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Relatório de reunião sobre o pinhão-manso


Renato Carvalho - IICA - 15 jun 2009 - 08:42 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:08

I Reunião de Avanço pela “Rede Jatropha Latino-Americana e do Caribe”

Durante os dias 26 a 30 de maio, ocorreu nas cidades de Brasília/DF e Janaúba/MG, a “I Reunião pela Rede Jatropha Latino-Americana e do Caribe”, iniciativa fomentada entre várias instituições de pesquisa e desenvolvimento da América Latina e do Caribe. A Rede Jatropha visa circular conhecimento sobre a cultura do Pinhão Manso (Jatropha Curcas L.) para a produção de biodiesel, consolidando um banco de germoplasmas caracterizado e com elevada diversidade genética, levando em consideração o intercâmbio de informações e a inserção da agricultura familiar.

O relatório abaixo descreve o acompanhamento pelo IICA Brasil durante toda a reunião, ressaltando os principais pontos de relevância de todo o circuito para a consolidação da Rede Jatropha LAC.

Data e local dos encontros
26.05.2009: Embrapa Sede;
27.05.2009: Embrapa Cerrados;
28:05:2009: Viagem a Janaúba/MG;
29.05.2009: I Circuito Nacional Dias De Campo Sobre a Cultura do Pinhão Manso (Jatropha Curcas L.);
30.05.2009: Retorno a Brasília/DF.

26/05/2009
Reunião de Apresentações – Embrapa Sede
A primeira reunião teve início com a apresentação do Sr. Frederique Durães, Chefe Geral da Embrapa Agroenergia, que destacou a atual situação do biodiesel no Brasil, os gargalos e entraves das culturas utilizadas como matérias primas e outras considerações importantes sobre a matriz energética atual e sobre as usinas.

Integrantes da Rede Jatropha LAC com os pesquisadores da Embrapa no campo experimental de pinhão manso na Embrapa Cerrados
Integrantes da Rede Jatropha LAC com os pesquisadores da Embrapa no campo experimental de pinhão manso na Embrapa Cerrados

Alguns pontos importantes da apresentação do Sr. Durães foram as questões quanto as viabilidades e inviabilidades das culturas. “Atualmente, cerca de 80% da produção de biodiesel é produzido com óleo de soja, e infelizmente por pelo menos até 5 anos, continuará assim”, destacou o Chefe Geral da Embrapa Agroenergia. O Sr. Durães também abordou a falta de tecnologia e manejo para a maioria das oleaginosas, ao ponto de ser viável uma produção de biodiesel em larga escala.

Em seguida as apresentações foram coordenadas pelo Secretário Executivo do PROCITROPICOS/IICA, Jamil Macedo, que descreveu o Programa Cooperativo de Pesquisa e Transferência de Tecnologia para os Trópicos Sul-Americanos – PROCITROPICOS. Essa fase foi fundamental por descrever o início da formação da Rede Jatropha da América Latina e Caribe e seus objetivos.

A apresentação seguinte foi realizada pelo Pesquisador da Embrapa Agroenergia, Bruno Galvêas Laviola que abordou as experiências da Embrapa com o cultivo do Pinhão Manso e a participação da Embrapa Agroenergia na Red Jatropha LAC. O Pesquisador destacou pontos interessantes como, por exemplo, as características apresentadas pelo pinhão manso que tornam positivas as perspectivas para sua consolidação como matéria prima para produção de biodiesel. São elas:

O alto potencial de rendimento de grãos/óleo (> 1.500 kg/ha óleo);
Compatibilidade com o perfil da agricultura familiar e sem interferência na questão alimentar;
Cultura perene, resistente com forte adaptabilidade de longevidade
Jatropha LAC
A conclusão da apresentação de Bruno Laviola foi fundamental para se ter informações mais técnicas e objetivas sobre as metas almejadas com a conclusão dos trabalhos da Red Jatropha LAC. As informações sobre o banco de germoplasmas da Embrapa Cerrados foram apresentadas nessa etapa e as principais características observadas foram insumos valiosos para efeitos de comparação com os avanços das instituições e iniciativas dos parceiros presentes da América Latina e Caribe.

As apresentações seguintes foram as dos parceiros das instituições dos outros países. O Sr. Luis Campuzano – CORPOICA demonstrou os avanços na Colômbia, ressaltando que o óleo extraído da palma ainda é um dos mais promissores em sua região. A apresentação do Sr. Ronal Echeverría – INICA Perú, chamou atenção pelos avanços nas constatações de pragas e enfermidades que tem afligido o pinhão manso.

