosas. Isso inclui o uso de matérias-primas sustentáveis e processos de produção mais eficientes, desde que os processos sejam tecnica e economicamente viáveis.

Entre os vencedores do prêmio deste ano destaca-se a LS9 Inc., uma empresa de base biotecnológica, com sede em San Francisco (Califórnia). A razão objetiva para a concessão do prêmio é o conjunto de tecnologias desenvolvidas pela empresa, que permitem a obtenção de biocombustíveis e outros produtos químicos, com baixa emissão de carbono. A tecnologia foi patenteada com o nome Renewable Petroleum™ e permite transformar material orgânico, especialmente derivados de vegetais, em biocombustíveis e outras especiarias químicas.

LS9
A LS9 foi fundada em 2005 e recebeu financiamentos de risco de fundos como Flagship Ventures, Khosla Ventures, Lightspeed Venture Partners e Chevron Technology Ventures. A empresa também firmou uma parceria estratégica com a Procter and Gamble (mais informações em www.ls9.com). A companhia faz parte de uma nova tendência industrial, que utiliza biomassa como matéria prima e processos baseados em Biologia Sintética, para obter substâncias úteis à sociedade, com menor impacto ambiental.

A plataforma tecnológica da LS9, lastreada em futurísticas técnicas de Biologia Sintética, utiliza processos fermentativos para transformar matérias-primas renováveis em um amplo portfólio de produtos químicos, substituindo derivados da petroquímica, cuja principal característica são as baixas emissões de carbono. O portfólio inclui o UltraClean™ Diesel, para o qual a LS9 busca parceiro para fabricação no Brasil, e surfactantes, que serão comercializados por um parceiro estratégico (Procter and Gamble).

O UltraClean Diesel nada mais é que o substituto do petrodiesel, sobre o qual tenho escrito no Biodiesel BR. O diferencial da LS9 é que o produto obtido pelo seu processo fermentativo é um hidrocarboneto totalmente saturado (portanto, com maior densidade energética), enquanto outros biocombustíveis avançados e tecnologias de produção de substâncias químicas requerem passos adicionais em seus processos de produção. De acordo com a LS9, a tecnologia altamente eficiente de produção, constante de uma única etapa, lhe permite produzir combustíveis e produtos químicos que oferecem maiores benefícios ambientais sobre os produtos convencionais à base de petróleo, bem como em relação a outras tecnologias multi-passo utilizados na produção de biocombustíveis avançados.

Um detalhe interessante é que os processos fermentativos que produzem sucedâneos do petrodiesel não necessitam de destilação para sua separação, uma vez que o hidrocarboneto gerado é imiscível, criando fases distintas, que permite a separação por outros meios mais simples e mais baratos.

De acordo com os estudos disponíveis, o UltraClean permite uma redução estimada de 85% nas emissões de gases de efeito estufa quando comparado ao diesel de petróleo convencional. Além disso, está livre de benzeno, uma substância cancerígena geralmente associada ao petrodiesel. E também de enxofre, que é o precursor da chuva ácida, causada pela emissões de compostos sulfurados durante a queima de combustíveis fósseis.

O futuro
O reconhecimento da LS9 no Prêmio de Química Verde sinaliza que é só uma questão de tempo até que empresas estejam fornecendo combustíveis renováveis e outros produtos químicos, substitutos de derivados de petróleo, com baixas emissões de carbono. São os sinais dos novos tempos, os ventos que sopram do futuro.

Conforme os novos processos passam da fase de concepção laboratorial para as etapas de protótipo e pré-industrial, vão sendo delineados os contornos de uma nova fase de negócios. A partir de biomassa, que pode ser produzida em larga escala, a baixo custo e com processos sustentáveis, podem ser obtidos biocombustíveis avançados e outros produtos da química fina.

No caso dos biocombustíveis, a partir de plantas com alta capacidade de produção de biomassa (cana, florestas, pastagens, sorgo) ou de algas, é possível obter substâncias químicas com as mesmas propriedades físico-quimicas do petrodiesel, da gasolina ou da querosene. Com isto, abrem-se os portões do futuro, com a produção de sucedâneos que os substituirão no médio prazo. Esta visão de futuro é muito importante, porque este deverá ser o paradigma dominante na década de 20. Quem quiser se candidatar a ser protagonista neste futuro, deve se preparar desde já para trilhar este novo caminho.

Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

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