As estranhas matérias-primas do biodiesel
Coluna escrita por Joe Thompson, Gerente do laboratório de biodiesel da Universidade de Idaho e integrante do Programa Educacional de Biodiesel patrocinado pela USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).
O biodiesel é normalmente feito de soja, canola, óleo de cozinha reciclado ou gordura animal. No entanto, é possível fazer biodiesel com virtualmente qualquer tipo de óleo ou gordura.
Nos últimos 24 anos, nosso laboratório produziu biodiesel a partir de várias matérias-primas incomuns, como nogueira-de-Iguape (Aleurites moluccanae) e Croton, da África, abacate do México, karanja da Índia, cânhamo do Canadá, algas da Califórnia, amendoim do estado da Geórgia e pó de café usado do Starbucks local.
Provavelmente, a matéria-prima mais estranha com que eu já trabalhei até hoje foi a gordura da larva da mosca soldado-negra (Hermetia illucens). Nós recebemos as larvas de um homem do estado de Washington, que estava pesquisando a espécie em busca de uma forma de produzir fertilizante e biodiesel. As larvas alimentam-se de esterco, o qual transformam em fertilizante. À medida que crescem, as moscas acumulam gordura em seus corpos.
Nosso laboratório recebeu vários quilos dessa larva. Para conseguir o óleo nós fizemos a secagem delas num forno e em seguida colocamos em uma prensa mecânica para extrair a gordura. Foi um processo fedido e tivemos dificuldade para separar o óleo do resto das larvas. Talvez a extração por hexano tivesse sido uma opção melhor. Descobrimos que a gordura tem um alto índice de ácidos graxos livres – cerca de 80%. A teoria é que as larvas produzem em seus corpos uma enzima para quebrar a gordura e utilizá-la.
A foto abaixo mostra o biodiesel feito de óleo de café, de cânhamo (maconha), de karanja e da gordura da mosca.
Por que nos importamos em fazer biodiesel com todas essas matérias-primas estranhas? Às vezes somos contratados por alguma empresa para analisar o biodiesel de alguma matéria-prima específica, mas muitas vezes pode ser por pura curiosidade. Eu adoro ver como diferentes tipos de óleo e gordura viram formas únicas de biodiesel.
Algumas matérias-primas geram um biodiesel realmente bonito: o de cânhamo é verde fluorescente, e o de karanja é vermelho-claro. Alguns têm um cheiro gostoso: o biodiesel de coco parece perfume. Já outros têm propriedades interessantes: o biodiesel de mamona é tão espesso que não passa na especificação de viscosidade do biodiesel comercial, mas pode ser usado se misturado com um combustível de viscosidade mais baixa.
Recentemente, pegamos pó de café usado de uma lanchonete do Starbucks e extraímos o óleo com hexano (tem mais ou menos 10% de óleo).
Às vezes, o coproduto é interessante. Quando nós prensamos os amendoins para tirar o óleo, a torta saiu da prensa parecendo batata chips, só que feita de amendoim; uma delícia.
A foto abaixo mostra o biodiesel de óleo de peixe, de óleo de alga e de óleo de coco. Um tempo atrás, um sujeito do Mississippi nos enviou um barril de 200 litros daquela crosta de limo que se forma em lagoas e tanques. Não sei como ele coletou ou quanto o material se degradou até chegar aqui, mas o índice de ácidos graxos livres era de 85%. Não é pouco, de forma alguma. Na verdade, está servindo bem para uns novos processos que estamos experimentando agora.