Os valiosos conteúdos demonstrados nas apresentações foram bastante específicos e com forte embasamento técnico, sendo concluídos apenas no dia seguinte. O que pôde ser observado nas apresentações é que, em uma perspectiva geral, os países que formam a Red Jatropha, caminham lado a lado em termos de estudos e experiências, apesar de alguns mais avançados ou especializados do que outros. Essa sincroniza permitiu todos os participantes alinharam os estudos que cada instituição de pesquisa de seu país avançou e traçar paralelos rumo a consolidar da Red Jatropha LAC.

27/05/2009
Experiência de Campo – Embrapa Cerrados
O segundo dia de reunião foi marcado pela visita à Embrapa Cerrados, unidade da Embrapa que, em parceria com a Embrapa Agroenergia, mantêm o maior banco de germoplasmas de pinhão manso do Brasil. O banco, que abriga mais de 200 espécies de diferentes regiões do Brasil e algumas do exterior, foi o foco da visita deixando os participantes da Red Jatropha à vontade para obter informações dos Pesquisadores da Embrapa e realizar análises sobre as amostras.

A pesquisa começou desde dezembro de 2008 a partir do plantio das espécies, e apesar de estar longe dos estudos serem concluídos (perspectiva para pelo menos 5 anos), após a primeira maturação, algumas constatações foram realizadas:
Jatropha LAC
O número de espécies diferentes mostrou diversas especificações que estão permitindo encontrar as melhores qualidades de cada genótipo;
A suscetibilidade a algumas pragas e enfermidades das várias espécies foi observada pelos atores da Red Jatropha, constatando que apesar de todas terem sido afetadas, principalmente pela praga Oidio, algumas espécies mostraram forte resistência;
O solo não favoreceu muito à produção, a maioria delas em sua primeira maturação deram poucos frutos. Esse fator evidencia que o solo do cerrado precisa de um manejo mais cuidadoso para uma maior produção.

A visita também incluiu o campo experimental de pinhão manso da Embrapa Cerrados. Esse campo, mais antigo, possui um ano e meio de existência e reúne espécies mais nativas, colhidas de plantadores comuns visando testar sua produtividade e desempenho em diferentes solos sem auxílio de manejos mais especializados.

O próximo passo da visita incluiu conhecer um campo experimental de dendê irrigado que a Embrapa Cerrados acompanha há três anos O pesquisador Nilton Junqueira, da Embrapa Cerrados, explicou a natureza da pesquisa com quatro cultivares de origem africana. A chave da pesquisa é o fato das palmeiras estarem plantadas a 1080 metros de altitude, procurando desmistificar o desempenho das espécies nestas condições, onde supostamente elas não produziriam.

A experiência de campo foi vital para todos os envolvidos da Red Jatropha constatarem de forma tangível os avanços do Brasil através da Embrapa na cultura do pinhão manso. As próprias experiências latino-americanas e do caribe de cada participante foram de muito valor para o cruzamento de conhecimentos e começar a definir pontos em comum para evitar erros já cometidos e constatações já realizadas.
jatropha LAC
A questão da poda continua ainda ser uma incógnita a ser pesquisada, pois apesar de alguns colaboradores da Red Jtropha terem defendido seu uso, o Pesquisador da Embrapa Bruno Laviola não aconselha a prática nas espécies do banco na Embrapa Cerrados, pelo menos por enquanto. A necessidade de poda será visualizada nessa fase inicial, pois sua antecipação poderá trazer conseqüências negativas à experiência, como baixa produtividade ou morte da planta, por causa da concentração de pragas e solo não muito rico.


28 e 30/05/2009
Viajem à Janaúba/MG – Visita à Fazenda em João Pinheiro/MG (28/05/2009)
A segunda etapa da reunião foi a viagem até Janaúba/MG, onde tem havido diversas experiências com o pinhão manso e onde será sediado o I Circuito Nacional Dias de Campo Sobre a Cultura do Pinhão Manso. Mas no caminho foi realizada uma visita à fazenda do Sr. José Francisco na cidade de João Pinheiro/MG, que começou a investir na cultura do pinhão manso à partir do zero e com pouco incentivo de outros produtores que não viam com perspectivas positivas investir em uma cultura não muito conhecida.

Mas o espírito empreendedor falou mais alto e José Francisco decidiu arriscar e começou a investir na cultura. Conseguiu fazer bons contatos com instituições de pesquisa de países da África e Espanha onde tem nos últimos meses destinado a colheita de seus 10 mil hectares plantados de pinhão manso para essas instituições que estão realizando estudos de aprimoramentos genéticos.

Hoje comenta que a lucratividade da cultura é satisfatória, apesar de ainda haver necessidade de aperfeiçoamento do manejo para a colheita, o trator que utilizam não consegue colher os frutos mais altos tendo que alternar entre a colheita mecanizada e manual. “Esses 10 mil hectares de pinhão manso estão trazendo mais retorno que os outros 30 mil hectares de outras culturas que possuímos”, concluiu José Francisco.

29/05/2009
Viajem à Janaúba/MG – I Circuito Nacional Dias de Campo Sobre a Cultura do Pinhão Manso
O I Circuito Nacional Dias de Campo Sobre a Cultura do Pinhão Manso foi o motivo que levou os participantes da Rede Japrotha a viajarem para a cidade de Janaúba/MG. O circuito começou como um encontro na parte da manhã, e contou na abertura com a participação de ilustres convidados, como o prefeito de Janaúba/MG, José Benedito Nunes Neto, o Coordenador Hemisférico de Biocombustíveis do IICA, Frederique Abreu e o Secretário Executivo do PROCITROPICOS/IICA, Jamil Macedo, ambos participantes da Rede Jatropha.

Os palestrantes do circuito foram atores envolvidos direta e indiretamente na cultura do pinhão manso, escolhidos por já terem acumulado experiências sobre a mesma e estarem aptos a difundi-las. A primeira apresentação do circuito foi a do Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso, Mike Lu que falou sobre as perspectivas sobre a cultura abordando temas mais políticos, como a integração entre produtores e o governo, o apelo para um registro de cultivares e o cadastro de fazendas que atuam com a cultura.

O Prof. Ricardo Almeida Viégas apresentou as experiências com o pinhão na Fazenda Tamanduá, onde há avanços em estudos sobre aperfeiçoamento genético e defensivos próprios para a cultura, onde se destacou experimentos com óleo da própria planta que ao ser tratado com agentes emulsificantes se torna um eficiente defensivo para a planta.

O diretor da Biojan-MG Industrial Ltda, Nagashi Tominaga discursou sobre os procedimentos de podas, colheita e beneficiamento de sementes relatando muitas das experiências que seu complexo de cultivo, manejo, colheita e processamento trabalha diariamente. As recomendações para as podas anuais somente nas pontas da planta após época de seca mostrou mensuráveis avanços que suas atividades têm obtido. Outro destaque da apresentação de Tominaga foi uma colheitadeira adaptada para café, utilizada para colher pinhão-manso. A demonstração de seu uso foi realizada no período da tarde durante as atividades de campo do circuito.

Outra apresentação de destaque também foi a do Pesquisador da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, também envolvido na Red Jatropha. O pesquisador realizou uma apresentação que complementou a que foi apresentada na sede da Embrapa em Brasília, 3 dias antes. A abordagem técnica demonstrou ao público informações sobre manejo e adubação adequada, como também a melhor recomendação de nutrientes para se atingir alta produção e crescimento da planta.

As apresentações no geral foram bem específicas e objetivas quanto aos temas e foram muito enriquecedoras para os envolvidos na Red Jatropha, que puderam reunir esse conhecimento para estudar suas viabilidades em seus países. Mas o circuito não estaria completo sem a experiência de campo que ocorreu no período da tarde naquele mesmo dia.

Jatropha LAC

29/05/2009
Viajem à Janaúba/MG – Experiência de Campo
A visita ocorreu em parceria com a Biojan-MG Industrial Ltda, em Janaúba (MG), onde foram visitados os seus mais de 250.000 hectares de pinhão manso. Foram apresentadas informações sobre os aprimoramentos genéticos relatados pelo Sr. Tominaga durante o período da manhã do Circuito, como também a visualização e explicação da adaptação nas mudas da planta para se realizar a colheita de forma mecanizada.

A demonstração da colhedeira de café, adaptada para a cultura do pinhão manso foi uma experiência bastante interessante. A colhedeira avança sobre as mudas alinhadas na mesma fileira, cercando cada planta da fileira em seu interior que é “esbofeteada” por filetes plásticos onde a velocidade destes filetes depende da necessidade da colheita. Para frutos ainda verdes a velocidade deve ser maior para chacoalhar mais a planta, por exemplo.

Como os frutos que foram colhidos na demonstração estavam verdes, foi preciso uma maior velocidade de processamento da colhedeira para derrubar os frutos, o que causou alguns danos à planta. “Nada muito sério”, disse o operador da colhedeira, “em alguns dias a casca já estará cicatrizando, o único cuidado que devemos ter é proteger a parte ferida com defensivos para impedir enfermidades por pestes e ácaros”, completou.

A próxima etapa da visita incluiu conhecer o armazém de processamento das sementes colhidas. Foram apresentadas as duas esteiras responsáveis por separar as sementes dos frutos de pinhão manso. Os frutos são depositados em uma espécie de funil sofrendo uma pressão que destaca a semente de dentro dos frutos, que descem por uma esteira que se movimenta por um pequeno motor com correia. Esse movimento separa as cascas do fruto em uma direção e as sementes em outra. Esse processo obtém um aproveitamento de cerca de 80% das sementes, a repetição do processo aumenta essa estatística para 90%.

No final da tarde desse dia, a visita de campo foi concluída com os agradecimentos ao Sr. Tominaga, diretor da Biojan-MG Industrial Ltda, que propiciou a visita. Os participantes receberam um “saquinho” de sementes pela visita e um cordial “Arigatô” do Sr. Tominaga. A troca de experiências entre os participantes da América Latina e Caribe foi muito positiva e com expectativas otimistas sobre o futuro do projeto, cada um retornou para seu país, levando valiosas informações que vão ser vitais para o avanço da consolidação da Red Jatropha.

RECOMENDAÇÕES/OBSERVAÇÕES

O próximo passo que Embrapa dará sobre o banco de germoplasmas será o aprimoramento genético. Esse avanço será de suma importância para o sucesso da Red Jatropha, devendo ser acompanhado minuciosamente com todos os recursos que forem necessários;

A troca de experiências foi um acontecimento importante para a Red Jatropha, mas ela estará perdida se não for aplicada e registrada de alguma forma. Um meio de manter a troca de informações entre as reuniões e encontros da Red é a utilização de um fórum virtual ou portal virtual para cada colaborador de cada país atualizar os avanços em sua instituição e país para que as experiências trocadas se cruzem com as que já existem e não fiquem registradas somente no “antes”, mas sim também no “depois”.

O conhecimento dos vários atores da cultura e de seus trabalhos, também foi um trecho muito importante para a empreitada, pois permitiu a Red expandir sua iniciativa como também formar uma cadeia de contatos que vai ser muito útil em outras fases do projeto. Os avanços dos trabalhos desses atores também devem ser acompanhados e divulgados, como por exemplo, o modelo de colheita e processamento de sementes utilizado pelo do Diretor da Biojan-MG, Sr. Nagashi Tominaga e as experiências do Sr. José Francisco em sua fazenda em João Pinheiro/MG com seus 10.000 hectares de pinhão manso também carecem de acompanhamento. Um banco de cadastro das fazendas, usinas e industriais seria a ferramenta adequada para realizar um registro da iniciativa desses atores e seus avanços.

Uma recomendação também importante é a articulação com o governo. As políticas Públicas devem ser administradas com cuidado nesse tema, mesmo sendo favoráveis aos experimentos com o pinhão manso, isso pode ser visualizado pelo forte apoio que a Embrapa obtêm de outros órgãos para suas pesquisas, é preciso fazer muito mais do que a apoiar. Os órgãos competentes como o PNPB, o MDA, A ANP, entre outros, devem começar a preparar tanto a agricultura familiar, quanto o mercado de biodiesel desde já para as mudanças que a jatropha poderá provocar, não tão imprudentemente como aconteceu com a mamona, mas realista para mensurar racionalmente a inserção da cultura do pinhão manso na cadeia produtiva dos biocombustíveis criando mecanismos tangíveis para coordená-lo.

Renato Carvalho é consultor da área de Promoção do Comércio e da Competitividade do Agronegócio da Representação do IICA no Brasil

À esquerda, o especialista em Política e Agronegócios da Representação do IICA na Argentina, Federico Ganduglia e à direita o consultor da área de Promoção do Comércio e da Competitividade do Agronegócio da Representação do IICA no Brasil, Renato Carvalho.
À esquerda, o especialista em Política e Agronegócios da Representação do IICA na Argentina, Federico Ganduglia e à direita o consultor da área de Promoção do Comércio e da Competitividade do Agronegócio da Representação do IICA no Brasil, Renato Carvalho.